No Rio Grande do Sul, não há estimativa de produção de frutas sem semente, mas as categorias mais difundidas são citros e uvas, com uma rede mais profissionalizada.
No Viveiros Weber, de Crissiumal, no Norte, as frutas sem sementes representam um terço das vendas de citros que, junto com as videiras, são o carro-chefe da empresa. O trabalho com essas cultivares começou em 2003 e, desde então, só cresce, mas, mesmo assim, há muito a desenvolver.
– Ainda existe pouco conhecimento por parte do consumidor sobre as facilidades das variedades sem sementes em relação às frutas tradicionais. Até as redes de supermercados, muitas vezes, não colocam o nome correto da variedade. E é importante para o comprador identificar o produto na gôndola – destaca Ernani Zimmermann, diretor comercial da empresa.
Produtora exclusiva de citros sem ou com poucas sementes, a Citrusul, de Rosário do Sul, comercializa tudo o que extrai dos 440 hectares plantados em quatro pomares. Neste ano, a estimativa é colher 13 mil toneladas nas 14 variedades, após 10 mil toneladas em 2017. Esse avanço é resultado da produção de novas árvores que começaram a gerar frutos. Para 2019, a projeção é chegar a 15 mil toneladas.
– Nós vendemos bem, porque as frutas têm sabores que não se encontram nas variedades comuns, sem contar a praticidade – diz Toni Gonçalves, gerente de produção da Citrusul.
Além de comercializar para todo o país, a empresa fundada em 2009 exporta cerca de 500 toneladas para Canadá, Rússia e Arábia Saudita.
Embrapa avança em genética e na evolução de variedades
O desenvolvimento do mercado de frutas sem sementes no Rio Grande do Sul tem relação direta com estudos realizados pela Embrapa Uva e Vinho, de Bento Gonçalves, e Clima Temperado, de Pelotas, em parceria com outras unidades da própria empresa e pesquisadores de universidades.
Enquanto avançam as investigações sobre o mecanismo molecular que forma a semente da uva, no sul do Estado uma nova cultivar de laranja de umbigo sem semente está prestes a ser lançada.
O avanço mais recente e significativo foi a manipulação do VviAGL11, gene determinante ao desenvolvimento da semente na uva. A equipe, liderada pelo pesquisador da Embrapa Luis Fernando Revers, conseguiu alterar a formação da semente injetando o DNA do gene em uma videira sem semente, restaurando parcialmente a formação da semente. E, em uma videira tradicional, foi desligado o gene e a semente diminuiu de tamanho. O artigo com o resultado da pesquisa foi publicado em janeiro na revista Plant Science. Segundo Revers, o trabalho complementou artigo publicado em 2017 que comprovou o papel do gene VviAGL11 para a semente na uva.
Nos citros, a Embrapa prepara o lançamento da laranja de umbigo BRS rubra cara, de cor avermelhada e sem sementes. É também uma planta ornamental. A variedade é uma mutação da cultivar cara cara, e deve estar disponível após a finalização do processo de proteção da planta, que garante o direito de propriedade intelectual.
Com essa tecnologia, conseguimos alterar a formação da semente, e mostramos a função do gene na planta, in vivo.
LUIS FERNANDO REVERS
Pesquisador da Embrapa Uva e Vinho
– Temos condições climáticas para produção de qualidade em citros sem sementes e hoje empresas gaúchas estão vendendo para outros Estados, inclusive o Nordeste – explica Roberto Pedroso de Oliveira, pesquisador da Embrapa Clima Temperado.
Da área total de citros no Estado, cerca de 10% – ou 4 mil hectares – são sem sementes. Destes, 3 mil hectares estão nas regiões da Campanha e Central, como em Rosário do Sul, São Gabriel, Santa Margarida e Cacequi.