Esse ministro da educação (a caixa baixa é proposital), Milton Ribeiro. O homem é um equívoco em forma de bigode. Um erro em forma de pastor. E se parecer que essa é uma coluna engraçada, não é. Ela fala de uma tragédia, ideias elitistas e preconceituosas na educação. E isso é triste.
Aos fatos.
Em entrevista que parece um esquete de programa humorístico ruim, o ministro da educação declarou que, no Brasil, a universidade deveria ser para poucos. Na visão do excelentíssimo, o país precisa é de técnicos – e precisa mesmo, mas não por imposição, e sim por escolha. Haveria menos engenheiros trabalhando nos aplicativos, segundo ele, se tivessem feito um curso técnico no lugar de uma faculdade.
Depois de meses de um silêncio que fazia crer que o país nem tinha ministério da educação, seu Ribeiro tirou o bigode para fora porque só agora, 13 meses depois de empossado, descobriu nossos cursos técnicos – criados em 2008. Ficou tão maravilhado que chamou os cursos de “vedetes do futuro”. Virginias Lanes do amanhã. Se depender do ministério dele, o Brasil será uma Alemanha, onde “são poucos os que fazem universidade, universidade deveria ser para poucos nesse sentido de ser útil à sociedade”.
Com esse discurso, o ministro desconsiderou completamente a vontade das pessoas. A vocação. O sonho de entrar na Universidade – que sempre foi tão restrito, quase inacessível para a maioria dos brasileiros antes dos programas de incentivo. Não sei você, mas eu morro chorando cada vez que vejo alguém que veio de uma situação vulnerável conseguir um diploma de Pedagogia, de Biologia, de Medicina. Isso não conta para um ministro da educação?
Porque estava muito inspirado (só que não), Milton Ribeiro também disse que os filhinhos de papai – ele falou isso, não eu – deveriam ocupar as vagas das universidades públicas, já que os impostos dos papais sustentam o país e, por consequência, as universidades públicas. Com um estímulo desses, até dá para entender por que o Enem teve o menor número de inscritos em 14 anos.
Seja como for, a ideia de Ribeiro encontrou apoiadores. Mas então ele deu outra entrevista, e aí ficou difícil alguém defender o bigode ministerial. Para Milton Ribeiro, quando uma criança com deficiência é incluída em salas de aula com alunos sem a mesma condição, ela “atrapalha, entre aspas”, a aprendizagem das outras.
Onde é que esse senhor andou nas últimas décadas para estar tão defasado, tão mal informado, tão obsoleto? E olha que ele é um religioso, líder de alguma igreja por aí. Imagino o que os pais de crianças especiais, que lutam todos os dias pela inclusão dos filhos, devem ter sentido.
Não demorou para o Ministério da Educação lançar a surrada nota de “o ministro se desculpa com todas as pessoas que se sentiram ofendidas”. E já o seu Ribeiro estava metendo os pés pelas mãos novamente, declarando que não se referiu a todas as crianças especiais, só “às que têm um grau de deficiência que tornam a convivência com as outras impossível”.
Impossível é imaginar que o ministro da educação do Brasil seja uma versão sem graça alguma do Justo Veríssimo, o personagem criado por Chico Anysio. Até no bigode os dois se parecem. A diferença é que o personagem do Chico nos fazia rir dos pensamentos e preconceitos de um político desprezível. No caso do ministro Ribeiro, dá vontade mesmo é de chorar.
•••
E mudando para o prazer de estudar, vem aí mais uma Oficina do Subtexto da Cíntia Moscovich. Agora online, os encontros com o talento e carisma da Moscovich têm reunido alunos pelo mundo inteiro. A ideia é estimular a criatividade e trabalhar a criação de contos com o uso de filmes, clipes, séries e muitos outros materiais. Para mais informações e inscrições, é só escrever para oficinasubtexto@gmail.com.