Para a educadora parental Elisama Santos, sucesso na educação dos filhos é ensiná-los a encontrar soluções para lidar com os problemas deles. Autora do livro Educação Não-Violenta: Como Estimular Autoestima, Autonomia, Autodisciplina e Resiliência em Você e nas Crianças, a escritora baiana vem a Porto Alegre para o Encontro Parental no dia 9 de novembro.
A expressão no título do livro foi um termo criado para propor uma forma de educar que não é autoritária, tampouco permissiva, segundo a especialista. Elisama baseia-se em noções da Comunicação Não-Violenta e da Disciplina Positiva. Mãe de Miguel, sete anos, e Helena, cinco, garante que é possível educar sem punir e isso não significa deixar a criança fazer o que quer.
Ser firme e gentil é uma construção diária que exige paciência e tolerância com os erros – estamos falando dos erros dos pais ou cuidadores. O autoconhecimento de mães e pais é chave para uma prática não-violenta. Há cerca de três anos, Elisama viaja pelo Brasil conversando com famílias e cuidadores para ajudá-los a abandonar a cultura de supervalorização do castigo e a compreender e nomear as emoções de adultos e crianças.
Quem nunca disse um “não” para o pequeno e, logo após, testemunhou um beiço ou uma birra performática no chão? Esperar que uma criança reaja com serenidade a uma frustração é desconhecer sua capacidade emocional. É preciso alinhar suas expectativas com o que seu filho pode oferecer em cada fase do seu desenvolvimento.
Elisama recomenda prevenir situações de estresse. Vai levar o pequeno ao mercado? Explique o que vai fazer lá, como é o lugar e dê a ele uma tarefa (escolher as laranjas, por exemplo).
– Um ambiente com muita luz, muita gente, é muita informação para uma criança pequena. Se você dá uma missão a ela, seu cérebro foca em algo e fica menos estressado porque sabe o que tem que fazer – explica.
Quando a prevenção não funciona, pais e mães tendem a punir as crianças. Fomos criados assim, acostumados a motivar o outro pela dor, pela vergonha, observa Elisama. Mas o diálogo é uma alternativa ao castigo e à briga entre pais e filhos.
Se a criança começa a gritar e espernear depois de um “não”, é importante acolher seu sentimento e ajudá-la a compreender sua própria reação. Abraçá-la e dizer que você entende que ela esteja chateada é mais eficaz do que constrangê-la com frases como “você é feia, faz tudo errado, não devia chorar”.
Diálogo é fundamental
A psicanalista Renata Aspar Lima observa que essas frases ditas por adultos marcam as crianças. No seu consultório, com frequência, ela testemunha a indisponibilidade emocional de pais, que não se dedicam a brincar, conversar e, principalmente, ouvir seus filhos.
Embora não use a expressão educação não-violenta, a coordenadora do Comitê de Psicanálise de Crianças da Sociedade de Psicologia também defende o diálogo e o afeto como ferramentas na educação.
Bater ou gritar com alguém tão pequenininho também é difícil. Tem um peso emocional grande, ninguém tem prazer nisso.
ELISAMA SANTOS
Escritora e educadora
É por meio da conversa que se pode fazer acordos com as crianças. Em vez de exaltar-se e fazer ameaças como “se você bater de novo no amigo, nós vamos embora da festa”, experimente falar que seria muito mais divertido brincar e que ele pode escolher entre ficar e se divertir ou brigar com os outros e ir para casa. Assim você ensina que há consequências para seus atos, o que é diferente de punir ou recompensar.
Difícil? Elisama não nega. A escritora conta que seus filhos nunca apanharam nem receberam castigo, mas, como toda criança, fazem birra de vez em quando.
E ela, como toda mãe, às vezes grita ou usa palavras que não gostaria de dizer. Mas, quando alguém se queixa de que é muito difícil abandonar castigos e palmadas, ela tem uma resposta da qual, até hoje, nenhum pai ou mãe discordou:
– Bater ou gritar com alguém tão pequenininho também é difícil. Tem um peso emocional grande, ninguém tem prazer nisso.