Um grupo de artesãs se uniu para produzir peças de roupas e acessórios em tricô e crochê às vítimas das enchentes no Rio Grande do Sul. Intitulado de Artesãs Solidárias, o projeto surgiu a partir do interesse de um time de profissionais de todo o Brasil que compartilharam com a colega gaúcha Patrícia Hagemann o interesse em colaborar com a região.
— Eu estava envolvida com voluntariado em Novo Hamburgo e, nesse meio tempo, comecei a receber mensagens de colegas dizendo: "Vamos fazer ações". O pessoal estava fazendo tricô pelo Brasil inteiro, então resolvi montar um grupo. Duas horas da manhã daquele dia já tinham 300 pessoas envolvidas — relata Patrícia, que está liderando o projeto ao lado das profissionais Sabrine Menezes, de São Vicente do Sul, e Janaína Perelló, de Campo Bom.
Patrícia relata que seu ateliê, em Novo Hamburgo, transformou-se em um ponto de distribuição de fios e agulhas para a confecção de meias, mantas, gorros, luvas, blusões, casacos, cachecol, polainas, entre outros. Ela passou a arrecadar os materiais para destinar a colegas interessados em produzir os itens. Além disso, conseguiu apoio de lojas pelo país para baratear os recursos que seriam utilizados nos donativos.
A partir dessa parceria, as artesãs produzem as roupas e os acessórios e as enviam às três lideranças do grupo no Estado, que ficam responsáveis por direcionar às pessoas atingidas.
— Com a liberação dos acessos, as peças vão chegando aqui em casa e vamos mandando para Novo Hamburgo, Santa Maria e Porto Alegre, por exemplo. Está existindo um grande movimento, as artesãs estão incansavelmente produzindo, dia e noite. A intenção é doar.
O desejo do grupo é continuar atuante mesmo quando a situação se normalizar no Rio Grande do Sul. Isso porque, segundo Patrícia, ações de solidariedade devem ser permanentes.
De quadradinho em quadradinho
Já o projeto Agulhas do Bem surgiu em 2016, em Santa Catarina, como uma ação voltada para a confecção de polvos de brinquedo em crochê, utilizados no tratamento de bebês prematuros em unidades de terapia intensiva.
Com o passar do tempo, o grupo de 30 artesãs expandiu o trabalho para a confecção de mantas, estilo colcha de solteiro, para destinar a asilos, abrigos e instituições de acolhimento. Por conta da tragédia climática no Estado, as produções solidárias do grupo foram redirecionadas.
A artesã Claudia Stolf é quem lidera o movimento e conta que as peças são produzidas a partir dos chamados "quadradinhos" de crochê, elementos que, quando unidos, formam uma manta colorida e única.
— As artesãs vão produzindo quadradinhos ao longo de todo o ano. E, geralmente, no mês de abril, nós começamos a montar as mantas de colo para doação. Esse ano, quando começamos a recolher e a se juntar para montar, iniciou a chuva no Rio Grande do Sul. Então, sentimos que deveríamos estar disponibilizando as produções para a região — conta.
Até o momento, foram destinadas 75 mantas ao território gaúcho. Acessórios e brinquedos em tricô e crochê também estão sendo enviados. Os itens são encaminhados a entidades que estão realizando o trabalho de arrecadação e distribuição aos afetados. Conforme Cláudia, cidades como Novo Hamburgo, Campo Bom, Canoas e Três Coroas já receberam os donativos.
— Como nós temos uma página nas redes sociais, artesãs do Brasil inteiro sentiram essa vontade de participar. Eu tinha eventos marcados em São Paulo na semana passada e as artesãs de lá tinham peças preparadas para doação. Muitas pessoas que eu nem sei de onde são estão mandando mensagens. Estamos recebendo quadradinhos, inclusive doações de fios e Pix de pessoas que não fazem tricô e crochê, mas querem ajudar. Cada um está ajudando de alguma forma — afirma a artesã.
Mobilização contínua
Os projetos Artesãs Solidárias e Agulhas do Bem são iniciativas apoiadas pela Círculo, indústria brasileira do segmento têxtil. Com sede localizada no município de Gaspar, em Santa Catarina, a empresa está atuando em diferentes frentes para prestar auxílio aos vizinhos.
De acordo com Osni de Oliveira Júnior, CEO da Círculo, a mobilização parte do sentimento de empatia com os gaúchos, uma vez que o estado catarinense também já sofreu grandes perdas em razão de alagamentos. Entre as ações realizadas, estão a prestação de suporte às lojas de aviamentos e clientes atingidos pela enchente, a bonificação de produtos e a doação de tecidos para artesãos, além de leilões, rifas beneficentes e venda de ebooks com verba revertida aos gaúchos.
A organização planeja realizar workshops nos abrigos ainda em atividade para o ensino de técnicas de artesanato, com o objetivo de oferecer uma possibilidade de geração de renda aos atingidos e uma opção de cuidado com a saúde mental.
— Nós sabemos o quão problemático é esse tipo de situação. E, nas dimensões do Rio Grande do Sul, muito mais. É uma forma de ter um trabalho daqui pra frente, de ocupar a cabeça nesse momento. É muito grande a importância social do artesanato. Agora, o caminho continua para a reconstrução — aponta Osni de Oliveira Júnior.
Como apoiar as iniciativas
- Artesãs Solidárias: é possível colaborar com a ação por meio de doação financeira, de fios para tricô e crochê e de peças prontas. Para mais informações, entre em contato com uma das líderes pelos perfis no Instagram @atelierpatriciahagemann, @tricodasabrine e @tecendoideiascomprofejana
- Agulhas do Bem: a ação está recebendo doação de Pix, além de quadradinhos e fios para tricô e crochê. Para mais informações, entre em contato com o projeto pelo Facebook Agulhas do Bem. A artesã Cláudia Stolf disponibiliza tutoriais de montagem de quadradinhos e mantas no YouTube, que podem ser utilizados como base para quem deseja produzir as peças
- Demais ações da Círculo: para mais informações, entre em contato com a página da Círculo no Instagram ou no Facebook
*Produção: Carolina Dill