Com os dois pés bem fincados no chão e sem medo de mudanças. É dessa forma que a atriz Paolla Oliveira encara seu atual momento. A paulista de 40 anos estreia um novo papel no cinema, com o filme Papai é Pop (adaptação do livro de Marcos Piangers), e também estrela a sua primeira novela das 19h, Cara e Coragem, na TV Globo, no ar desde o final de maio.
Quem a segue nas redes sociais vê postagens sobre os sentimentos conflituosos que rondam sua personagem na trama — a dublê de ação Pat. Suas publicações também são repletas de gestos de carinho entre ela e o namorado, o cantor Diogo Nogueira.
O casal se assumiu publicamente em julho do ano passado, decisão que, segundo Paolla, partiu da vontade de serem eles os “porta-vozes” da sua relação, em vez de terceiros. O encontro dos dois já rendeu até música: o sambista escreveu Flor de Caña tendo a atriz como musa inspiradora e como protagonista do videoclipe.
E, na simplicidade das declarações cotidianas de amor, não é difícil perceber a sintonia entre eles. Enquanto conversávamos para esta matéria, em chamada de vídeo, Paolla levantou os olhos da tela do smartphone para receber do namorado um jantar — afago para quem tinha passado o dia fora gravando a novela e ainda encarou uma entrevista ao chegar em casa:
— Recebi uma encomenda aqui, você me desculpa? Esse eu não podia recusar — e mostra o prato de macarrão com molho branco — Diogo me entregou uma comida que ele fez. Está aqui olhando para mim. Ele é terrível, em dois minutos, vai para a cozinha e arrasa. E aí é isso: eu, que nem ia jantar, fiz a fina e comi uma melancia, agora tenho um prato de comida preparada para mim e vou ser obrigada a comer — brinca.
A relação saudável que nutre atualmente com o seu corpo também entra em cena na nossa conversa. Paolla o define, entre outras coisas, como instrumento de trabalho, seja atuando ou como rainha de bateria da escola de samba Grande Rio, que representou em abril deste ano. E afirma que os comentários que recebe sobre sua forma física são até pouco numerosos na comparação com a importância e a potência que seu corpo tem para si.
A seguir, ela fala sobre amor-próprio, fama, maternidade, relacionamento e sobre a certeza de estar conquistando cada vez mais espaço em sua carreira à custa de muito trabalho e esforço.
As matérias que publicamos sobre ti costumam ter muita repercussão. Tu imaginas de onde vem esse fascínio do público?
Gente, que coisa, fiquei feliz! Eu, honestamente, não tenho a menor ideia de onde vem esse interesse. Mas tem uma coisa que faço desde sempre: mesmo com tudo o que tira a gente do eixo, pois esse lugar de fama nos leva muito para o distanciamento, eu sempre me questiono sobre o que é verdade para mim e em que o personagem tem a ver comigo. Toda vez que eu falo, tento estar numa região de proximidade com o personagem e com quem está afim de ver meu trabalho e conhecer a Paolla. Não sou uma pessoa de grandes arroubos, não tenho grandes histórias, vivo uma vida muito sem graça diante do que as pessoas imaginam. É normal, às vezes tranquila, às vezes com problemas, tem trabalho, família, dias em que me acho bonita e dias que não. E isso permeia tudo o que passo para as pessoas. Acho que rola uma identificação. Há um lugar super bacana e que deve ser valorizado, que é esse onde a gente pode ser real, verdadeira, espontânea, sincera. E, nesse lugar, há mais espaço para que outra pessoa se identifique com a gente.
Como está sendo a experiência em Cara e Coragem?
A novela está muito legal, o grupo é muito bom. Eu sei que parece clichê, porque a gente sempre fala isso quando está em uma novela, mas é que é tão leve e tão agradável de fazer, um texto gostoso. E ao mesmo tempo, a Cláudia Souto (autora) faz muito bem esse drama familiar, com todas as sutilezas necessárias, então tem sido muito gostoso mesmo. Sem dúvida nenhuma é um lugar diferente. A novela das 21h, por exemplo, é uma grande pressão, um horário nobre, você está exposta de uma outra maneira e a história é contada de outra forma. Já a das 19h tem um lugar um pouco mais tranquilo nesse sentido, até porque os temas são mais brandos. Aí foi que eu comecei a me perguntar: “Por ser leve, será que ela não pode tocar as pessoas, em temas sensíveis?”. Eu tenho muito problema com esse negócio de as coisas “terem que ser” de uma determinada forma. Acho que ninguém “tem que” nada. E da novela das 19h já se espera muita comédia. Por isso, fiquei com vontade de instigar as pessoas com os temas que me são dados.
Uma postagem tua chama a atenção para o fato da Pat sentir mais medo dos próprios sentimentos do que das acrobacias que faz como dublê. Como tu te relacionas com a personagem? O que te dá medo?
