O príncipe Harry atrairá grande parte das atenções durante a coroação de seu pai, o rei Charles III, em seu reencontro com a família real, que tem sido alvo de suas críticas nos últimos meses. O caçula de 38 anos da princesa Diana, que morreu em 1997, vítima de um acidente de trânsito, comparecerá à cerimônia deste sábado (6) na Abadia de Westminster sem sua esposa, Meghan Markle, e seus dois filhos, o príncipe Archie, três anos, e a princesa Lilibet, um.
A atriz norte-americana ficará em casa, na Califórnia, Estados Unidos, comemorando o quarto aniversário de Archie, e se poupará de possíveis constrangimentos envolvendo a família real, cada vez mais distante.
Desde que se mudou para os Estados Unidos em 2020, o casal criticou repetidamente a monarquia. Esses ataques se intensificaram nos últimos meses com uma série da Netflix, entrevistas na televisão e a publicação das memórias do príncipe.
Em sua explosiva autobiografia O Que Sobra, publicada em janeiro, Harry relata detalhes sórdidos sobre a família real e acusa seu irmão, William, o primeiro na linha de sucessão ao trono, de agredi-lo fisicamente durante uma discussão sobre Meghan.
O Palácio de Buckingham confirmou a presença de Harry na coroação apenas neste mês, acabando com as crescentes especulações.
— Muitos olhares estarão sobre ele — disse à AFP Pauline Maclaran, da Royal Holloway University de Londres, autora de um livro sobre o impacto de Meghan na monarquia. — As pessoas ficarão fascinadas com a interação entre ele e o resto da família.
Evitar escândalos
Harry visitou o Reino Unido este ano para participar de audiências judiciais relacionadas aos casos de escutas telefônicas que ele abriu contra jornais britânicos. Mas até mesmo a documentação judicial se tornou um meio de expor as brigas familiares.
Em depoimentos publicados nesta semana, o príncipe garantiu que a equipe do pai bloqueou sua tentativa de iniciar esses processos há uma década, devido a uma "estratégia de longo prazo" com o objetivo de garantir apoio da mídia para que Camila, com quem Charles III se casou em 2005, pudesse se tornar a rainha consorte.
Em suas memórias, Harry explicou que tanto ele quanto o irmão haviam pedido ao pai que não se casasse com Camila.
Antes do funeral da rainha Elizabeth II, em setembro, os dois irmãos tentaram mostrar união acenando com suas respectivas esposas para as pessoas reunidas do lado de fora do Palácio de Windsor.
A tensão, entretanto, era evidente. As acusações posteriores de Harry e Meghan agravaram a situação. Segundo a especialista em assuntos reais, Harry "ficará em segundo plano" para "tentar evitar qualquer alvoroço" durante a cerimônia.
"Excluído"
O rompimento das relações entre o duque e a duquesa de Sussex e o restante da família é visto como algo prejudicial à monarquia.
A instituição segue tentando lidar com a perda de Elizabeth II. O respeito que a duradoura monarca impôs é considerado a chave para manter a popularidade da monarquia e afastar qualquer tentação republicana.
Entretanto, a rainha se foi. Em meio a rixas familiares e alegações de abuso sexual — contra o príncipe Andrew, irmão de Charles —, muitos britânicos se perguntam "quem são essas pessoas", argumenta diz Graham Smith, do grupo de pressão republicana, que defende um chefe de Estado eleito.
"Eles o veem (Charles III) como parte dessa família questionável", sem contar que Harry "continua causando problemas", disse Smith em uma recente reunião com a imprensa.
Outros argumentam que Harry e Meghan se tornaram muito impopulares ao abandonar seus deveres reais e dar entrevistas polêmicas.
— O dever é o que as pessoas querem da família real e Harry não traz isso — analisou Sean Lang, professor de história da Universidade Anglia Ruskin.
Charles fez bem ao convidar o filho para a coroação, já que a outra decisão "teria parecido cruel", opinou.
— É possível que o espetáculo da coroação (...) mostre até que ponto o príncipe Harry se excluiu da monarquia e isso tornará o dia difícil para ele — acrescentou Lang. — Mas acho que muitas pessoas no Reino Unido vão achar que ele mesmo se colocou nessa situação difícil.