Até sir Paul McCartney andou se posicionando a favor de Meghan Markle. “Deem um tempo pra garota”, disse à BBC sobre recentes críticas dos tabloides em relação aos voos de jatinho da duquesa e do príncipe Harry.
A relação da imprensa com a família real voltou à pauta com a notícia de que o casal está processando o tabloide Mail on Sunday por ter publicado uma carta assinada por ela e endereçada ao seu pai, Thomas Markle, com quem tem relação conflituosa. No comunicado, Harry comparou a perseguição que a imprensa fazia com sua mãe, a princesa Diana, à atitude que alguns jornais têm hoje com a esposa.
Diana morreu em um acidente de carro em Paris, em 31 de agosto de 1997, quando era literalmente perseguida por paparazzi. Dois anos depois, uma investigação francesa apontou que o motorista estava bêbado, dirigia em alta velocidade e perdeu o controle do carro, onde também estava o namorado de Diana, Dodi Al-Fayed. Parte da imprensa, amigos e celebridades culparam os paparazzi.
Para a correspondente do Grupo Globo em Londres, Marina Izidro, a comparação feita por Harry é justificada pela emoção de alguém que perdeu a mãe em uma situação trágica:
- Ele tem todo o direito de comparar porque é algo que o toca profundamente. Sempre que ele fala da mãe é de uma forma muito emotiva, sincera. Vejo como uma atitude emocional - afirma a jornalista, que vive há mais de dois anos em Londres e cobriu o casamento de Meghan e Harry.
Por outro lado, Marina afirma que imagens comuns nos anos 1990, de grandes grupos de fotógrafos atrás de Diana, não se repetem hoje, mas as fofocas sobre a família real ainda são combustível para os tabloides, que forçam uma relação de desavenças entre Meghan e a cunhada Kate Middleton. De acordo com Marina, a suposta rixa não é uma preocupação entre os londrinos. Eles se dividem, sim, entre quem apoia a monarquia e quem acha que se trata de uma tradição ultrapassada.
Meghan é muito mais criticada do que Kate, que sempre foi bem aceita. E ainda tem o Harry, que é considerado meio rebelde".
MARINA IZIDRO
Correspondente do Grupo Globo em Londres
Antes disso, o anúncio do casamento de Harry com uma mulher “de ascendência negra, não-britânica, atriz, mais velha que ele e divorciada” foi um “prato cheio” para a imprensa sensacionalista, destaca Marina:
- Meghan é muito mais criticada do que Kate, que sempre foi bem aceita. [Kate] Era a namorada de William da época de universidade, britânica e sempre cumpriu os protocolos. Já Meghan quebrou alguns costumes. E ainda tem o Harry, que é considerado meio rebelde.
Para o colunista do Daily Mail Piers Morgan, que assume não ser um fã do casal, foi exagerada a fala de Harry ao comunicar o processo contra o Mail on Sunday, jornal do mesmo grupo do Daily Mail. Ele afirma que o casal havia recém protagonizado uma cobertura positiva da imprensa sobre sua passagem pela África, onde “se comportaram como a realeza deveria se comportar - com dignidade, graça, bom humor e empatia”. Morgan acusa o casal de ser hipócrita e diz que eles são responsáveis pela cobertura de que reclamam:
“Você não pode nos ensinar que 'cada pegada [ambiental] conta' e depois pular em jatos particulares a cada dois minutos. Você não pode levar o público a pagar 2,4 milhões de libras para reformar sua casa de luxo (grátis!) E depois se recusar a deixá-los tirar fotos suas em Wimbledon.”
No episódio da partida de tênis, ocorrido em julho, a jornalista Marina também considerou “inapropriada” a postura de Meghan, cujos guarda-costas teriam avisado aos torcedores que eles não poderiam tirar fotos da duquesa. Já sobre o caso do processo contra o tabloide, a jornalista destaca que parte da imprensa tradicional saiu em defesa do casal.
Nas redes sociais
Somam-se às críticas da imprensa sensacionalista alguns comentários desrespeitosos nas redes sociais. O fenômeno levou o Palácio de Buckingham a publicar, em março deste ano, normas sobre a moderação de comentários nos canais oficiais da família real. O comunicado pedia “gentileza, cortesia e respeito” e informava que publicações difamatórias ou ofensivas poderiam ser deletadas.
Mas nem só de críticas vivem as caixas de comentários da realeza. A coordenadora da especialização em Influência Digital da PUCRS, Paula Puhl, observa que o contexto comunicacional mudou muito da época de Diana pra cá. As imagens e notícias que chegavam da princesa ao Brasil partiam basicamente da assessoria oficial do palácio, e eventualmente repercutia algo dos tabloides pela televisão.
As redes sociais, afirma a professora, deram um acesso maior à vida das celebridades, ainda que seja uma “espontaneidade controlada”. O duque e a duquesa de Sussex têm um perfil conjunto no Instagram (o @SussexRoyal).
Meghan humaniza um pouco o Palácio de Buckingham. Ela mostra fragilidades, se posiciona. E Harry mostra que se importa com a esposa. Quando Charlie demonstrou, publicamente, preocupação com Lady Di? Para o público, gera empatia ver pessoas mais reais, mesmo que seja um real editado.
PAULA PUHL
Coordenadora da especialização em Influência Digital da PUCRS
- Meghan humaniza um pouco o Palácio de Buckingham. Ela mostra fragilidades, se posiciona. E Harry mostra que se importa com a esposa. Quando Charlie demonstrou, publicamente, preocupação com Lady Di? Para o público, gera empatia ver pessoas mais reais, mesmo que seja um real editado. Meghan e Harry jogam com isso, usam imagens oficiais pra se mostrarem mais reais. E acho que isso não mancha a família real - comenta.
Marina concorda. Para ela, o fato de Meghan ser negra e americana foi bem recebido de modo geral no Reino Unido, como se fosse uma demonstração de abertura por parte do Palácio de Buckingham.
- A família real sempre quer sobreviver. Sobreviveu a guerras e a escândalos, desde o tio da rainha Elizabeth, que abriu mão da coroa para casar com uma americana divorciada, até o caso Diana. Eles gostam da ideia de renovação, pode ser positivo pra imagem deles, desde que não seja muito radical.