Semana passada, comecei a falar de algumas joias da cultura gaúcha. A gente sabe que gaúcho é orgulhoso das suas crias e não nega. Mas acho que falei muito rapidamente de uma das maiores joias, em minha opinião, da nossa cultura, quando o assunto é vinho e poesia: Luís Henrique Zanini.
Não sei se o Zanini é mais enólogo do que poeta. Mais poeta do que enólogo? Ou uma das pessoas mais apaixonadas pelo que faz que já conheci.
Nos conhecemos num almoço, no meu antigo restaurante, o Roberta Sudbrack, há pelo menos uns 12 ou 13 anos.
Jonathan Nossiter, outro defensor ferrenho, como eu, da poesia e do artesanato brasileiro, me apresentou ao Zanini. Poucas semanas depois, num treinamento para a minha equipe, Nossiter abriu um vinho branco e não nos informou do que se tratava, se era do novo, do velho ou do mundo futuro.
Lembro-me como se fosse hoje, a tarde caía no Rio de Janeiro e tínhamos em nossas taças um dos primeiros exemplares do vinho Peverella, Era dos Ventos de Luís Henrique Zanini. Não foi fácil conter a emoção, e eu chorei. Não consegui me controlar diante de tanta sensibilidade.
Naquela época, não eram muitos os restaurantes que se aventuravam a colocar vinhos brasileiros em suas cartas. Era o início de um sonho. Topei o desafio e só tenho lembranças boas da nossa persistência e coragem. Inúmeros foram os clientes estrangeiros que se encantaram com a poesia pura e sem conservantes do Zanini. É verdade que no início era muito mais fácil convencer um estrangeiro do que um cliente brasileiro a experimentar um exemplar da nossa vinicultura.
Mas tive o prazer de assistir à mudança de comportamento e ao interesse pelo produto nacional crescer dia após dia. Coisa que sempre me emociona e me faz chorar.
Zanini também sempre me faz chorar, porque desperta em mim as melhores emoções, e me faz lembrar o poeta Manoel de Barros: “poesia é voar fora da asa”.