Olhe bem como são as coisas hoje em dia. A forma como nos relacionamos com a comida. Mudou bastante, deixou de cumprir apenas aquele protocolo de servir como combustível. Ela tem um significado bem maior. Entrar em um restaurante é passar por um portal, para onde a gente se esqueça das dores e lembre apenas das delícias. Fazer compras para cozinhar em casa é se teletransportar para um mundo no qual tudo faz sentido, e só o que importa está ali na frente.
Tem um efeito medicinal, não que seus adeptos estejam precisando de tratamento. Mas porque o mínimo contato já é o suficiente para melhorar nosso estado de espírito. E olha que nem me refiro às questões funcionais da comida, pois dessa forma os reflexos são mais positivos ainda. Talvez, por essas e outras que tenha se tornado um estilo de vida e desgarrado em um crescimento desenfreado.
Essa pauta da alimentação rompeu todas as camadas econômicas e não é mais vista como supérflua nem exclusiva daqueles que têm adega em casa. Virou senso comum, graças ao efeito Masterchef, levando o tema para a TV aberta e fazendo com que os cozinheiros passem a ter um protagonismo semelhante ao dos rockstars.
Só não vê quem não quer a quantidade de receitinhas em vídeo no Facebook ao longo da timeline, a avalanche de fotos de comida no Instagram e a enormidade de séries de gastronomia disponíveis na Netflix.
O mesmo acontece no mercado de trabalho: a primeira opção na hora de empreender é qualquer iniciativa que envolva comida. Pode ser uma pizzaria napolitana, uma pequena casa de assados, um café de bairro, uma hamburgueria que trabalha apenas com aplicativos de delivery. Ou ser chef à domicílio, ter uma kombi que é uma feira ambulante, fazer bolo de pote, produzir cerveja artesanal, fazer redes sociais para restaurantes.
Onde eu quero chegar, caso você ainda não tenha percebido, é que tudo é gastronomia. Seja viajando ou na nossa cidade.
Em casa ou em um restaurante. Sozinho, ou com mais gente envolvida. Para comemorar ou apenas para passar o tempo. Para marcar data ou para simbolizar qualquer coisa. Desde a primeira infância, durante a formação do paladar, até ficar bem velhinho, quando o médico abre aquela exceção pra alguma mania que já não é muito recomendável. Para qualquer que seja a situação, a comida vai ser sempre o melhor remédio. Não conheço alguém que decida sair para jantar, que resolva cozinhar, ou que eleja um delivery aleatório e que não termine mais feliz do que começou.
Não existe. Tem um superpoder terapêutico embutido. Imagino que a lasanha deva ter sido inventada para um pedido de desculpa. E o churrasco, para reunir a família num domingo. O vinho, para despressurizar depois de um dia estressante no trabalho, com uma luz baixinha e uma trilha sonora adequada. Um pedido de casamento sempre vem acompanhado de um brinde com espumante. Junk-food existe para harmonizar com fim de festa. Começar o dia comendo frutas emite para o nosso corpo uma mensagem positiva de autocuidado.
Nesses 12 anos de Destemperados, aprendemos que a gastronomia é a ferramenta mais poderosa para transformar o nosso dia. Existe sempre uma comida pronta para mudar um momento. Cruzar o portal para esse mundo maravilhoso é um caminho sem volta. Sejam todos bem-vindos!