“Como posso explicar para você? Não é fácil acordar do coma.”
Foi assim que Roberto Cazzaniga, jogador de vôlei italiano, começou a revelar os últimos 15 anos da sua vida em um programa de TV. Quinze anos que ele passou apaixonado pela voz que acreditava ser da modelo brasileira Alessandra Ambrósio, e dedicado a ela – a voz. Quinze anos sendo depenado sem dó nem piedade, por uma voz ao celular. Conta final da brincadeira: 700 mil euros, mais ou menos R$ 4,3 milhões.
Não era amor, era cilada.
Mais comum, segundo as estatísticas, é as mulheres serem vítimas do chamado golpe romântico. Algumas são famosas, como a atriz que julgou estar namorando o George Clooney. Quase todo mundo tem uma amiga que caiu na lábia de um conquistador profissional, ou uma parente que, nem aí para os avisos, entregou o que tinha e o que não tinha para um alguém que surgiu do nada.
O soldado que escreve do front porque viu a foto dela no Facebook, o empresário milionário procurando uma noiva, um sheik árabe em busca de uma nova esposa. Nem precisa de muita criatividade. Se até hoje tem gente que cai no conto do bilhete premiado, como resistir a um amor que chega de surpresa em um dia chato?
Amor, aliás, que já serviu até para estragar computador. Há alguns anos, um vírus que tinha por título uma declaração apaixonada chegava por e-mail, e pimba. Não era um príncipe, e sim o técnico de informática que aparecia em casa na sequência.
Roberto, o italiano, começou a cair no golpe em 2007, quando uma amiga – muy amiga! – disse a ele que uma certa Maya, muito bonita, queria falar com ele. Botou os dois em contato pelo celular e, algumas ligações depois, a desconhecida revelou ser a top Alessandra Ambrósio.
A essa altura, um Roberto já muito interessado se apaixonou de vez. Foi quando a falsa Alessandra passou a pedir dinheiro para custear um suposto tratamento para uma doença cardíaca gravíssima. O jogador de vôlei pediu empréstimos para a família, foi aos bancos, vendeu o que tinha para ajudar a amada. Enquanto isso, a verdadeira Alessandra desfilava pelo mundo com o companheiro de tempos, com quem tem dois filhos.
Um dia que o pegou chorando, o irmão de Roberto perguntou, come và, ragazzo? A mulher que eu amo vai morrer se eu não mandar uma quantia tal de euros para a cirurgia, ele respondeu. Mas já não havia o que mandar.
Essa história terminou na delegacia e foi parar no programa de TV, que descobriu que a falsa Alessandra era uma mulher de 50 anos chamada Valéria. Nos 15 anos em que levou Roberto literalmente na conversa, Valéria reformou a casa e criou os filhos. Roberto ainda deve 60 mil euros e os amigos do time de vôlei criaram uma vaquinha para que, conseguindo pagar a dívida, ele enfim consiga seguir em frente. De onde se conclui que amor é como qualquer tipo de investimento, precisa de um mínimo de segurança. Se aparecer um bilhete premiado, e ainda por cima por telefone, desligue e vá ler um romance, que você ganha mais.
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E tem os brilhantes verdadeiros. Dia 8 de dezembro, quarta-feira, um espetáculo com quase 10 anos de sucesso encerra sua carreira no Theatro São Pedro. BR Trans, escrita e interpretada por Silvero Pereira, nasceu da experiência do artista com o universo das pessoas trans e travestis a partir de uma oficina de reinserção que ele desenvolveu no Presídio Central. Ao longo do espetáculo, histórias e relatos de vida se entrelaçam para contar um pouco da realidade do país que mais mata travestis e transexuais no mundo, tudo isso com o talento do Silvero e a participação do músico Rodrigo Apolinário, que faz a trilha da peça ao vivo. Se já é emoção do início ao fim, imagine sendo a última sessão de BR Trans para todo o sempre. Vale muito garantir o lugar. Ingressos à venda na bilheteria do Theatro São Pedro e pela plataforma Sympla.