Sexo e Relacionamento

Paixão sem barreiras
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Elas maduras, eles mais jovens: a idade é só um número para esses casais 

Confira o relato (satisfeito) de parceiros que superam preconceitos e estranhamentos para ficarem juntos; pesquisadora nota aumento no número de relacionamentos assim

Loraine Luz

André Ávila / Agencia RBS
Ilda e Delmar, moradores de Nova Petrópolis, estão juntos há seis anos

A Ilda não é mãe do Delmar. A Thaís, em relação ao Pedro, também não. E a Juliana não está “criando” o Marcelo. É constrangedor (para não dizer grosseiro) começar o texto assim, mas foi intencional. 

O constrangimento é meu, e não deles – é exatamente isso o que sente quem, por um pré-conceito bem arraigado sobre como devem ser os casais, depara com a Ilda e o Delmar, a Thaís e o Pedro ou a Juliana e o Marcelo e, por causa da diferença de idade, sequer cogita duvidar da ideia imediata de que ali só pode existir uma relação maternal. 

Pesquisadora do tema, a antropóloga Mirian Goldenberg (autora de Por que os Homens Preferem as Mulheres Mais Velhas?) nota um número cada vez maior de mulheres e homens em relacionamentos com essa característica: 

— Não só porque se tornou mais legítimo, mas porque preconceitos ligados à idade estão caindo por terra. Quanto mais mulheres conquistam espaço e ganham a liberdade de fazer escolhas, e os homens também, mais as relações se tornam livres de estereótipos e preconceitos. Muitos me procuram e confirmam o que falo no livro: essas relações entre mulheres mais velhas e homens mais novos são muito mais satisfatórias. 

É exatamente isso que você vai encontrar nas histórias dos três casais entrevistados (e também no texto da jornalista e colunista de Donna Patrícia Pontalti): satisfação. E uma certeza: quando as duas pessoas estão seguras do que querem e do que sentem, a diferença de idade pode ser um problema, sim. Mas somente para os outros. Os possíveis “estranhamentos” de terceiros são encarados, hoje, pelos casais com leveza e bom humor.

— Você e sua mãe gostariam de uma mesa? — ouviu Pedro, logo na chegada a um restaurante. — Eu peguei a Thaís, dei um beijo bem gostoso e depois respondi: “Sim, minha mãe e eu queremos uma mesa — conta ele. 

A confusão se repetiu outra vez e, de novo, as manifestações explícitas de afeto foram uma estratégia do casal. Thaís explica: 

— A nossa atitude é fazer com que a pessoa se constranja, para ela não fazer mais isso. Mas nós não constrangemos. A gente não toma as dores pela pisada de bola dos outros. 

Ilda e Delmar também já precisaram responder se eram mãe e filho. Foi quando receberam em casa um profissional para consertar a máquina de lavar. 

— Expliquei que o Delmar era meu marido e ele ficou completamente encabulado. Ficou tão desconcertado que nunca mais voltou para terminar o trabalho, nem retornou minhas ligações — relembra ela. — As pessoas querem saber, mas nem sempre estão preparadas para a nossa resposta. 

Não dar resposta alguma diante de piadinhas foi o caminho escolhido por Juliana, durante uma reunião com colegas de faculdade do Marcelo: 

— Quando eu disse que tinha 40 anos, um amigo dele comentou que eu havia pego o Marcelo para criar e todo mundo riu — recorda ela. — Mas levei de boa. Comentei com o Marcelo depois, pois fiquei um pouco triste. Mas na hora levei no bom humor para não estragar a reunião.  

 

Amor sem idade: confira a reportagem completa


Thaís Medina e Pedro Borda / Arquivo Pessoal

Thaís e Pedro: encontro fulminante uniu casal que hoje mora em Barcelona 






Félix Zucco / Agencia RBS

 Juliana e Marcelo: um futuro sonhado junto 


André Ávila / Agencia RBS

Ilda e Delmar: a amizade que se transformou em grande amor 


Patricia Pontalti / Arquivo pessoal

Patrícia Pontalti: "A idade não define o amor" 

 




Relações com essa característica etária crescem

Entrevista com Mirian Goldenberg, autora de “Por que os Homens Preferem as Mulheres mais Velhas?” 

Wallace Cardia / Divulgação
A antropóloga Mirian Goldenberg

Seu livro é de 2017. As constatações que deram origem à obra seguem atuais? Superatuais. Continuo fazendo pesquisa com casais com diferença de idade e têm aumentado os casos nos últimos anos. Isso tem a ver com o fato de as mulheres terem conquistado muitas posições de poder, status e prestígio, por serem muito mais independentes. E, para esses homens, elas são admiráveis. O principal capital delas não é a idade, a juventude. É a independência, a maturidade, a leveza, a experiência. O que eles dizem é que elas ensinam muito a eles. Como as mulheres não dependem financeiramente de homens, buscam nessas relações qualidades como companheirismo, reconhecimento, reciprocidade, respeito, admiração. E encontram.

Por que a diferença de idade parece um empecilho maior para elas do que para eles? É mais difícil porque há um estigma, um preconceito nas próprias mulheres. Somos educadas para buscar parceiros superiores ou iguais, em termos sociais, econômicos, etários… Então, além de vergonha, elas são cobradas por mulheres. Vivemos numa cultura em que o corpo jovem é um capital, então, “o que vai acontecer comigo quando eu envelhecer mais? Ele vai me abandonar, vai buscar uma mais jovem?”. As mulheres que pesquiso têm essa insegurança.

Os casais que entrevistamos são, antes de tudo, amigos. Você acha que é só uma coincidência? Não. A amizade é um fator determinante nesses relacionamentos. A amizade, a confiança, a segurança… esses casais são fundamentalmente amigos e isso cria uma base sólida. Encontrei casais que estão satisfeitos há 20 anos, apesar dos preconceitos que precisam enfrentar.   




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