
Sementes são símbolo de fertilidade para as plantas, mas nem sempre bem-vindas na hora de saborear uma fruta. Há pelo menos duas décadas, empresas, institutos e universidades pesquisam como reduzir ou eliminar o que, em termo geral, é o óvulo do vegetal fecundado.
Hoje, as frutas sem sementes – ou quase sem – se confundem com as variedades tradicionais nas gôndolas dos supermercados. Atendem a um perfil de consumidor que busca sabor, praticidade e não se importa em pagar um pouco mais por isso.
As variedades vendidas no Brasil são resultado de cruzamentos genéticos e de seleção natural, sem uso de transgenia – ainda em fase de pesquisa.
Neste ano, a alemã Bayer fez o lançamento da melancia Pingo Doce, com poucas sementes, cujos testes de plantio no país começaram há dois anos em General Câmara, na Região Carbonífera.
A suíça Syngenta também tem no portfólio uma melancia sem semente, trazida ao país em 2015. A marca Sonho Meu apresenta tamanho e aparência semelhantes às variedades tradicionais.
– Na Espanha, antes das melancias sem sementes, o consumo anual era de 3,5 quilos per capita. Hoje, é de sete quilos – detalha Leonardo Herzog, gerente de contas de melancia da Bayer.

E é justamente esse o objetivo das multinacionais: ampliar o consumo da fruta com as novas versões. Estima-se que, na Espanha, essas variedades representem 70% do mercado, segundo dados da Syngenta.
Nos Estados Unidos, o índice chega a 95%, de acordo com a National Watermelon Association (Associação Nacional de Melancia) e a totalidade do consumo na Austrália. No Brasil, o cultivo atinge apenas 2% da área plantada da fruta, segundo levantamento da multinacional suíça.
Um dos primeiros a apostar na variedade da Bayer, o produtor Gilberto Rambor, de Encruzilhada do Sul, no Vale do Rio Pardo, plantou 16 hectares com melancia sem sementes, de um total de 60 hectares. Ele diz que a produtividade e o manejo são praticamente os mesmos da convencional. O que muda é o preço da semente, que eleva o custo de produção entre 15% e 20%, compensado pelo retorno na venda.
– Esse tipo de melancia consegue atingir um mercado melhor pagador – detalha Rambor, que optou pela variedade justamente para atender a fornecedores mais exigentes.