Volta e meia, a gente se depara com a frase “Vai. E, se der medo, vai com medo mesmo” estampada em uma camiseta ou legenda de Instagram. Ou então escuta, zapeando pela Sessão da Tarde, uma jovem Hilary Duff dizendo algo como “Não deixe o medo de errar te impedir de jogar”. Trazendo o clichê para a vida real, Gabriela Prioli também optou por andar de braços dados com esse sentimento e não deixar de dar saltos por causa do frio na barriga.
— Tenho medo o tempo todo — diz a advogada, influenciadora digital, comentarista política e apresentadora, durante esta entrevista para Donna.
Ela relata que foi com medo que se tornou mãe de Ava, em dezembro de 2022 — ao lado do marido, o DJ Thiago Mansur —, e é com medo que começa um novo capítulo na vida profissional. Na última quarta-feira (8), Dia Internacional da Mulher, fez sua estreia no Saia Justa, do canal GNT, somando-se ao debate com as apresentadoras Bela Gil, Astrid Fontenelle e Larissa Luz.
Ao que tudo indica, a história de Gabriela é a de uma mãe que se permite continuar a investir em projetos pessoais e na realização de sonhos. Ao mesmo tempo, não abre mão de cuidar e curtir a filha de poucos meses.
— Costumo dizer que me considero uma pessoa muito corajosa, porque faço tudo o que faço apesar do medo intenso que sinto em todos os momentos da minha vida. Já aprendi que ele não vai me abandonar e que preciso conseguir me entregar para as coisas que desejo, apesar dele. E quando a gente se joga, mesmo com medo, fica feliz por ter superado essa limitação e realizado o que queria — confia Gabriela.
Além das reflexões sobre política, questões de gênero e cidadania, a maternidade real somou-se ao rol de temas nos quais a paulistana de 37 anos toca, compartilhando com uma audiência de 2,3 milhões de seguidores no Instagram.
Nos stories, já apareceram tanto os sorrisinhos e sonecas da bebê quanto a blusa molhada de leite, as lágrimas durante a amamentação e o desafiador baby blues. Prioli descobriu que tornar-se mãe é muito melhor do que esperava, mas a turbulência emocional das duas primeiras semanas pós-parto foram duras.
— Fiquei muito mal, precisei de ajuda profissional, tive muitos episódios de choro, uma incompreensão do que estava acontecendo comigo, uma variação hormonal pesada mesmo. As coisas começaram a melhorar uns 15 dias depois do parto, quando fui conseguindo me restabelecer, recuperar um pouco do meu equilíbrio e aí o sol foi raiando, o dia foi clareando — relembra.
Para as leitoras de Donna, Prioli descreve, na conversa a seguir, o seu olhar sobre o que é esperado da maternidade, o amadurecimento da sua autoestima e do seu autocuidado. E explica sobre o grande fio condutor de uma carreira repleta de incentivo ao debate: a vontade de contribuir para que as pessoas vivam melhor.
Como você espera contribuir com os debates do Saia Justa?
Com esse meu repertório, que é diferente, e por isso que o Saia é tão legal, né? Porque são quatro mulheres, e muitas vezes convidados também, que trazem repertórios diferentes.
Então, temos ali muitas histórias de vida, experiências e formações distintas. Isso enriquece os debates em um clima bacana, amistoso e de respeito. É um espaço privilegiado para a gente desenvolver discussões profundas, mas leves, ao mesmo tempo. E é justamente assim que acredito que as coisas devem ser debatidas.
O que a maternidade tem lhe ensinado?
Duas coisas. A primeira é que a gente tem muito menos controle do que imagina. E a segunda, que é uma reflexão que estou elaborando um pouco mais a partir dessa vivência, é que a gente acreditou numa lógica de que, para ser uma boa mãe, precisa de sacrifício e sofrimento. Isso acaba fazendo com que sintamos muita culpa na divisão do cuidado com a criança, o que deveria ser natural, porque somos humanas, precisamos descansar, ser felizes e desenvolver nossos projetos.
Ser mãe é como você imaginava?
Não. É muito melhor. Há alguns dias, depois de uma noite de insônia, acordei às 5h para dar de mamar e ela, pela primeira vez, interagiu comigo com muitos sorrisos. É uma coisa maravilhosa sentir o cheiro, o toque da pele. E está sendo ainda melhor, porque está me provocando reflexões interessantes sobre a minha vivência, questões com minha mãe e como posso me apresentar para minha filha de uma maneira que não jogue nos ombros dela pesos meus, para que o desenvolvimento dela seja mais livre, feliz e leve. Ser mãe está sendo intelectualmente rico.
Qual o seu propósito ao falar sobre cidadania e política na internet?
Gosto de falar sobre assuntos que considero relevantes. Então, tenho motivação para falar sobre política e cidadania, da mesma forma que tenho para falar sobre protagonismo feminino, maternidade. Tenho motivação para falar o que acho que vai fazer com que as pessoas vivam melhor. Meu objetivo último é esse: fazer com que as pessoas vivam melhor e tenham mais liberdade para buscar seus próprios desejos.
Em qual direção caminha a política, em relação às mulheres?
