Engolir, que verbo é esse? Engolimos sapo, engolimos suco, comida boa sem pressa, fast-food sempre correndo! Quando comemos alguma coisa que nos emociona, engolimos devagar, prestando atenção nos detalhes, na textura, e saboreamos as lembranças que aquilo vai deixar na gente. Quando comemos algo que nos intriga, engolimos com curiosidade, ordenando que a língua faça uma busca detalhada e nos envie relatórios precisos. Quando comemos algo que não nos agrada, aí a história é diferente! Engolimos rápido, sem curiosidade. Engole rápido aí, para esquecer!
Nosso encontro será quinzenal e o fato de ter sido convidada para escrever num jornal da minha terra me causa, além de frio na barriga, uma sensação que me faz lembrar o frango ensopado com polenta da minha avó Iracema. Prato que será eternamente o meu preferido, e que, claro, eu fazia questão de engolir muito devagar e prestando atenção em todas as emoções que ele sempre me causava.
Cada vez que eu engolia um pedacinho daquele frango perfeitamente crocante por fora e ao mesmo tempo macio e delicado por dentro – ou da batatinha quente e encharcada de molho que ela insistia em colocar no ensopado, pouco se lixando para o fato de que a polenta também era um carboidrato –, uma sensação de amor tomava conta do meu corpo inteiro. É assim, que nós, esses seres conhecidos como cozinheiros, gostaríamos que cada pessoa que servimos se sentisse ao engolir tudo que cozinhamos. Mas assim como o que cozinhamos pode agradar ou desagradar, o que escrevemos também.
De qualquer maneira, eu, como uma boa cozinheira, inicio a nossa conversa acreditando e torcendo para que vocês me engulam devagar, com curiosidade, paciência e prestando atenção. Sem julgar demais a cozinheira que se sai melhor na cozinha, mas engoliu com muito carinho o convite para estar aqui, semana sim, semana não, dividindo este prato com vocês...