Benjamin Damini, que interpretou a personagem Martinha em Malhação - Toda Forma de Amar, que foi ao ar na TV Globo entre o final do ano passado e o início deste ano, falou sobre sua transição de gênero em seu perfil do Instagram na terça-feira (22). Em entrevista à Vogue, publicada nesta quinta (24), o artista, que já retificou sua certidão de nascimento, contou mais detalhes sobre o seu processo de autoconhecimento.
— Tenho registros de memória muito antigos e muito vívidos quanto a essa não identificação com o gênero feminino. No início da adolescência, reprimi minha transexualidade e tentei me identificar como mulher, e assim existi até os 21, quando finalmente consegui me aceitar por completo e ser quem eu sou de fato. E parte disso inclui ser homem — relatou ele.
Para a publicação, Benjamin também contou que seus pais aceitaram muito bem a transição de gênero - até porque não se surpreenderam com a descoberta.
— Meus pais dizem que sempre souberam, porque a minha transexualidade já vinha sendo esboçada desde a primeira infância, então não foi uma surpresa para eles. A reação foi de acolhimento, tanto da minha família quanto dos meus amigos. Tenho muita sorte e sou muito grato por ter tido apoio e suporte familiar. E poder ter amigos que te acolhem é uma força a mais. Isso tudo me mostra que escolhi as pessoas certas para trocar afeto — refletiu.
Seu primeiro contato com o termo "transgênero" foi quando assistiu ao filme Boys Don’t Cry – Meninos Não Choram, na versão brasileira, aos 16 anos.
— Lembro de me identificar muito com o personagem principal, mas temer e negar profundamente essa identificação, pois sentia que se eu permitisse me identificar com o Brandon e com o termo transgênero, meu único destino seria sofrer com a violência e ter minha existência ameaçada e invalidada. O que não deixa de ser uma realidade para nós transgêneros e transexuais, mas que infelizmente parece ser a única história que a indústria cinematográfica tem interesse em contar, como se ser violentado e viver na iminência de ter a vida arrancada fosse a única vivência e destino possível para uma pessoa transgênero — explicou.
Quero cada vez mais tentar desvincular essa conotação negativa que os termos carregam, para que as futuras gerações não precisem passar pelos dilemas e sofrimentos que passei.
BENJAMIN DAMINI
Mas, agora, o ator enxerga a situação de um jeito diferente - e quer ser parte da mudança de percepção da sociedade sobre ser transgênero.
— Hoje, me entendendo enquanto transexual e, escolhendo falar publicamente sobre isso, quero cada vez mais tentar desvincular essa conotação negativa que os termos carregam, para que as futuras gerações não precisem passar pelos dilemas e sofrimentos que eu passei. Existe tanta sublimidade e libertação na transgeneridade. Queria que as pessoas soubessem disso — disse.
Por fim, deu um conselho para os jovens que se sentem representados por ele.
— Você não está sozinha, sozinho ou sozinhe. Você não tem uma doença e nem é um erro celestial. Está tudo bem em ser quem você é. E você pode se amar exatamente por isso. Autoaceitação e autoconhecimento acontecem de dentro pra fora, e com a transgeneridade não é diferente. Seja gentil consigo e se dê o tempo de vivenciar seus processos até encontrar seu eu. É de dentro pra fora, lembre-se sempre disso — concluiu.