Não acontece de, às vezes, você lembrar de alguma pessoa das ditas “famosas” – um ator ou atriz, um político, um autor –, uma pessoa que está, por qualquer circunstância, ausente da mídia, e não saber se ela continua viva?
Comigo acontece, em geral quando o assunto é um filme de muito tempo atrás, ou um evento não tão recente, ou uma novela que fez sucesso em outra década.
A solução é sempre a mesma, recorrer ao Google. Em certas consultas, é uma surpresa descobrir que sim, a figura decidiu existir longe dos olhos alheios e passa muito bem, obrigada. Em outras, é um choque confirmar que quem fez parte da nossa história não existe mais. Ou existe, porque quem está na nossa história nunca vai desaparecer.
Foi o que senti ao saber da morte do Tarcísio Meira. Tarcísio Meira, não: Tarcísio. Porque o Brasil inteiro sempre teve tanta intimidade com ele que ficaria formal demais falar nome e sobrenome agora. Bastava dizer Tarcísio que todo mundo já sabia de quem se tratava.
O Tarcísio passava a humanidade de quem viveu todos os sentimentos. E, se não fosse assim, não seria o grande ator que foi.
Tarcísio, por quem cada guria, cada mulher, cada senhora um dia suspirou – mas sempre com total respeito, já que elas amavam a companheira dele também. Duvido que alguma se imaginasse tendo um affair clandestino com o Tarcísio, em um quarto de motel com o Tarcísio, em cenas picantes com o Tarcísio. O Tarcísio era outra coisa, era para ver, admirar, até sonhar. Mas os sonhos eram sempre castos, e a Glória Menezes também aparecia neles.
Glória Menezes, não. Glória. Pelos mesmos motivos citados acima sobre o Tarcísio.
Desde a semana passada, fotos do Tarcísio em todas as fases da vida têm circulado pelas redes e jornais, ele lindo em todas.
É provável que até naquela idade em que os meninos não se parecem com nada conhecido, não mais crianças e ainda muito distantes da forma de um adulto, ele tenha sido lindo. Periga não ter sofrido com espinhas, cabelos oleosos, falta de músculos, bordinha de catupiry na cintura, como qualquer pré-adolescente. Será que algum dia penou por um protoamor, uma paixão não correspondida, um engano que o tirou do chão?
Certo que sim. O Tarcísio passava a humanidade de quem viveu todos os sentimentos. E, se não fosse assim, não seria o grande ator que foi.
Tarcísio nos deixou tanto. Nos deixou a Glória, que tem o amor incondicional do país todo. Nos deixou um filho que se parece com ele na aparência e no talento – bota DNA bom nisso. Nos deixou o Irmão Coragem mais bacana, o Renato Villar, o Felipe de Alcântara Pereira Barreto, o Capitão Rodrigo, nos deixou histórias para sempre.
É por isso que ele vai continuar existindo.
Em uma semana de tantas coisas feias, reformas que tiram direitos, convocações estapafúrdias, as cenas do Afeganistão, e de uma perda igualmente sentida como a do grande ator Paulo José, falar no Tarcísio traz um certo consolo.
A arte é boa companhia até na tristeza.