Esteja consciente da sua mortalidade. Isso ajudará a enfrentar as paixões e as rejeições que se alternarão durante a vida, e ela será longa – muitos centenários têm assoprado velinhas. Que um dia, claro, serão apagadas para sempre. A partir daí, apenas três ou quatro pessoas sentirão a sua falta. Do excedente, o vento se encarregará.
Dedique-se a essas três ou quatro. Ou cinco, ou oito. Quinze? Muito bem, sortudo, 15. Você tem 15 pessoas essenciais na sua vida. A ver: quem cresceu ao seu lado. Quem te gerou. Quem foi gerado por você. Um grande amor. Ou dois. Um amigo-irmão. Vá fazendo as contas.
São eles que te viram chorar de raiva por ser alvo de uma calúnia, que viram você definhar até encontrar a solução de um problema, que te ajudaram a juntar dinheiro para uma cirurgia, que foram beber contigo quando você saiu devastado de um casamento, que vibraram com a chegada do teu neto, que toparam atravessar o país de moto contigo, que leram teus poemas, que foram te buscar no hospital.
Conhecem você do avesso. Às vezes, zombam das tuas postagens nas redes: “Quem vê, até pensa...”. Avisam quando você paga mico no TikTok. Alertam quando você é indiscreto no Instagram. Te defendem quando você é atacado.
Eles sabem a matéria que te constitui, o que há por trás das tuas costuras. Você não é só um rosto retocado por um filtro e uma opinião para angariar likes: você tem história, traumas, segredos.
Enquanto isso, entram e saem da sua vida centenas de ex-colegas, ex-namorados, ex-vizinhos. Entram e saem amigos novos, amigos de amigos, amigos circunstanciais com quem você pegou uma praia ou dividiu uma pizza – até que eles trocam de cidade, se casam, somem, porque a vida é assim mesmo, bifurca caminhos.
E há os milhares de adoráveis seguidores que aplaudem a foto do teu churrasco e os detestáveis seguidores que não concordam com tua posição política. Quando você deixa um comentário em algum post, surge do nada alguém que te devota o mesmo carinho que à Nossa Senhora, e outro que estraçalha teus argumentos e te manda para aquele lugar.
Todos com tempo sobrando para amar e odiar por impulso, enquanto a saúde mental do planeta vai derretendo.
Passei para lembrar: quem conhece apenas teu nome, teu rosto e tuas opiniões resumidas, não sabe quem você é. As ofensas que dispara merecem cair no vazio. São exercícios de rancor, somente. Da mesma forma, e infelizmente, a adoração de estranhos é um entusiasmo fantasioso (ao menos são generosos e simpáticos).
Do que se conclui: não deprima por bobagem, nem infle seu ego à toa. Paixões e rejeições viraram artifícios. Serão aqueles 15 (ou oito, ou três) que irão validar, com sentimentos reais, a tua existência.