Resolvi fazer esses posts para reforçar algumas situações que têm a ver comigo e estimular as pessoas a pensarem sobre sentimentos comuns, como o medo de decepcionar. A Pat fala de medo de não amar mais em uma família onde está tudo certo. Ela está desejando paixão, um amor renovado, e fala coisas muito interessantes: é um amor pelo companheiro, pelo pai, mas não como homem. E aí, como é que uma mulher se mantém em uma família? Será que está tudo certo? A gente pode falar que é uma família perfeita, sendo que uma das partes está tão pela metade, tão dividida? Onde encerram os desejos da mulher e começam os da mãe e da provedora? São questões da vida, para as quais acho que não há resposta objetiva, mas que fiquei com muita vontade de compartilhar.
Tu tens medo de mudanças?
As coisas já mudaram muito na minha vida. Me mudar para o Rio de Janeiro foi uma mudança, assim como me estabelecer na TV. Cada novo trabalho é uma grande mudança, é um grupo novo, uma exposição nova, sou eu dando minha cara novamente para bater, para que as pessoas achem coisas, opinem, julguem. Toda hora tem mudança, como quando você termina um relacionamento ou coloca-se disponível para começar um novo. Quando eu resolvo, agora, aparecer e mostrar um pouco mais o meu relacionamento, é uma mudança. É porque estou aqui para encarar o que vier.
É quando eu faço 40 anos e as pessoas ficam me perguntando se eu não tenho vontade de voltar para os 20. A gente está o tempo inteiro assim, mudando, mas o legal é que eu consigo olhar para as mudanças e decidir: “O que é bom, fica. O que não é, deixo para trás”. Não que seja fácil, mas tento me resolver. Eu vou poder trabalhar quando eu não for mais essa Paolla, quando for outra — o ator não tem essa coisa de encerrar os trabalhos, pode trabalhar mais velho. E por isso eu, às vezes, fico pensando “será que eu vou trabalhar até ficar velhinha?”. Eu fico me perguntando sobre as próximas mudanças que virão, mas eu não gosto de deixar elas me assustarem.
Teu estilo é “um passinho de cada vez”?
É melhor, né? Se você for pular uma distância muito grande, tem mais chance de cair. Agora, se vai devagarzinho, vivendo o que é bom, tem mais possibilidade de se adaptar melhor às mudanças.
Eu não gosto de falar que “não é hora”, que “não é o momento”, que “ainda não senti”, porque não é nada disso. Eu apenas não sou mãe ainda.
PAOLLA OLIVEIRA
Atriz
Maternidade é um tema em que tu pensas atualmente?
Maternidade já foi uma pergunta, depois uma pressão, depois uma pressão maior ainda. E aí eu fiz o congelamento de óvulos para que isso fosse uma decisão, e não uma impossibilidade. Mas eu ainda tenho o mesmo pensamento de que a maternidade é um momento especial demais para você ceder a uma pressão, seja porque a família quer, o namorado quer ou qualquer outra coisa.
Diante disso tudo, é algo que não apareceu para mim ainda. Eu sei que sou uma mulher muito privilegiada por poder ter essa possibilidade que outras não têm e torço muito para que isso que tive a chance de fazer seja uma constante maior, uma realidade para mais mulheres. Para acalmar aquele negócio do relógio biológico, que é algo que me incomoda um pouco, pois parece que está atrás de você feito um fantasma. Eu não quero que a maternidade seja um fantasma, não desejo que seja assim para ninguém.
É complicado esse tal relógio biológico para as mulheres...
Mas sabe que o mais legal é que todo debate acaba gerando algum resultado. O debate sobre a maternidade, querer ter filhos, ser uma opção não ter, de alguma maneira, reverbera na gente, e eu já sinto isso. Apesar da pressão, já existe um espaço para a mulher que opta por não ter filhos, ou que opta por ter depois. Acredito que a gente já vai viver esse período até ter uma decisão sobre filhos ou não de forma mais leve e tranquila. Isso é um feito muito grande das mulheres.
O que tem de mais legal no encontro entre você e o Diogo?
Os encontros são tão deliciosos, tão incríveis. A única diferença é que, às vezes, a gente mostra e outras, não. As pessoas falam “nossa, mas como você está diferente, feliz” e eu fico “gente, sim, estou feliz, mas a diferença é que vocês estão vendo”. É diferente quando as pessoas participam um pouco do que a gente está vivendo. Eu estou muito orgulhosa da nossa decisão de ter acordado, conversado para que a gente pudesse aparecer, demonstrar o nosso carinho, falar que uma relação, sim, pode ser leve. Até porque a gente não teria como esconder um ao outro, duas pessoas públicas que já estão expostas naturalmente.
Estou feliz e acho que é um amadurecimento a gente conseguir colocar da nossa maneira as coisas que são importantes, sem deixar que outras pessoas façam isso. E isso é algo que aprendi há pouco tempo. Mas aí você dá chance para que outras pessoas falem o que elas quiserem. Então, a gente não sabe do dia de amanhã, se algumas coisas vão mudar, se a gente vai querer se reservar mais, mas por enquanto está sendo delicioso poder demonstrar essa nossa relação leve, afetuosa.
Como é a tua relação com o teu corpo?
