No início dos anos 2000, Arnaldo Antunes compôs: “Debaixo d’água tudo era mais bonito, mais azul, mais colorido. Só faltava respirar”. Sobre a letra, ele revelou que faz uma associação entre o mergulho em uma piscina e a sensação intrauterina do feto, de estar protegido dentro da barriga da mãe, fora de perigo – e fala de como é inevitável ter que sair para o mundo em busca de oxigênio. Giovanna Ewbank, aos 36 anos também precisa de refúgio de um mundo que exige pressa, entrega e produtividade. Um lugar onde possa respirar melhor.
A paulistana encontrou esse abrigo no Rancho da Montanha, uma casa de campo localizada no interior do Rio de Janeiro, construída com o marido, o ator Bruno Gagliasso, 40. Nos finais de semana que passa lá, suas versões atriz, modelo e apresentadora descansam para deixar aflorar uma Giovanna mais moleca, conectada com o verde, a água, os bichos e a família.
O local tem energia limpa, animais vivendo livres e homenagem às origens dos filhos mais velhos, Titi, nove anos, e Bless, sete, adotados no Malawi: um lago com peixes ciclídeos africanos e um baobá, árvore que é símbolo de culturas da África. A vida que levam por lá, junto também do caçula Zyan, dois, é tema da websérie de seis episódios Vida no Rancho, que estreou no dia 7 de março em seu canal no Youtube, Gioh.
— Eu gosto de muita calma, só que meu dia a dia é o oposto disso. De segunda a sexta-feira, minha vida é o oposto do que é a minha essência. Por isso, todo fim de semana, subo para o meio do mato: para resgatar minha essência e ter esse equilíbrio entre todas as Giovannas que sou — afirma.
Seu primeiro papel na TV também foi uma “garota do mato”, a Marcinha, em Malhação 2007. Daí vieram diversos personagens em novelas e a apresentação de programas, como Vídeo Show e Superbonita. Uma das suas empreitadas profissionais mais recentes é o podcast Quem Pode, Pod, que comanda ao lado de Fernanda Paes Leme desde o ano passado.
A exemplo de como ocorre no programa e no canal – onde as conversas podem girar em torno de amor, preconceito, sugador de clitóris, traição e até cocô –, hoje em dia, não há tema que seja tabu para Giovanna Ewbank. Ela revela, no entanto, que, até pouco tempo atrás, sexo era um assunto do qual falava pouco, já que tinha vergonha de admitir que havia tido poucos parceiros ao longo da vida. Ela se encaixa na definição de demissexual, conceito que se refere a alguém que, em tese, só consegue transar com pessoas com quem cultiva algum tipo de envolvimento emocional ou afetivo.
— Só tive cinco parceiros com quem fiz sexo na minha vida toda e isso foi um tabu para mim durante muitos anos. Eu via minhas amigas tendo relações sexuais com várias pessoas e pensava: “Tem alguma coisa errada comigo. Por que não quero ter relações com pessoas por quem não sou apaixonada?”. Com o tempo, fui entendendo que cada um tem a sua personalidade, sua vontade, seus desejos e está tudo certo. A partir daí, falar sobre sexo acabou sendo algo natural — afirma.
Nesta conversa com Donna, via áudios do WhatsApp, a atriz compartilha suas reflexões sobre maternidade e amor, além de como não se deixa ser engolida pelo tempo. E explica como suas prioridades foram se reorganizando naturalmente ao longo da vida.
O que vocês planejaram mostrar em Vida no Rancho?
Temos uma vida corrida, muito louca, cada hora num lugar, gravando em um país diferente. O Rancho é o lugar onde a gente se reconecta com a natureza, conosco e com a nossa família, olhando nos olhos, nos percebendo em gestos. É um lugar para colocar os pés no chão, na terra, e entender o que estamos fazendo, para onde queremos ir.
No atual momento, em que o “para ontem” já está tarde e tudo é urgente, acabamos esquecendo de nos olhar e entender (e dizer:) “calma, será que estou ultrapassando meus limites? Será que não preciso parar, respirar?”. É um movimento que temos feito há um tempo, de desacelerar, principalmente, nessa vida de redes sociais e internet. Também queremos inspirar as pessoas a tentarem olhar para dentro.
Você tem algo de “bicho do mato”?
Vivi a infância e a adolescência na natureza, no mar. Então, é um lugar de refúgio para mim, onde consigo me olhar e organizar as coisas na cabeça. Sempre fui muito mais do mato do que das festas, então agora sinto que, cada vez mais, preciso resgatar essa minha essência, essa minha natureza.
Às vezes, a vida pesa?
Antes, a gente saía do trabalho e desligava, chegava em casa e ficava com a família, podia fazer as coisas pessoais. Hoje em dia, as pessoas te encontram em qualquer lugar, parece que a gente está sempre trabalhando e nunca descansa. A sensação é de que o tempo nos engole o tempo todo.
