Além de ler, assistir a lives, garimpar podcasts, grudar na TV, trabalhar de casa e em casa, muitos andam se encontrando com seus talentos adormecidos nesses dias – e noites – de reclusão. O que tem de gente postando fotos de suas obras, sejam desenhos, pinturas, vestidos, um canteiro novo para as plantas, uma música, um jeito diferente de arrumar a sala, um bolo, um bordado, um corte novo de cabelo. É como se, finalmente, o “eu” que nunca pôde se mostrar ganhasse uma chance para existir. Ou procuramos as boas coisas, ou estamos fritos.
Campeã no quesito botar para fora, a escrita acaba sendo não só a arte mais exercitada, como a mais maltratada. Anos e anos da linguagem tosca e cheia de abreviações da internet deixaram sequelas em bilhetes de amor, redações escolares e e-mails de apresentação. Haja leitura para reverter isso. E salve as oficinas de escrita, refúgio para a alma e as ideias de amadores – nos dois sentidos, de quem não é profissional e de quem ama escrever.
Sempre no espírito das boas recomendações para aproveitar em casa, hoje a coluna indica a recém-criada Oficina de Pequeníssimas Narrativas de um dos maiores talentos da literatura, Cíntia Moscovich. Escritora, jornalista, patrona da Feira do Livro, colunista aqui da Zero Hora. Sete livros publicados e muitos prêmios na estante, entre eles um Portugal Telecom e um Jabuti. Mais não digo porque os parágrafos são poucos.
Até a pandemia, as oficinas da Cíntia aconteciam na casa azul cheia de lembranças e plantas dividida com o marido Luiz Paulo Faccioli, também escritor, a cusca Esperança e os gatos. A Oficina de Pequeníssimas Narrativas é, como ela define, “Um laboratório online que promete levar os alunos ao universo do micro e do miniconto: formas breves, superbreves e megabreves que voltaram a ter apelo máximo com a pandemia e a necessidade urgente de comunicação enxuta, diversão saudável e humor inteligente.” Sem exigir mais que a vontade de seus pupilos, Cíntia terá a participação de autores representativos do miniconto em suas novas aulas online. Entre eles, estão Marcelino Freire e José Roberto Torero.
Como se sabe, não se vive de literatura no Brasil. Aliás, na nossa atual situação, apenas viver já está de bom tamanho.
Experiência não falta para a autora que teve no escritor Luíz Antônio de Assis Brasil seu grande exemplo. “Eu comecei com o Assis em 95, na Oficina de Criação. Ele me incentivou a fazer o pós e o mestrado na área de criação literária e me incentivou, acima de tudo, a seguir carreira como escritora. Quando eu me dei conta de que era uma loucura trabalhar com ideias num meio retrógrado e reacionário, o Assis me colocou nos eixos. Ele sempre acreditou mais em mim do que eu.”
Como se sabe, não se vive de literatura no Brasil. Aliás, na nossa atual situação, apenas viver já está de bom tamanho. Foi quando o Assis deu o segundo grande conselho para Cíntia: que ela ensinasse a escrever. “Dar aula significa também refletir sobre a escrita, é uma possibilidade de estar junto do que a gente ama. Dar aula é estar perto do material do meu trabalho. Eu preciso e gosto. Gente é coisa muito boa.”
Desde então, a Oficina do Subtexto da Cíntia já formou várias turmas e publicou quatro coletâneas com os textos produzidos em aula. “O que eu mais gosto é quando os alunos ganham o mundo e lançam livros individuais. E uma coisa: não vivo sem rir. Oficineiro meu tem que rir e se acostumar com barbaridades!”.
Nos momentos de graça e quando a vida pesar: escreva. Não passa, mas alivia de um jeito que vou te contar.
Serviço:
Oficina de Pequeníssimas Narrativas com Cíntia Moscovich.
A partir do dia 17 de junho, todas as quartas, às 18h30min. Informações: oficinasubtexto@gmail.com.