Ela é cantora, mas também apresentadora de TV, modelo, mãe e voz atuante nas causas das mulheres. Ela é Karol, assim mesmo, com K. Ou, como ficou conhecida nas quebradas da noite curitibana, Karol Conka.
Uma das cantoras de maior expressão do hip hop nacional, Karol não poupa rimas quando fala de tudo o que envolve a vida, os medos e os clamores da ala feminina. Em seu disco mais recente, Ambulante, lançado em novembro do ano passado, a rapper discute sexualidade sem pudores na canção Dominatrix.
Na TV, é a cara do programa Superbonita, do canal por assinatura GNT, conhecido por colocar em pauta questões como diversidade e beleza para todas. Nas redes sociais e nos palcos – como o do Opinião, em que desembarca nesta quinta (18) com seu novo show –, tornou-se símbolo de força feminina, mesmo que recuse o título de empoderada. Como canta em um de seus primeiros hits, Karol “é o poder” de quem não tem medo de mostrar quem é. Na entrevista a seguir, ela dá seu recado.
Você já falou que está cansada de ser chamada de empoderada. Em vez disso, pergunto: qual a melhor parte de ser uma mulher livre, que não tem medo de ser o que bem entende?
A parte mais legal de ser uma mulher poderosa é deitar a cabeça no travesseiro e dormir com a consciência tranquila de que você é feliz. Eu tenho isso todos os dias! Sou feliz, faço as coisas exatamente do meu jeito, não agrido a intimidade de ninguém. É importante frisar que viver do jeito que você quer não quer dizer sair tocando o dane-se por aí. É realmente conectar-se com o seu eu, não depender da aprovação das outras pessoas. Cada um tem uma frustração, e, às vezes, a observação distorcida de outras pessoas não é necessariamente aquilo que a gente vive. Não vale a pena pegar frustração alheia para nós. O poder da mulher está ligado a isso. Vivemos em uma sociedade que impõe que a gente tenha certos tipos de comportamento, que todas sigam o mesmo padrão, então é importante frisar a conexão com nosso eu. E sentir-se confortável na pele que habitamos.
Em entrevista recente, você falou sobre um caso de assédio que sofreu por parte do namorado de uma amiga. Como você vê esse momento em que as mulheres têm encontrado mais força para denunciar violência?
É importante saber que não estamos sozinhas. Tenho amigas que passam por esse tipo de situação e é realmente difícil colocar na cabeça das pessoas que você pode denunciar. Algumas têm medo, então quando vê personalidades influentes que falam “Vai, denuncia”, elas se sentem mais corajosas. Existe um índice grande de feminicídio e, para acabar com isso, é preciso conscientização, bater nessa tecla sem parar. Se a gente para de falar, vira algo banal, que “ninguém vai dar bola”. É importante que as grandes marcas e a publicidade se posicionem também.
Você fala abertamente de sexo, como na sua nova música Dominatrix. Como vê esse tabu sendo quebrado hoje em dia? Acha que as mulheres estão mais à vontade para falar do assunto?
Acho que temos portas mais abertas hoje em dia para falar sobre isso. Falar desse assunto sempre foi muito natural para mim, desde jovem. Quando iniciei minha vida sexual já tinha lido muito sobre, então acho importante falar disso porque tem quem ainda enxergue como baixaria ou desnecessário. Mas uma das coisas que mais causa frustração no ser humano é a falta de conhecimento do próprio corpo. É importante levar informação, falar de maneira alegre, mostrar que tem um outro mundo que te possibilita conhecer melhor a sua sexualidade, sem ser ignorante, sabe?
Vemos, cada vez mais, a mídia, a publicidade e a moda serem cobradas por trazer mais diversidade. Como você vê essa mudança? Acha que estamos no caminho? E a presença da mulher negra nestes espaços?
Falando de empatia, de forma prática, quando você pensa em outras pessoas, você está se colocando no lugar delas. E tem outro lado: essa minoria, na realidade, é a maioria de pessoas, que consomem produtos, que trabalham e têm dinheiro. Se você não fala com esse público, corre um grande risco de não falar com todo o público e não ter a venda esperada. Se quer vender para todos, tem que falar com todos. E isso que tem acontecido é legal porque mostra uma evolução cultural. Nos sentimos mais à vontade e todo mundo acaba, automaticamente, respeitando as diferenças. São basicamente obrigadas a aceitar as diferenças e entender. Muitas pessoas não gostam, mas acabam aturando. Tudo de maneira leve, feliz e legal, mostrando que todo mundo tem as mesmas sensações e, apesar de sermos diferentes, somos humanos, né?
No Superbonita, do GNT, vejo uma preocupação em trazer diversidade e falar de vários ângulos da mesma pauta. Como funciona isso para você, como apresentadora?
Só permaneço em um lugar em que me sinta à vontade e que eu possa falar da minha realidade, passar a verdade para o público. Minha intenção é sempre contribuir para a cultura, quero ajudar. Quando o GNT me chamou, fiquei feliz. Vi a flexibilidade, a equipe que é maravilhosa, todo mundo trabalha com muita vontade. É um lugar colorido mesmo, um lugar superlegal. Fico feliz de poder contribuir e também aprendo bastante.
Na música Vida que Vale, de seu novo álbum, você fala sobre como seu trabalho inspira outras pessoas. Como é estar nesse papel? Que imagem você quer passar para as mulheres?
Gosto de falar que minha música vem como uma forma de solução. Falo coisas nas minhas canções que é realmente para quem vai ouvir sentir um alívio, de certa forma. A gente vive num caos, então procuro falar de maneira leve sobre assuntos pesados. Gosto de ensinar a leveza, de remover o peso da vida. É uma responsabilidade grande quando você vira influência porque há dois caminhos para escolher: ou você vive como uma influência para nutrir o próprio ego ou você é uma influência para contribuir na vida do próximo. Uma vez que você contribui para o próximo, também está contribuindo para você, e eu prefiro ir nessa linha, sabe? Quando faço música e me apresento no palco vou com muita força, com tudo o que já vivi na minha vida, com meus erros e acertos. Gosto que as pessoas me enxerguem como um ser humano que tem o dom da música, mas que vive as mesmas coisas que todo mundo. Quando as mulheres me veem ali, sempre me falam depois: “Estou me sentindo forte”.
Você é superligada em moda. O que busca na hora de se vestir? Quais são as marcas que mais tem curtido ultimamente?
Gosto muito! Já tem um ano que trabalho com o (designer de moda) Dario Mittmann. Ele faz os looks, desenha de acordo com a minha medida. Nem compro roupa! Tenho um quarto cheio de roupas que ele fez para mim e a gente faz a reciclagem desses looks. Tem look que eu uso em show e depois a gente recorta, faz outra coisa, e uso no dia a dia. É tudo pensado para mim, o que quero mostrar e o que não quero. Tudo é milimetricamente pensado.