Eu estou num momento de felicidade total com o meu corpo já faz um tempo. Passei bastante tempo criticando, escondendo, mudando. Aí, depois que já estava mais confiante e segura, vem um trabalho que novamente expõe o meu corpo, a Danny Bond (da minissérie Felizes Para Sempre?, da Globo) e é falatório e tal.
Aí tem o Carnaval, que eu amo e que é como é, não sou eu que vou mudar as vestimentas do Carnaval, enfim. O meu corpo é instrumento do meu trabalho, então ele é muita coisa. Acho que, por mais que as pessoas falem, elas ainda falam é pouco diante do tanto que ele é importante para mim. Estou me achando cada vez mais bonita. E não é a beleza que as pessoas veem, é a que estou sentindo. Estou me sentindo melhor e mais segura com todas as partes em mim.
Eu já cheguei a usar muita roupa mais larga para parecer mais afinada, com a perna mais fina. Mas não sou essa pessoa. Sou curvilínea, tenho coxão. Eu saio agora da maneira que eu me acho bonita. O meu corpo veio mudando e eu hoje estou muito mais feliz do que já estive. Acho, sim, que ele está muito na boca das pessoas e eu não tenho outra maneira de demonstrar isso que não seja colocando ele aonde precisar estar, seja no Carnaval, no trabalho ou em uma roupa que eu escolha usar. É isso, lido dessa maneira.
O que há de diferente entre a Paolla de 2005, na tua estreia em Belíssima, da TV Globo, e a de 2022?
Cara, são tantas coisas que mudaram que eu não consigo nem condensar. Mas dou muito valor às coisas que não mudaram. O meu pé no chão não mudou. Desde a minha primeira novela, tenho um respeito muito grande pelo trabalho, pelas pessoas que estão em volta de mim, pela minha história familiar. Tenho esse respeito que me carrega em achar que a minha beleza, o estético que eu carrego, me ajudou, mas que eu só conquistei as coisas com trabalho, com empenho e com muita dedicação. Essas coisas são iguais.
Mas também sou muito feliz com as mudanças e acho que elas têm muito a ver com dar importância ao que é mais importante para mim. Não cair nas ciladas das pressões, não fazer as transformações de fora pra dentro, pelo olhar do outro. Porque os outros são muitos, e esse muito eu talvez não possa mudar. Só posso mudar e reconstruir o que está em mim e nas minhas mãos. Então, essa é a Paolla que mudou, a que fala com você agora, mas que antigamente, se você perguntasse do meu corpo, te diria umas três ou quatro coisas que eu odiava em mim e queria mudar. A Paolla de hoje, não. E fico tão feliz com isso. Sou zero perfeita, não acredito nisso e nem queria ser assim. Mas sou muito satisfeita com quem sou, não só no físico, mas em como penso sobre tudo.
Um pai pop e uma mãe em desconstrução
O filme Papai é Pop traz várias questões que impactam as mães da atualidade. Qual a importância de levar essas discussões à tela?
Papai é Pop foi muito especial. O filme foi feito durante a pandemia, naquele primeiro respiro que tivemos. Com muitos protocolos, mas de alguma maneira respirando de novo por poder estar em um set de gravação, com aquelas pessoas agradecendo muito por estarem trabalhando. E aí a gente vai para um tema familiar, falando sobre reconstruir uma coisa que, aparentemente, já conhece. Mas quanta coisa a gente precisa mudar dentro daquilo que reconhece como comum e normal, né?
Foi muito legal porque o filme é, sim, sobre um pai em construção, que é a história do (Marcos) Piangers, mas também é muito sobre uma mãe em desconstrução. Ela se preocupa muito com a maternidade, mas consegue enxergar que aquilo não cabe mais, que a mãe que é onipresente e onipotente dentro de casa também está se preocupando com o lugar do trabalho.
E isso é porque as funções podem ser divididas: as responsabilidades dentro de casa podem ser divididas. Eu acho muito importante que falemos de uma família que está vivendo uma situação aparentemente natural, as descobertas do primeiro filho, mas que tem muita coisa para ser ajustada. O que mais me animou em fazer esse filme foi interpretar uma personagem com quem as pessoas vão se identificar. Espero que se emocionem e consigam abrir o coração a ponto de perceber “putz, eu já fiz isso”, “ah, não quero mais passar por isso”. O trabalho é mais válido quando consegue tocar as pessoas e fazer pensar.
O que foi mais desafiador em interpretar uma mãe?
Estudei muito, enlouqueci todas as grávidas e mães que estavam por perto de mim. Me adapto muito bem àquilo ali, mas não sei te dizer se é por conta da minha família, que é gigante, ou se é por causa dessa coisa que está sempre perto de nós, mulheres, que são as perguntas sobre maternidade. Só sei que foi muito natural estar ali naquele set. Foi prazeroso e delicado esse estudo, em que peguei todas as mães que eu pude para trocar ideia e falei com médicos obstetras que me explicaram sobre dores. Eu queria que me atravessasse mesmo, sabe? Então eu não sou mãe, mas como é uma possibilidade para mim, me atravessou de uma maneira muito gostosa.