Há 17 anos buscando conhecimento que a possibilitasse atuar em consultório de uma forma que hoje se entende como saúde Integrativa, a nutricionista Daniela Feio, prestes a fazer 51, se apaixonou pelo tema da longevidade. Atualmente, seu foco é conduzir pacientes que "já compreenderam que a saúde é um caminho para o bem-estar espiritual, emocional e físico, um percurso de transformação".
— Envelhecer não precisa ser como se pensou por tanto tempo, uma escorregadia rua de mão única rumo a enfermidades e decadência — garante. — É preciso entender que estar vivendo com um amontoado de sintomas não é uma consequência do tempo, e sim uma consequência de nossas escolhas.
Pessoas com a mesma idade cronológica podem estar em diferentes estágios de envelhecimento. Um dos indicadores disso é a idade biológica, que difere do que diz o ano em que nascemos e pode ser conhecida por meio de exames.
— A partir daí, definimos um plano estratégico com o objetivo de, pelo menos, empatar a idade biológica e a idade cronológica. O primeiro passo é parear, depois trabalhamos em reduzir a idade biológica — explica Daniela, que é o próprio exemplo da aplicação de um novo lifestyle. — Minha transformação é fruto de conhecimento, e a mudança física aconteceu como consequência do tempo e da energia dispensados não apenas ao corpo, mas também à mente e ao espírito.
Confira entrevista:
O que determina a idade biológica de alguém? E como?
Existem estruturas chamadas telômeros nas extremidades dos cromossomos. São como relógios moleculares, e tecnologias disponíveis atualmente, através de exames moleculares (raspagem na boca para coletar células de mucosa), os usam como medida para determinar nossa idade biológica. Telômeros que ficam mais curtos a cada divisão celular ajudam a determinar quão rapidamente as células envelhecem e quando elas morrem, dependendo da velocidade do seu desgaste. O contrário também acontece: as pontas se alongarem. Então, envelhecer é um processo dinâmico que pode ser acelerado ou abrandado - e em alguns aspectos até mesmo revertido.
Telômeros mais longos significam uma aparência mais jovem? Menos rugas?
Eu diria que pode significar, sim, e que também pode não significar. Nosso metabolismo é uma cascata de processos. Existe uma coerência nessa cascata complexa. Mas por exemplo: se sabe que fumar reduz o tamanho dos telômeros e se sabe que o fumo causa rugas e se liga ao envelhecimento precoce. O importante é deixar claro que não se trata de matemática. Não tem como fazer relações diretas, como tamanho de telômero e estética.
Qual a sua idade biológica?
Conforme o último exame que fiz é de 32 anos. Mas não se trata de algo estático. Os exames feitos em laboratórios de genética não são uma sentença. Dependendo do que que se monitora, é recomendado que se faça uma vez por ano. Porque muda rápido. São os hábitos e estratégias de vida que podem fazer a mudança. A gente trabalha em vários níveis.
Pode dar exemplo em que foi possível reduzir a idade biológica de alguém?
Tem uma paciente que primeiramente a levei de 113 para 80 quilos. Nesse peso, fizemos o exame da idade biológica. Ela tem 52 anos e deu 70 anos. Continuamos a trabalhar novos hábitos. Oito meses depois repetimos o exame, então com 73 quilos. Deu 56 anos como idade biológica, quase empatando. O exame da idade biológica é uma ferramenta entre tantas que a gente usa, como a balança, os exames de sangue, para montar uma estratégia que inclui mudar o estilo de vida. E essa paciente é bem focada.
O que as pessoas acham que é ter longevidade e o que de fato é?
Ainda se vê longevidade como algo antinatural, como se você estivesse tentando interferir, "parar" o tempo. Apenas um século e meio atrás, a expectativa de vida era de 37 anos. Se desejarmos manter a vitalidade o maior tempo possível, não poderemos simplesmente depender da ordem natural que a evolução biológica nos dá. Eu sei... É um tema repleto de equívocos conceituais, pois nada tem a ver com "lutar contra o tempo", muito pelo contrário: você aprende a se tornar "aliado do tempo" e então usufruir dos já comprovados benefícios agregados a essa aliança. Longevidade para mim significa um ato de amor e fé no presente para com meu plano de vida.
A longevidade pode ser conseguida apenas com o que se coloca no prato?
Tem uma frase assim: "Muitos problemas podem se resolver se você retirar alguns tipos de pessoas, comidas e hábitos da sua vida". Logo, por mais colorido que possa ser esse prato, não será o bastante. Hoje sabemos que os telômeros não apenas executam os comandos emitidos por seus códigos genéticos. Eles estão "ouvindo" você. O modo como se vive pode dizer para eles apressarem o processo de envelhecimento celular. Mas a boa notícia é que também pode ocorrer o oposto.
Alimentação para uma vida longa
Não agrada a nutricionista Daniela Feio categorizar alimentos que colaboram para a longevidade. Não é tão simples quanto seguir uma lista, explica ela:
— Existem superalimentos com potencial de agregar saúde para nós, sim. Mas, diante das muitas possibilidades de personalizar uma conduta dietética, prefiro salientar que, de um modo geral, nosso sistema se agrada com a diversidade alimentar e se ressente com a monotonia alimentar.
Aliados do envelhecimento
Se o assunto for quais fatores que aceleram o processo de envelhecimento, aí, sim, é mais simples listar os inimigos a combater. Confira:
- Alimento ultraprocessado. Aqueles itens que "insistimos em chamar de alimento, mas que na verdade estão na categoria de produtos alimentícios", nas palavras de Daniela.
- Drogas e álcool
- Carência de vitaminas
- Consumo de bebidas açucaradas
- Depressão
- Exposição a substâncias tóxicas
- Falta de sono
- Poluição
- Sedentarismo
- Estresse
- Tabagismo