Para a mulher, a chegada aos 40 anos marca o início de uma fase em que seu estilo de vida e sua saúde — incluindo possíveis comorbidades —, precisam ser olhadas mais de perto, afirmam especialistas ouvidas por Donna para esta matéria. A partir desta idade, há mais chances de se manifestarem sintomas iniciais de doenças já conhecidas pela mulher ou de predisposições genéticas para outras que ela desconhece, como no caso de problemas cardiovasculares — que naturalmente aumentam no público feminino nessa faixa etária —, de hipertensão e de doenças tromboembólicas, conforme explica a ginecologista Fernanda Grossi. Por essa razão, a revisão do método contraceptivo utilizado se faz necessária junto ao médico: hábitos de longa data e o quadro atual da paciente são os fatores que vão determinar qual é a opção mais adequada para sua faixa etária e seus anos futuros, que antecedem a menopausa.
Em muitos casos, a mulher precisará deixar de utilizar o método contraceptivo ao qual estava acostumada ou fazer alguma alteração em dosagem.
— Aos 40, a ideia é "vamos ver como é que tu estás”. Vamos ver como anda a saúde da mulher, como está a sua pressão, se está obesa, se fuma, se tem problemas com colesterol e triglicerídeos, alguma outra comorbidade, se faz exercícios ou se é sedentária. É a presença de outros fatores de saúde que determina o que será mantido pelo médico como método contraceptivo nessa fase. Pode usar um método hormonal? Se sim, qual o tipo de estrogênio mais adequado? Será que é melhor utilizar só progesterona? Tudo vai depender das suas comorbidades e estilo de vida — afirma Fernanda Grossi, que é coordenadora do serviço de ginecologia do Hospital Geral de Caxias do Sul.
A chave do momento é individualizar o tratamento e, se necessário, adaptá-lo para que os métodos contraceptivos não compliquem condições pré-existentes da saúde da mulher, não produzam tantos efeitos colaterais como subir a pressão arterial, aumentar varizes, aumentar risco cardiovascular, que são condições associadas ao uso de alguns métodos, dependendo do quadro de saúde da mulher.
— Há situações em que uma mulher que tem fatores de risco para doenças cardiovasculares, por exemplo, não pode fazer uso de estrogênio no seu método. Nesses casos avaliamos outras possibilidades que tenham menor impacto metabólico, como contraceptivo oral que contenha somente progesterona ou começar a pensar em utilizar o DIU — explica a ginecologista e obstetra Carla Vanin, da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre.
Para além disso, é preciso que os métodos continuem sendo eficazes em proteger mulheres que não desejam engravidar, já que, segundo Carla, embora as taxas de fertilidade entrem em declínio por volta dos 40 até a chegada da menopausa, a possibilidade de engravidar existe.
A chave é individualizar o tratamento e, se necessário, adaptá-lo para que os métodos contraceptivos não compliquem condições pré-existentes da saúde da mulher
CARLA VANIN
ginecologista e obstetra da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre
As médicas ressaltam: não há uma "receita de bolo". Cada caso precisa ser avaliado dentro de suas particularidades. E mesmo mulheres que não apresentam comorbidades e fatores de risco podem ser indicadas a utilizar métodos diferentes ou em dosagens menores que as empregadas até então, visando minimizar impactos metabólicos no organismo ao mesmo tempo em que a efetividade da contracepção é mantida.
Caminhos disponíveis
Existe uma série de métodos contraceptivos para a mulher disponíveis no mercado, sejam eles hormonais (as pílulas, os implantes, os DIUs hormonais como o Mirena e o Kailina) e não hormonais (como o DIU de cobre). Dentre os hormonais, explica Fernanda, os mais comuns são as pílulas anticoncepcionais baseadas em progesterona com etinilestradiol (que é um estrogênio sintético), ou baseados somente em progesterona. Algo relativamente novo no mercado também são as pílulas baseadas em estradiol (e não etinilestradiol), que é um composto mais natural pois se assemelha mais ao estrogênio que é naturalmente produzido pelas mulheres.
— Trabalhos têm mostrado que pílulas com estradiol são menos arriscadas do ponto de vista cardiovascular, e há caso em que podemos empregá-las em mulheres com até 50 anos. E temos ainda as progesteronas, que são ainda menos arriscadas do ponto de vista cardiovascular — afirma Fernanda.
Mulheres que não têm contraindicação e desejam utilizar um método não-hormonal tem como opção o DIU de cobre. Este método contraceptivo, no entanto, não impede a menstruação, diferentemente dos DIUs de hormônio, em que as mulheres tendem a parar de menstruar dentro de até um ano após a inserção.
Conforme o tempo vai passando e a menopausa vai se aproximando, a mulher entra numa fase de transição em que paciente e ginecologista podem começar a debater a possibilidade de fazer reposição hormonal.
FERNANDA GROSSI
ginecologista e coordenadora do serviço de ginecologia do Hospital Geral de Caxias do Sul
— O de cobre não tem nenhum componente hormonal e é excelente para mulheres que não querem usar hormônio. Mas este DIU pode aumentar sangramento e cólica menstrual. Já com os DIUs hormonais, para além da função anticoncepção, uma das indicações de bula do Mirena, por exemplo, é o tratamento de sangramento uterino anormal. E sabe-se que a mulher em fase climatérica, quanto mais próxima da menopausa, pode apresentar sangramento irregular, anormal, inesperado, pois há uma flutuação hormonal causada pela diminuição da produção ovariana — afirma Carla.
Conforme o tempo vai passando e a menopausa vai se aproximando, a mulher entra numa fase de transição em que paciente e ginecologista podem começar a debater a possibilidade de fazer reposição hormonal. Uma das alternativas na preparação para esse momento é empregar um método que possa continuar a ser usado mesmo nos primeiros anos da menopausa.
— Uma coisa interessante, nessa fase, é a inserção de Mirena ou do implante de progesterona, pois são métodos que, se ela (a mulher) entrar na menopausa nesse meio tempo, poderão ser continuados num caso de reposição hormonal — aponta Fernanda.