Quem vê Duda Beat sobre o palco esbanjando autoconfiança, não apostaria que foi da fossa que a cantora surgiu. Por trás dela, há a pernambucana Eduarda Bittencourt Simões, 36 anos, alguém que precisou passar por muitas dores de amor até dar a volta por cima, transformando em música as suas desilusões.
— A Duda Beat nasceu impulsionada pelas repetidas vezes em que eu me ferrei nos meus relacionamentos — resume a artista. — Eu precisei viver o fundo do poço para criar essa persona que é forte e corajosa, que consegue o que quer e decidiu ser feliz. Ela veio dessa vontade de ser protagonista da minha vida — completa.
Em seis anos de carreira, a artista conseguiu o feito de conquistar o mainstream como uma artista independente — o contrato com uma grande gravadora veio somente no final de 2022, quando assinou com a Universal Music. Duda conquistou isso cantando músicas sobre as suas experiências amorosas. As canções renderam o título de “rainha da sofrência pop”, que ela nunca rejeitou, mas com o qual nunca se contentou.
Neste ano, Duda se prepara para lançar o terceiro disco da carreira com a promessa de mostrar que é muito mais do que dor de cotovelo.
— Eu aceitei o meu título com o maior carinho, mas não me limito a ele. Não acho que sou só a rainha da sofrência pop: eu também sou a rainha da diversão pop (risos) — brinca. — Meu terceiro disco vai trazer essas outras camadas da Duda Beat. Eu acho que nunca somos uma coisa só. O mais importante é conseguir mostrar quem nós somos da forma mais honesta possível — pondera.
O start na nova era musical de Duda Beat veio com o lançamento do primeiro single do disco, Saudade de Você, uma balada eletrofunk muito sensual e bem diferente de tudo o que a cantora já fez. Ainda assim, as influências dos ritmos tradicionais nordestinos seguem presentes. É a marca registrada da musicalidade da pernambucana, afinal.
Duda, que nasceu em Recife, mas se mudou para o Rio de Janeiro aos 18 anos, diz que não pretende abandonar suas raízes regionais, independentemente da fase. Ela faz música voltada para o mundo, mas entende que o Nordeste tem muito a contribuir com isso. Ainda assim, relata já ter visto muitas portas se fecharem por conta do seu sotaque pernambucano e das referências que traz em suas canções.
— Não tocar em algumas rádios do Sudeste é uma dor que eu carrego. Não consigo entender o porquê de a minha arte não se encaixar ali quando, na verdade, eu tenho certeza de que ela também pertence àquele lugar — lamenta.
Contornando os obstáculos, a artista se prepara para dar mais um passo importante em sua carreira: em 3 de fevereiro, subirá pela primeira vez ao palco do Planeta Atlântida. Cantar no festival gaúcho era um sonho antigo de Duda, que agora será realizado ao lado da amiga Luísa Sonza.
A cantora, que se define como uma “superamiga”, diz que a estreia não poderia ser melhor. Em entrevista à Donna, ela convoca Duda Beat e Eduarda para falar da expectativa para o show, mas também sobre amizade, relacionamentos, saúde mental e autoestima.
Confira entrevista com Duda Beat
Quem é a Eduarda e quem é a Duda Beat?
Eduarda é uma superamiga, uma pessoa que se preocupa muito com o outro. A Duda Beat é brincalhona, uma mulher que faz piada e ri de si mesma, que é sedutora e é muito forte. Ela sobe no palco e se sente em casa, que se cura através da música. E a Eduarda aprende muito com ela.
A Duda “nasceu” quando a Eduarda já tinha 30 anos. Nesta idade, muitas pessoas acham que já é tarde para iniciar uma carreira. Como foi para você?
Foi muito maravilhoso, sendo bem honesta. Muita gente me falou que já era tarde para começar, mas para mim foi perfeito, porque precisava viver tudo que vivi até os meus 30 anos para conseguir escrever as minhas canções. E eu acho que, nesta idade, você é muito mais pé no chão. Isso foi muito importante, pois me fez entrar nessa profissão decidida de que as coisas iriam dar certo.
Para você, a proximidade dos 40 anos representa algo?
Tenho refletido sobre isso. Principalmente por sentir que estou cada vez melhor, mais bonita e confortável em ser quem sou com o passar do tempo. Conseguir sentir prazer em ser eu mesma tem sido muito especial. Me olho no espelho e me sinto feliz, confiante de que não vim ao mundo à toa, de que realmente a minha missão é escrever canções e transformar a vida de alguém.
Muitas de suas músicas falam de amor ao melhor estilo “dor de cotovelo”. Elas são reflexo do que você já sentiu?
