Frequentar um restaurante clássico é praticamente um ritual, com a certeza de que nunca seremos surpreendidos. Chegamos sabendo o que pedir, sem a necessidade sequer de abrir o cardápio. E, por mais que às vezes insistimos em ler o menu, não passa de um mero protocolo, servindo apenas para reforçar a certeza de qual prato faz o nosso coração bater mais forte.
Chegar na Lancheria do Parque e pedir o xis coração com uma jarra de suco bem caprichado. Entrar no Gambrinus e, antes de qualquer coisa, pedir o bolinho de bacalhau. Ir na Santo Antônio já pensando nos filés ou, então, chegar no Tuim com a certeza de que o chope estará sempre gelado.
Além de tudo isso, frequentar restaurantes tradicionais é também conhecer a história e reconhecer a identidade da cidade. Afinal, foram eles os responsáveis por construir os nossos parâmetros gastronômicos e por criar as nossas melhores memórias ao redor da mesa.
Mas, afinal, o que realmente faz um lugar se tornar clássico? Para o pesquisador e escritor de gastronomia Rusty Marcellini, quem consagra um restaurante não são os críticos gastronômicos, mas o próprio público. Um clássico tem a ver com a identidade da cidade, precisa ser popular, atendendo às mais variadas classes e idades.
— Um restaurante clássico precisa ser consagrado entre os moradores daquela cidade. É um lugar bem quisto por todos, onde as pessoas se sentem pertencentes e se identificam. São os moradores que defendem aquele lugar — explica.
Esta é exatamente a mesma explicação que André Azevedo Ervalho, proprietário do Tuim, encontra para o sucesso do boteco do Centro Histórico há mais de 80 anos e que, em diversos prêmios, já foi considerado o melhor de Porto Alegre.
— Aqui, o cliente tem que se sentir em casa. Chamamos todo mundo pelo nome, já sabemos o que cada um vai pedir.
Os clientes acabam se tornando uma família e se sentem à vontade em estarem aqui — conta o proprietário.
Isso, segundo André, só acontece porque o dono está com a barriga atrás do balcão todos os dias, ajudando a servir, gerenciando o espaço e conhecendo todos que cruzam pela porta. Ele afirma já ter recebido propostas para transformar o Tuim em uma franquia, mas isso não passa por sua cabeça, afinal, é a convivência diária que fez do clássico boteco um amor dos porto-alegrenses.
Fora do Centro Histórico está outro clássico da cidade, o Tartare. Diferentemente do Tuim, o restaurante de comida alemã não pertence ao grupo dos mais antigos — completará uma década em 2023, mas, com certeza já é um dos queridinhos da Capital.
O proprietário Eduardo Cirne afirma que o segredo do sucesso é o desejo incessante de servir bem e de tornar toda a experiência na casa memorável. E, isso, só é possível graças à equipe que trabalha no restaurante.
— O astral do time é extremamente importante, além de atender o cliente com respeito e educação. Isso é uma coisa que eu não meço esforços para manter diariamente — ressalta.
Antes de abrir o próprio restaurante, desde 1994, Eduardo trabalha em cozinhas e é um entusiasta da gastronomia internacional. O Tartare, além de pratos alemães, oferece clássicos franceses, como o Steak Tartar, além de massas da típica culinária italiana.
Manter a qualidade e o carinho com as receitas da família, como o bolinho de bacalhau da avó e a almôndega do pai, é uma das prioridades no Tuim. Mas, para André, a equipe é um ponto crucial para que todos os outros fatores sejam entregues com êxito ao cliente.
— Os nossos funcionários são como família, o que tem menos tempo de casa está aqui há nove anos. É essencial ter uma equipe que vai fazer aquilo que você, como dono, faria pelo cliente. Que vai tirar o melhor chope, servir o melhor petisco e conversar com sorriso no rosto — afirma André.
Quando questionados sobre as novidades que surgem a todo o momento na cidade, André e Eduardo têm a mesma visão: Porto Alegre tem espaço para todos que priorizam a qualidade.
— Quando trabalhamos com o que gostamos, com amor, sempre dá certo. Fazendo o trabalho direito, todo mundo é colega e acaba contagiando um ao outro — acredita o dono do Tartare.
Ao olhar para o futuro, André não hesita ao dizer que sonha em estar presente nos cem anos do Tuim, continuando a história iniciada por seu pai e mantendo o boteco do jeitinho que ele é: com o dono atendendo atrás do balcão e com as receitas da família.
Não importa se uns estão beirando os cem anos ou outros recém completando uma década, o que todos eles têm em comum é a relação familiar. São autênticos, com alma e com muita história para contar. E, por mais que a gente sempre busque novas experiências, seja onde for, voltar para onde nos sentimos em casa sempre faz o nosso coração bater mais forte.
Vida longa aos clássicos!