Em que momento do processo a gente resolveu que só a novidade importa? Parece que para ser bom tem que ser novidade. Fico com um pouco de medo de perceber que de uma hora para outra enchemos os novos bares de cerveja e esquecemos dos botecos de sempre.
Lotamos as pizzarias napolitanas, mas viramos as costas para as tradicionais cantinas. Fazemos fila na porta das parrillas e ignoramos as churrascarias das antigas. Glorificamos hamburguerias artesanais e fazemos de conta que as indefectíveis chapas de xis não existem mais.Vamos deixar que tudo isso se esgote para depois ficarmos lamentando?
Isso me dói horrores. Ainda mais sendo o saudosista que sou. De certa forma, ainda vivo um pouco no passado, talvez por ser conhecido pela minha memória de elefante. Lembro de detalhes que até Deus duvida. Aí, quando começam a pipocar notícias trágicas de casas tradicionais que agonizam com a falta de movimento, as pessoas se mobilizam.
Dois exemplos recentes são o Bar Luiz (o quinto mais antigo do país) e a Quitanda Abronhense, ambos no Rio. Em São Paulo, recentemente, a Mônica Bergamo noticiou o possível fechamento do Bar do Alemão, um cinquentenário da boemia paulistana que também clama por socorro em função dos novos tempos. Neste sentido, é fundamental que a gente entenda a importância de valorizar os clássicos e de possibilitar que a história permaneça sendo contada. Quem não tem passado, não tem futuro.
Vamos tomar mais chope no antigo balcão do boteco do Centro. Comprar pão da padoca da esquina de casa. Prestigiar o pastel de feira. Comer a pipoca da carrocinha do parque. Lembrar que bem antes das grandes redes surgiram grandes pessoas.
O Seu Cláudio atrás do balcão do boteco, a Dona Ana da padoca, a Tia Dercy que vende o pastel, o Carlinhos que faz a melhor pipoca do parque. Sentar numa mesa de plástico antiga e pedir um xis completo com fritas significa muito mais do que a gente imagina. É uma questão cultural.