Símbolo do êxito do sistema cooperativismo gaúcho em décadas passadas, a Cotrijui vive uma encruzilhada. Mas, entre os caminhos possíveis, o mais provável é o mais pesaroso para a comunidade de Ijuí e municípios sob a influência da cooperativa que já ostentou o título de maior da América Latina. Afinal, que destino pode ter uma entidade que, a cada R$ 1 de ativos, deve R$ 2 e ainda tem, a cada ano, a credibilidade ainda mais manchada.
Pioneira em empreitadas como a construção de terminais para a exportação de grãos em Rio Grande, a Cotrijui – e seus milhares de sócios e funcionários – não sucumbe apenas por reflexos dos desarranjos macroeconômicos que no passado abateram outras pares no Estado. Talvez a solução para a Cotrijui – caso ainda mais sensível do que o de uma empresa em recuperação judicial pelo seu papel social – fosse menos difícil lá em 2014, quando entrou em liquidação voluntária. Mesmo protegida da execução de dívidas, sequer começou a se reerguer. O passivo aumentou, assim como a gestão, que prometia uma reviravolta a situação da cooperativa, desapontou. Para dizer o mínimo.
Produtores que cresceram sentindo-se protegidos entregando a produção na cooperativa têm dinheiro a receber, mas não há a certeza do reembolso. Muitos são pequenos e chegaram a pensar em atitudes extremas, mostra nesta edição a repórter Joana Colussi, que foi a Ijuí para contar esta história que vai da glória às portas da ruína.
Não bastasse o caos gerencial, a Cotrijui se desintegra por problemas que vão além de confusões administrativas. É o que aponta a operação deflagrada pelo Ministério Público (MP) do dia 26 de janeiro, com o cumprimento de 24 mandados de busca e apreensão na sede, em Ijuí, em outros municípios, em unidades e residências de pessoas ligadas à gestão, para investigar possíveis fraudes. A ação ficou a cargo do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco).
Os próximos capítulos da trajetória da Cotrijui ainda serão escritos, mas a liquidação judicial determinada semana passada tende a ser lenta, dolorosa, e com chances reduzidas de um fim feliz.