Após a gaúcha Julia Gama, de 27 anos, ir até a final do Miss Universo 2020, neste domingo (16), e terminar a competição em segundo lugar, perdendo a coroa para a mexicana Andrea Meza, pipocaram comentários contrários à decisão nas redes sociais. Afinal, por que o Brasil bateu na trave (de novo!) e não levou o prêmio para casa? Conversamos com especialistas em concursos de beleza para analisar o resultado.
Para Gabriela Markus, Miss Brasil coroada em 2012 e quinta colocada no Miss Universo daquele ano, não há dúvidas: Julia deveria ter levado a coroa. A empresária conta que tinha certeza, desde o início, de que Julia chegaria entre as três finalistas. Para ela, o resultado foi injusto.
— A Julia foi impecável e injustiçada. Ela estava mais do que perfeita para receber a coroa de Miss Universo. Mais uma vez, o Brasil fica com essa sensação de ter sido sabotado, injustiçado. Na minha opinião, a Julia era, em vários quesitos, melhor do que a representante do México. Mas isso também não desmerece a vencedora. Estou muito feliz e orgulhosa pela nossa gaúcha, ela com certeza vai ter um ano lindo, de muito trabalho, como representante do nosso país. Mas claro que a gente fica com aquela sensação de que a coroa poderia ter vindo para nós. Ela fez um ótimo trabalho, não errou em nenhum momento, foi 100% em todas as etapas do concurso — opina.
Na minha opinião, a Julia era, em vários quesitos, melhor do que a representante do México
GABRIELA MARKUS
MISS BRASIL 2012
Gabriela também enxerga em Julia uma potência além da beleza.
— Eu vejo a Julia como uma mulher completa. Fala várias línguas, é fluente em inglês e espanhol, um pouco de mandarim. E não só a facilidade com comunicação, mas também a Julia como pessoa. Ela abraça várias causas, vários projetos, e eu penso que é isso que a Miss Brasil precisa, cada vez mais, mostrar. Já passou o tempo em que eram só concursos de beleza. Graças a Deus essas mudanças aconteceram e, hoje, a miss abraça causas e dá voz a frente dos concursos — reflete.
Renomado missólogo gaúcho, Evandro Hazzy concorda que o título deveria ter sido brasileiro - apesar de reconhecer que o concurso deste ano foi um dos mais difíceis das últimas três décadas.
— O título, para mim, era do Brasil. Sem bairrismo. Mesmo sendo gaúcho, e ela também, eu falo como um profissional técnico e ético. Eu acompanhei minuto a minuto a evolução de suas estratégias no palco, de ambas candidatas. Ela (Julia) teve menos erros — afirma.
Para ele, a gaúcha se destacou na temida etapa das perguntas temáticas, por sorteio, em que respondeu sobre a mulher ainda ser considerada sem capacidade por alguns para estar à frente de um país. Ela falou em inglês e foi uma das competidoras mais seguras para se comunicar.
— A mexicana optou por trocar a forma de respostas. A primeira respondeu em inglês, a segunda com intérprete. Isso é uma estratégia, porque ela ganha tempo para pensar, e a brasileira não precisou de intérprete, então ponto positivo para a Julia — diz.
Evandro ainda compara a situação com o Miss Universo de 2007, quando a brasileira Natália Guimarães, que tinha grande favoritismo, também alcançou a segunda posição.
Nunca presenciei qualquer tipo de suborno, de roubo, em concursos de miss. Elas vão pelos seus esforços e os jurados têm livre arbítrio de fazer as escolhas pelas preferências pessoais
EVANDRO HAZZY
— Porém, no ano da Nathalia, a japonesa (Miss Japão 2007 Riyo Mori) estava preparadíssima e não errou em nenhum momento. Esse ano nós tivemos falhas na estratégia de palco da mexicana. E, no meu ponto de vista, a brasileira foi superior e merecia a coroa. Eu daria a coroa para o Brasil independente de ser brasileiro. Mas faço uma ressalva: temos que respeitar as escolhas dos jurados, eles têm livre arbítrio. As pessoas estão acusando: "ah, foi roubo, foi isso, foi aquilo". Nunca presenciei qualquer tipo de suborno, de roubo, em concursos de miss. Elas vão pelos seus esforços e os jurados têm livre arbítrio de fazer as escolhas pelas preferências pessoais — reforça.
Por fim, Evandro aponta que um ponto negativo que pode pesar para o lado brasileiro é a falta de apoio financeiro do país.
— O Brasil não tem apoiadores fortes, diferente de outros países, em que o próprio governo abraça sua miss, porque é uma forma de divulgar a cultura, o turismo, sendo uma referência. Infelizmente, há falta de apoio: da própria mídia, do âmbito político, empresarial, das pessoas — lista.
Paulo Filho, consultor de misses e nome por trás da página Hora da Miss no Instagram, também elogia a participação de Julia na competição.
— Julia foi incrível! Cresceu muito desde sua aclamação em 2020, elevou a vitória da mexicana ao fazer apresentações marcantes na preliminar e final — diz ele.
Apesar de o Brasil não ter levado o título, Paulo se mostra confiante de que a atuação de Julia pode favorecer o país nas próximas edições.
— Após a mineira Natália Guimarães em 2007, finalmente retornamos a um top 2 de Miss Universo. Isso aquecerá o mercado e sou otimista de que nos próximos anos a tão aguardada terceira coroa vem (o Brasil só venceu o concurso em 1963, com Iêda Maria Vargas, e 1968, com Martha Vasconcellos) — concluiu.