Com dívidas acumuladas ao longo dos anos 2000, de passivos trabalhistas e tributários a não pagamento de associados e fornecedores por frustrações de safra ou problemas de gestão, a Cotrijui ainda figurava como uma das maiores cooperativas agropecuárias do Estado em 2014 – quando entrou em processo de liquidação voluntária (extrajudicial). O faturamento, na época, era superior a R$ 1 bilhão. De lá para cá, os negócios foram diminuindo ano a ano, não passando de R$ 350 milhões em 2017.
— O problema é histórico, não conseguimos reverter o quadro, e os associados se dispersaram. Com isso, nosso capital de giro foi ficando cada vez menor — afirma Eugênio Frizzo, ex-presidente liquidante, destituído do cargo na última segunda-feira.
O engenheiro, natural de Santo Augusto, ingressou na cooperativa em 2013, como diretor no mandato do conterrâneo Vanderlei Fragoso — candidato de oposição à gestão de Carlos Poletto, que comandou a Cotrijui por 18 anos.
A disputa, uma das mais acirradas da história da cooperativa, provocou um racha entre os associados.
— Houve proposta de uma gestão compartilhada entre os candidatos de situação, oposição e terceira via. Se o consenso tivesse ocorrido, talvez a situação fosse outra hoje — lamenta Rui Polidoro Pinto, sócio da cooperativa e na época presidente da Federação das Cooperativas Agropecuárias do Estado (Fecoagro).
Fragoso assumiu a Cotrijui prometendo dias melhores aos produtores, endividados e descontentes com os débitos acumulados — ao redor de R$ 1 bilhão até então. A principal ação foi entrar em liquidação extrajudicial.
O problema é histórico, não conseguimos reverter o quadro, e os associados se dispersaram.
EUGÊNIO FRIZZO
Ex-presidente liquidante
— O processo poderia ter levantado a cooperativa, se tivesse sido conduzido de forma efetiva, como em outros casos recentes — avalia Vergilio Perius, presidente da Organização das Cooperativas do Rio Grande do Sul (Ocergs).
Sem renegociar com credores e produtores e com uma gestão marcada por polêmicas, tendo diretores ganhando salários acima de R$ 40 mil, a Cotrijui viu sua dívida quase dobrar em quatro anos.
Liquidação será lenta, diz administrador judicial
Recém tomando pé da situação da Cotrijui, o administrador judicial Rafael Brizola Marques, indicado pela Justiça para comandar o processo de liquidação judicial, prevê um longo processo pela frente.
— Nosso papel será apurar as dívidas da cooperativa, montar uma relação de passivos, arrecadar, avaliar e alienar os bens para, então, pagar os credores. Em regra, é isso — explica Marques, que está com uma equipe mobilizada trabalhando no caso.
Isso não quer dizer que a Cotrijui deixará de operar em curto ou médio prazo, já que a intenção é maximizar o valor dos ativos. A decisão judicial busca levantar a real situação da cooperativa e avaliar a viabilidade econômica para pagamento dos credores.
As liquidações não costumam ter desfechos rápidos, e em casos complexos como o da Cotrijui, podem demorar ainda mais.
RAFAEL BRIZOLA MARQUES
Administrador judicial da Cotrijui
O administrador judicial pondera que esse é um processo atípico em razão da importância social da cooperativa para a economia da região noroeste do Estado.
— As liquidações não costumam ter desfechos rápidos, e em casos complexos como o da Cotrijui, podem demorar ainda mais. Não há como prever um prazo para que o processo chegue ao seu resultado final — completa Marques.
Pela ordem de pagamento, as ações trabalhistas serão as primeiras a receber, seguidas das garantias reais (hipotecas) e das cobranças tributárias. Por último estão os chamados credores sem garantias, onde se enquadram bancos, trades e produtores.