Por mais de duas décadas, o casarão na esquina da Rua Padre Chagas com a Dinarte Ribeiro era o destino certo de muitas noivas que sonhavam com o momento mais marcante antes do grande dia. Aquele em que, em frente ao espelho, experimentariam o vestido escolhido para cruzar a igreja em direção ao altar. Da calçada, já era possível ver uma amostra do que as esperava nas araras de um dos ateliês mais prestigiados da Capital: na vitrine, estava um dos cobiçados modelos de Solaine Piccoli.
Agora, o endereço da estilista dos sonhos é outro. Desde o final do ano passado, o ateliê deixou o ponto tradicional da cidade para ganhar um novo espaço no bairro Três Figueiras. Mais do que uma mudança física, a casa reflete o momento da grife, escolhida por mais de 5 mil noivas ao longo de 40 e tantos anos de história.
Na nova vitrine, que ocupa quase a metade da fachada, o vestido solitário de Solaine ganhou a companhia de outros três: são as criações das filhas Gabriela, Camila e Júlia. Um espaço, quatro estilistas.
– Toda manhã, quando chego e vejo a vitrine com nossos quatro vestidos, dá uma alegria! Meu coração parece... – emociona-se Solaine, com a voz embargada, sem conseguir completar a frase que facilmente adivinhamos o final:
– Sinto que cumpri meu propósito, meu sonho de ver minhas filhas fazendo o que gostam.
As criações sob medida de Solaine seguem como o carro-chefe, mas agora as araras abrigam também modelos criados pelas três filhas. Para a noiva que busca algo tradicional com um toque contemporâneo, os vestidos de Gabriela podem se tornar a escolha perfeita. Já as que procuram por algo mais descolado, provavelmente vão se encontrar nas peças de Júlia. Para as gurias que estão se preparando para a festa de debutantes, são os longos rodados de Camila que prometem agradar.
– Isso somou à marca, em vez de dividir. Quando vamos atender alguém, sentimos o estilo e direcionamos a uma das meninas – explica Solaine.
Mas, frisa a estilista-mãe, é cada vez mais comum que as noivas cheguem conhecendo o trabalho da Piccoli com quem se identificam – ainda que o costume de “marcar hora com a Solaine” siga forte. Coruja, a estilista entendeu como um sinal de que suas gurias não são mais as “filhas da Solaine”:
– As pessoas estão gostando do trabalho delas, e eu não preciso mais estar à frente de tudo.
Agora, as agulhas e linhas do ateliê são divididas por quatro, oficialmente.