Foi um momento de inovações, de transformações. Nos anos 1920 do século passado aconteceram a Semana de Arte Moderna; a explosão da indústria de carros; a difusão do rádio; a afirmação do jazz; uma fase dourada na literatura, na pintura, na cultura das grandes capitais. Uma fase de transgressão. O que podemos esperar dos novos anos 20 – em particular na gastronomia? Eu gostaria que os twenties fossem justamente mais sensatos do que loucos. Vou dar alguns exemplos.
A busca pelo ingrediente local, do nosso quintal, é válida, é mais sustentável e deveria mesmo valer para muitos insumos. Mas, opa: se não houvesse intercâmbio, séculos atrás, o feijão não iria da América para a França, que não teria cassoulet; nem o tomate teria saído também do solo americano para virar molho na cucina italiana. Comida também precisa viajar!
A cozinha aberta, as mesas compartilhadas, as experiências coletivas... tudo isso é legal. Porém, alto lá: e se, em certa noite, eu quiser jantar só com minha mulher, sem espectadores (e sem ser plateia), sem precisar ficando olhando para o chef? Também pode, claro.
A prevalência de um estilo, de uma técnica, de um serviço; de um lado só carne, de outro nada de carne; a padronização em nome do “espírito do tempo”. Espera aí: a graça não é justamente variar, arriscar, viajar a partir de um sabor? Eu defendo que sim. E, sintetizando a vivência de duas décadas tratando do tema, percebo que continuo em busca das mesmas coisas: diversidade com qualidade, com alimentos frescos e a expressão do bom-belo-justo num prato de comida. É a minha torcida para os 20’s. E é assim que me despeço desta coluna, depois de quatro anos e meio e mais de uma centena de textos.
Agradeço aos atentos leitores, à Zero Hora e, principalmente, aos queridos Destemperados, sempre comprometidos em tornar a gastronomia mais acessível e instigante.