Um dos métodos contraceptivos mais indicados por ginecologistas, o DIU (dispositivo intrauterino) tem se tornado cada vez mais popular entre as mulheres. Entre seus pontos fortes, saem na frente o fator praticidade (uma vez que não demanda um compromisso diário, como a pílula, por exemplo) e a segurança, já que apresenta taxa de falha abaixo de 1%.
Até pouco tempo atrás, eram apenas duas as principais escolhas das mulheres: o dispositivo de cobre e/ou prata (não-hormonal) e o de mirena (hormonal).
Recentemente, um novo item chegou aos consultórios e caiu no gosto de médicos e pacientes: o kyleena, que tem menos hormônio em sua composição e promete maior facilidade de inserção. Mas, afinal, o que o difere das outras opções? Quais são suas contraindicações? Conversamos com as ginecologistas Gabriela Rostirolla e Jessica Zandona para entendê-lo melhor.
Hormonal x não-hormonal
Antes de falar sobre o kyleena, vamos retomar as principais diferenças entre os DIUs hormonais e não-hormonais.
Os de cobre e/ou prata não têm hormônio em sua composição. Podem provocar mais cólicas e aumentar o fluxo menstrual em volume e dias de sangramento. Um dos seus diferenciais é estarem disponíveis gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Funcionam causando uma reação inflamatória no endométrio, tornando o ambiente desfavorável para uma gestação, explicam as médicas.
Já os DIUs mirena e kyleena possuem hormônio único, o levonogestrel. Esses dispositivos costumam reduzir o fluxo menstrual em dias e volume, além de diminuir a cólica. O hormônio mantém o endométrio fino, fazendo também com que seja desfavorável a uma gravidez. Além disso, deixam o muco cervical mais espesso, dificultando a subida dos espermatozoides. Esta liberação hormonal age de forma local, no endométrio, mas pode ter mínima absorção sistêmica, esclarecem as ginecologistas.
Diferenças mirena x kyleena
Os dois DIUs contêm o hormônio levonogestrel. Em bula, ambos podem ser usados por cinco anos e têm a mesma taxa de eficácia. São três pontos principais que os diferem:
1) Dose hormonal
O kyleena tem cerca de um terço da dose hormonal do mirena. Enquanto o mirena contém 52 microgramas do hormônio, o kyleena tem 19,5.
— Em relação à liberação diária, enquanto o mirena libera 20 microgramas, o kyleena libera 12. Então eu comparo que ele libera de 40 a 50% menos hormônio que o mirena — aponta a ginecologista Jessica Zandona.
A médica explica que a ideia de existir um novo DIU com menos hormônio é diminuir os efeitos colaterais do mirena, como a inibição do sangramento menstrual. Entretanto, ainda não existem estudos científicos suficientes que comprovem, na prática, que o kyleena tenha este resultado.
— Na prática, o que tem mais hormônio faz mais atrofia no endométrio, e isso faz com que a paciente tenha menor sangramento — resume a ginecologista Gabriela Rostirolla.
2) Doenças ginecológicas
Por falta de estudos, o kyleena também não é indicado para tratar doenças ginecológicas, tendo seu uso sugerido apenas como método contraceptivo. O mirena, entretanto, tem uma indicação mais ampla, podendo ser usado no tratamento de sangramento uterino anormal, endometriose e adenomiose, por exemplo. Além disso, é utilizado em mulheres na fase da menopausa que precisam fazer reposição hormonal e em quem busca ter um melhor controle do ciclo menstrual.
— Geralmente, usamos o mirena em mulheres mais velhas. A proposta do kyleena é para pacientes jovens, que nunca engravidaram, nunca fizeram uso de nenhum DIU e que querem um método digamos que no "meio-termo" entre o de cobre e o mirena — explica a ginecologista Gabriela Rostirolla.
3) Dor
Uma das maiores preocupações das mulheres que optam pelo DIU como método contraceptivo é a dor na hora de colocar o dispositivo. O kyleena, por ser um pouco menor e precisar de um insertor (aparelho que insere o DIU) mais fininho, tende a ter uma colocação menos dolorida. Também por esse motivo se adapta melhor em úteros pequenos, principalmente de mulheres que nunca tiveram filhos.
Antigamente, os DIUs eram uma opção recomendada principalmente para pacientes que já tinham engravidado. Hoje, a orientação é outra e o kyleena chega para reforçar a nova proposta.
— Brinco que o kyleena é o irmão mais novo do mirena, uma evolução. Acredito que, daqui um tempo, vão ter estudos que possam indicar o kyleena também para algumas situações em que só o mirena é indicado hoje. A grande questão de todos os DIUs, que chamamos de métodos reversíveis de longa duração, é sua alta eficácia. Temos uma baixa taxa de falha que não é impactada pelo uso da paciente, o que dá mais liberdade para essa mulher, que não precisa lembrar de tomar ou usar alguma coisa, além do conforto — conclui a ginecologista Jessica Zandona.
*Produção: Luísa Tessuto