Estamos evoluindo, o que não significa que estejamos fazendo isso rápido nem que tenhamos evoluído tudo. Só o fato de termos abertura para falar mais sobre a participação das mulheres na política já mostra que evoluímos, porque durante muito tempo esse foi um assunto impensável. Mas, hoje em dia, a gente já tem uma previsão formal de cidadania plena e igualdade na letra da lei, embora tenhamos muito para caminhar na nossa vida concreta. Então, vejo com otimismo e é por isso que faço meu trabalho. A gente precisa acreditar que nossos desejos, sonhos e projetos são factíveis. Ou perdemos a motivação para agir.
E como lida com os haters?
Minha relação instantânea é de algum sofrimento, sim. Eu não consigo passar incólume a alguns ataques. Principalmente, quando uma fala minha é distorcida ou percebo que existe um ataque coordenado. Isso me incomoda, porque, estrategicamente, é melhor a gente não responder, né? Senão, acaba dando mais visibilidade a distorções e ataques injustos e desleais. E eu, que gosto muito de responder e de debater, fico incomodada por não poder fazer isso. Mas, depois de um tempo de reflexão, você percebe que a pessoa está comunicando uma falta dela, um sofrimento interno, que não tem a ver com você. E aí consigo me distanciar e seguir tranquila.
Eles impactam de alguma forma na sua autoestima?
Não. O que às vezes sinto de impacto é uma menor autenticidade. A gente pensa mais no que vai falar, porque tem medo de ser vítima de manipulação. Fico menos livre e espontânea no que estou dizendo. Mas também presto atenção para não perder a espontaneidade por causa desses ataques. Faço esse exercício de não pautar meu comportamento pela atitude dessas pessoas, que são a minoria. Tenho muito mais carinho, afeto, e reconhecimento do que hate.
Como costuma ser a sua relação com o espelho?
É boa. Claro que fazendo aqui uma ressalva de que tenho uma aparência considerada encaixada no padrão esperado pela sociedade. Então, há outras pessoas que têm vivências muito mais dolorosas do que as minhas. Mas, ainda que eu seja considerada padrão, minha adolescência foi uma vivência de não aceitação, de rejeição do que eu era e de pensamento constante de falta.
Hoje, está muito melhor. Quando estreei na TV, logo percebi que funcionaria não ter tanto apego à minha imagem, então, é comum que as pessoas me encontrem na rua pouquíssimo arrumada. E apareço nos stories, umas vezes, mais produzida, outras, menos. Justamente, para me sentir livre e não tão pressionada a sempre entregar uma imagem de perfeição que não é real. Tenho minhas questões de querer melhorar uma coisa ou outra, mas me melhoro porque me amo muito e não porque me amo pouco.
Você publicou algumas fotos do seu ensaio de gestante na rede social. Como foi a experiência?
Eu fiz as fotos da minha gestação completamente nua. Estava 16 quilos acima do meu peso e muito tranquila, porque estava grávida. Pela primeira vez, tirei fotos nua sem me preocupar se iria aparecer uma gordurinha, uma celulite. Fiquei tão à vontade nas fotos, que elas não precisaram de retoque. Ou seja, a segurança em como a gente se sente dentro da nossa pele é muito importante para transparecer essa beleza. Isto foi uma coisa que esse ensaio me ensinou.
Você se considera vaidosa?
Não num excesso, mas sim. Gosto de arrumar o cabelo, cuidar das unhas, da pele. Gosto muito de colocar uma música e fazer uma maquiagem, aprender as técnicas e fazer as coisas sozinha. Gosto de fazer tipo um day spa em casa, passar máscara no cabelo e no rosto, fazer uma hidratação mais profunda no corpo. Gosto de me vestir, de moda, adoro pensar nas roupas, é uma diversão. E acho uma bobeira quando as pessoas rotulam esses nossos interesses como menores ou superficiais demais, dispensáveis. Acho uma delícia, é autocuidado e me faz feliz. Então, falo com prazer de todos esses meus gostos.
Como cuida da saúde mental?
Para mim, tem muito a ver com conseguir desligar do mundo colocando foco em alguma coisa que me faça crescer intelectualmente. Leitura é um cuidado que tenho. Quando consigo desligar de tudo e ler um texto com concentração plena, sinto que estou praticando meditação. E tenho percebido que momentos de atenção plena com a minha filha também fazem muita diferença no meu dia. Já voltei a trabalhar, tenho compromissos, mas quando fico com ela, temos momentos em que a gente não pensa em mais nada, não estamos fazendo coisas paralelas. Estamos ali, juntas, desfrutando desse momento. É dessa maneira que vivo os meus momentos de contemplação.
Qual é a leitura essencial para as mulheres em 2023?
Eu indicaria a leitura de A Lacuna de Autoridade, da escritora britânica Mary Ann Sieghart. A edição brasileira tem um prefácio meu e é um livro muito interessante para entendermos os vieses de gênero que marcam a nossa socialização e para percebermos que essa sensação que a gente tem de que não é levada a sério é uma realidade.
E, é claro, indicaria também a leitura de Ideologias, meu segundo livro, que explica de maneira muito profunda, mas muito fácil e simples, as principais ideologias, como o liberalismo, o conservadorismo e o socialismo, nele incluso o comunismo, com uma viagem histórica muito interessante.