O príncipe Philip, que morreu nesta sexta-feira (9) aos 99 anos, costumava manter uma postura discreta ao lado da esposa, a rainha Elizabeth II, mas chamou atenção com piadas politicamente incorretas, às vezes tingidas de racismo ou sexismo, durante compromissos oficiais da realeza britânica. Algumas vezes, o duque de Edimburgo era o alvo do próprio humor. "Vocês estão prestes a ver o especialista mundial das inaugurações de placas", afirmou ao inaugurar uma placa em um estádio de críquete em Londres em 2017. Já prestes a completar 90 anos, em 2011, declarou: "Estou começando a cair em pedaços".
No entanto, boa parte de seus comentários se dirigiam a mulheres, tanto famosas quanto anônimas. Ao se referir à ativista pasquitanesa Malala Yusafzai, que sobreviveu a um ataque do Talibã em um ônibus escolar em 2013, disse que "as crianças vão à escola porque seus pais não as querem em casa". Anos antes, em 1984, durante uma visita ao Quênia, agradeceu as flores entregues por uma jovem com um "obrigado, senhora... Você é mulher, certo?"
"Você me prenderia se eu abrisse o zíper desse vestido?", perguntou a um policial em 2012, referindo-se a uma jovem loira com um vestido vermelho justo fechado com zíper na altura do peito. Em 1966, afirmou publicamente que "as mulheres britânicas não sabiam cozinhar".
"Humor" real
Além de comentários questionáveis sobre mulheres, não foram poucas as frases controversas do príncipe Philip durante encontros com representantes de Estados. "Parece que você está pronto para dormir!", disse em 2003 ao presidente nigeriano Olusegun Obasanjo, que estava vestido com trajes tradicionais.
Em um jantar em Roma em 2000, o primeiro-ministro italiano Giuliano Amato propôs vinho italiano, ao que o duque respondeu: "Tragam-me uma cerveja. Não me importa qual, mas tragam-me uma cerveja". Aliás, a origem de seus interlocutores era uma questão comum em suas "piadas". "Não demorem muito ou seus olhos ficarão vesgos", recomendou a estudantes britânicos em estágios na China em 1986. Seus comentários não melhoraram com o tempo, pelo contrário. Perguntou a uma companhia de dançarinos negros, em 2009: "Vocês são todos da mesma família?"
Lidar com povos diferentes não parecia ser, mesmo, o forte de Philip. "Você sempre luta com lanças?", perguntou a um aborígene durante uma visita à Austrália em 2002. Antes disso, em 1998, questionou um estudante que voltava de uma viagem a Papua Nova Guiné: "Então eles não comeram você?"
Abordar questões sociais também não era seu forte na hora de fazer "humor". Durante a recessão de 1981, disse sobre os desempregados: "Não entendo: primeiro dizem que querem mais tempo livre, agora reclamam que estão desempregados". Durante cerimônia em um hospital do Reino Unido em 2013, dirigiu-se a enfermeiras filipinas que trabalhavam no local: "As Filipinas devem estar meio vazias. Todos estão aqui fazendo funcionar o NHS (o serviço de saúde público britânico)".
Um príncipe não motivacional
Em 1999, a orquestra de uma escola de jovens com deficiência deu-lhe as boas-vindas ao País de Gales. Na ocasião, Philip disse aos deficiente auditivos: "Vocês estão surdos? Não admira que tenham de ouvir isso com frequência!"
Também não se pode dizer que suas "frases motivacionais" tenham tido maior sucesso do que suas piadas. "Você nunca poderá voar aí, você está muito gordo", disse ele em 2001 a um adolescente de 13 anos que sonhava em ser astronauta.
Nem artistas ilustres escaparam. "Ah, é você que dirige aquele carro horrível? Costumamos vê-lo indo ao Castelo de Windsor", disse ao cantor Elton John em 2001.