Senti muita dor de cotovelo na vida. Sou uma libriana romântica e apaixonada. Mas sempre me apaixonava por pessoas que não queriam ter nada sério comigo. Isso me deu bagagem emocional para escrever, pois minhas músicas são, sim, reflexos do que já senti. Tudo o que está nas minhas canções aconteceu comigo. E agora entro em um novo momento musical, mais feliz, porque realmente estou mais feliz.
Quem é a Eduarda quando está amando?
Me apaixono muito fácil. Sou a pessoa que vai lá e fala, que manda mensagem mesmo, sem esse negócio de jogo. Sou muito verdadeira e intensa. Ah, e muito sedutora também (risos).
Você teve alguma experiência de relacionamento tóxico?
Sim, principalmente no sentido da manipulação. Era tão apaixonada pelas pessoas que passaram na minha vida, que acreditava em tudo o que elas falavam. O processo de descoberta vem de você conseguir voltar para si e entender qual é o seu limite. Quando chega nele, você fica se perguntando: “Por que eu fiz isso comigo?”.
Atualmente, você está em um relacionamento que parece o contrário de toda a “sofrência” que já cantou. Como começou a relação com seu companheiro?
Somos amigos desde os 13 anos, então, o Tomás (Troia) acompanhou toda a minha saga de amores não correspondidos (risos). Quando comecei a fazer canções, decidi que ele que ia produzir e a gente foi se aproximando. Um dia, ele se declarou para mim, só que fiquei com medo porque não queria estragar a nossa amizade. Mas logo cheguei à conclusão de que deveria me jogar de cabeça. Às vezes, a gente não consegue enxergar as pessoas maravilhosas que estão do nosso lado. Foi muito verdadeiro para nós.
O Tomás segue como seu produtor. Como funciona a divisão entre a relação profissional e pessoal de vocês?
Aprendemos a separar as coisas ao longo do tempo, mas isso já foi uma grande questão. Agora, conseguimos estabelecer o momento de sermos parceiros de trabalho, o momento de sermos namorados e a hora de termos as nossas individualidades.
Precisamos desmistificar esse negócio de que você precisa estar feliz o tempo todo
DUDA BEAT
Cantora
Artistas mulheres costumam sofrer muito com a pressão estética. Como você lida com isso?
Muitas vezes já me vi triste e deprimida por querer ter um corpo que não tenho. Mas aprendi a entender o que eu sou e a amar o meu corpo. Tem dias que me sinto linda, em outros, nem tanto. Mas isso é normal. Precisamos desmistificar esse negócio de que você precisa estar feliz o tempo todo.
Você costuma manter uma rotina de autocuidado?
Faço crossfit todos os dias pela manhã. É algo que me deixa muito feliz, que faz a minha cabeça funcionar melhor e que me ajuda a ter fôlego para os shows. Também gosto de passar cremes, de me olhar no espelho e de arrumar o meu cabelo. Tudo isso é muito importante para a minha autoestima e a minha saúde mental.
Seus looks chamam sempre muita atenção. É algo de que gosta? O que a moda representa para você?
Eu me vejo desde criança muito apaixonada por moda. Sempre fui vaidosa e, na minha arte, a moda também é muito importante, pois ajuda a demonstrar o que estou sentindo e falando na música. É uma forma de expressão que agrega completamente ao meu trabalho.
Você tem muitas amigas mulheres no meio da música. Já houve momentos em que essa rede de apoio feminina a ajudou a segurar a barra?
A união entre as mulheres é muito importante no nosso meio, que ainda é machista. Acredito muito que se uma ajudar a outra, a gente se torna uma célula forte. Já tive muitos momentos em que isso fez a diferença. Eu saí da pandemia muito arrasada. Tudo o que o mundo passou me deixou num lugar de muita vulnerabilidade emocional. A rede de apoio foi muito importante para sentir que não estava sozinha.
Você subirá ao palco do Planeta Atlântida acompanhada também de uma amiga, a Luísa Sonza. Como está a sua expectativa para a apresentação?
Altíssima, porque sempre quis cantar no Planeta Atlântida. Sempre foi um sonho para mim. E eu vou cantar ao lado de uma das minhas melhores amigas. A Luísa é uma pessoa incrível e queria que todo mundo pudesse conhecê-la como ela é na intimidade. Dividir o palco com ela no Planeta Atlântida vai ser uma realização. Ainda não sei como será o repertório, mas estou muito feliz e animada. Acho que essa noite vai ser histórica na minha vida.
O que vem por aí em 2024?
Sinto que será um ano muito bom para mim. Com o lançamento de disco, com músicas e ritmos que sempre quis cantar, e com uma turnê nova na praça. Quero fazer muitos shows e trabalhar bastante em 2024. Esse é o meu grande desejo.