Resumida história do jeans: durante a Corrida do Ouro, na Califórnia, mineradores precisavam de roupas fortes e duráveis, então o industrial Levi Strauss inventou calças em tecido rústico, usando toldos de barracas e carroças. O molde veio de uma calça de marinheiro genovês, daí a palavra “jeans”.
A partir de 1930, essas calças começaram a ser usadas em filmes de cowboy. Nos anos 1950, James Dean e Marylin Monroe aderiram, e o jeans tornou-se um símbolo de rebeldia, popularizando-se entre os jovens. Nos anos 1960 e 1970, o movimento hippie consagrou-o. Revolução concluída, o jeans foi adotado pela moda nos anos 1980, com estilistas lançando suas próprias marcas.
O resumo da minha história: nasci com o gene da obediência. Fui uma menina mais calada do que extrovertida, e ser livre virou um ideal. Um dia, ouvi um jingle que definia liberdade como sendo uma calça velha, azul e desbotada. Comprei e não tirei mais do corpo. Na adolescência, só faltava dormir com as calças da Lixo, famosas pela boca pata de elefante. A despeito da marca, eu chamava todas elas de calça Lee em vez de jeans.
Virou peça curinga de pessoas de todas as idades, classes, credos e cruz-credos: é da natureza do jeans, a democracia. Um uniforme que convida à autenticidade: pode-se usá-lo com pedrarias ou rasgões, pérolas no pescoço ou dreadlock no cabelo.
Está nos brechós e nas vitrines da Avenue Montaigne. São tantos os estilos, que buscar o modelo perfeito se tornou um estresse, mas depois de experimentar uns 30 no provador de uma loja de departamentos, a gente acaba dando match com algum (essa sou eu, a que prefere um jeans “zé-ninguém” aos de grife).
Comecei a escrever este texto porque foi em 20 de maio de 1873 que Levi Strauss patenteou o jeans, dando início ao seu bombástico sucesso. Há exatos 150 anos. Achei que cabia o registro em crônica, e estava exatamente aqui, nos parágrafos finais, quando soube da morte de Rita. Foi um flechaço: adeus. Parecia que eu tinha perdido uma amiga íntima. Fiquei sem palavras, abandonei o computador e fui fazer meu luto. Só mais tarde voltei ao texto, perplexa com a coincidência luminosa: Lee.
Minha mais importante Lee. A que me ensinou o que era liberdade para além dos refrões de jingles, a que salvou a menina perdida, procurando se encontrar. Rita me abriu uma porta e chamou, “vem comigo”, e fui com ela bailar, amar, gozar – e nunca mais me calei.
Se tive coragem para ser uma mulher independente, devo à Rita o empurrão e o caimento. Agora é tratar de viver o daqui para frente, sobre o qual sei quase nada, apenas que, mesmo que aos 90 anos, é de jeans que pretendo ser flagrada no final.