Tive duas crises de ansiedade bem fortes no ano passado, fiquei com falta de ar em uma delas, chorando compulsivamente, e pensei: “Preciso olhar para mim”. Então, sim. Sinto muita falta de tempo para mim, para estar com minha família 100% e por isso que o rancho é o nosso refúgio. Lá, a gente não usa celular, fica sem internet e consegue se enxergar. Esses momentos de respiro são muito importantes para a minha saúde mental e a da minha família.
Como você costuma lidar com o medo de decepcionar?
Esse é um grande fantasma na minha vida. Às vezes, sinto que estou levando uma montanha nas minhas costas, porque acabo preferindo me machucar do que decepcionar a pessoa que gosto, ou as pessoas que gostam de mim.
Muitos me conhecem e criam expectativas. E, obviamente, a gente nunca quer decepcionar, mas isso é impossível. O importante, na verdade, é não me machucar. Então, o movimento de tentar me priorizar hoje está sendo feito mais do que nunca.
Em 16 anos de carreira, as suas prioridades mudaram?
Sim, completamente. Antes, minha prioridade era o trabalho, as conquistas profissionais. Hoje, é 100% meus filhos. Minha vaidade, alegria, felicidade, vontade de fazer diferente e deixar o mundo melhor são para meus filhos e por eles. Depois vêm o resto, minhas vontades, carreira. E é interessante como, quando a gente age por amor, ele transforma.
Todas as áreas da minha vida acabam sendo preenchidas de uma maneira muito natural e sem pressão. Lógico, o esforço sempre existe, sou muito esforçada e dedicada em tudo o que resolvo fazer.
Algum sonho a ser realizado?
Olha, não sou essa pessoa de ficar sonhando alto, nunca fui. Gosto de ir degrau por degrau, sem passar por cima de mim mesma. Então, tudo vou fazendo conforme vou sentindo necessidade e vontade. Respeito muito o meu momento e minha vontade. Acho que os sonhos que quero realizar são os dos meus filhos. Quero poder estar perto para vê-los realizando.
Como foi a chegada da maternidade?
Foi algo muito inesperado. Nunca fui a mulher que sonhava ter filhos, uma família grande, casar. A maternidade chegou para mim através da minha filha. Não tinha a vontade de maternar aflorada em mim. Quem despertou isso foi ela. Quando a vi pela primeira vez, soube que “essa é minha filha e não vou deixá-la. A gente vai sair daqui e viver uma vida juntas”.
Através dela, entendi o que é esse amor maior do mundo e me descobri mãe. Depois, vieram o Bless e o Zyan, e entendi também que cada relação é uma. O amor sempre é muito intenso com os filhos, mas as afinidades e trocas são diferentes com cada um.
De que forma você os cria e protege?
Acho que o mais bonito de ser criança é o amor, a ingenuidade, é não ter maldade. É com isso que mais me preocupo, na verdade, porque a gente cria os filhos para o mundo, né? Minha preocupação maior com fortalecê-los de uma maneira que não percam essa ingenuidade, mas consigam combater uma maldade quando estiverem frente a ela.
Essa é a fórmula mais difícil de conseguir passar, deixando claro que o amor é o sentimento mais importante. É no dia a dia que a gente vai aprendendo e vai ensinar errado, muitas vezes, mas sempre com a vontade de acertar.
Quem é a Giovanna que a gente não vê na internet?
Sou uma pessoa muito calma, que gosta de fazer uma coisa de cada vez. Gosto de respirar em lugares abertos e, na verdade, não consigo acessar a minha essência durante todos os dias da semana, porque, normalmente, estou trabalhando com muitas pessoas, entrevistando, dando entrevistas, gravando comerciais, falando com gente em eventos.
Essa é uma das Giovannas que existem em mim, que é a atriz, apresentadora, profissional. Mas a essência, a minha criança interior, é muito na dela. Sou reservada, calma, gosto de estar com o pé na terra, de estar na água, de estar com os meus filhos e de dormir muito.
São 13 anos de casamento com o Bruno. O amor mudou nesse tempo?
O nosso amor amadureceu de uma maneira muito bonita, porque a gente é amigo acima de tudo, nos divertimos juntos, choramos juntos, rimos muito. O Bruno é meu melhor amigo, além de ser o meu amor. Tivemos um momento mais difícil durante a relação, que foi quando a gente se separou e ficou longe por um tempo. Tínhamos só dois anos de casamento e entendemos que não era aquilo o que queríamos. Precisaríamos mudar atitudes, amadurecer a nossa relação, entender o que cada um queria para si e para nós dois juntos.
A partir daí, só foi florescendo, se intensificando. Depois desse período, não tivemos mais nenhum momento muito difícil. Obviamente, existem alguns em que a gente está mais apaixonado, cansado, precisando ficar um pouco sozinho. Isso é normal em um relacionamento de tantos anos. Mas as coisas depois dessa separação não ficaram mais difíceis, não. Muito pelo contrário.
Como você cuida da beleza e saúde?
Tudo o que eu como é pensando no meu corpo como uma maquininha onde a gente só tem que colocar coisas boas. Nosso corpo é o que temos de mais precioso. Então, me preocupo muito com minha alimentação. Acho que as coisas básicas são alimentação, exercício físico, cuidar da nossa mente, usar protetor solar e beber muita água.