Semana passada, uma amiga minha me disse que ia parar de comer pão porque tinha decidido cortar o glúten. Logo
perguntei:
– Descobriu que é alérgica?
Ela retrucou que não, que achava que ficaria melhor sem glúten, mais leve. Entendi que o objetivo era emagrecer e me senti obrigado a insistir na conversa.
– Mas tens noção do tanto que vais perder na tua vida sem o pão?
– Nem acho que vou perder tanto – disse ela.
Fiquei possuído! Como assim não vai perder tanto? Estamos falando do pão e de todas as maravilhas que ele proporciona. Mais calmo, fiz uma lista com tudo o que ela certamente iria sentir falta e enviei por mensagem. Segue abaixo. Pão na chapa na padoca, o cachorro quente fofinho na festa de criança, o xis bacon na madrugada pós-balada, a torrada com queijo colonial e salame na estrada, o burger de costela com os amigos, a foccacia com sal e alecrim, a potchada com pão no molho de tomate, pão com alho no churrasco, baguete com ovos mexidos no brunch...
Mandei a mensagem e esperei os dois riscos azuis do WhatsApp confirmando o arrependimento. Antes mesmo da leitura, resolvi complementar a lista. Tapas de jamon ibérico, pão com azeite no couvert, pão francês quentinho com requeijão, um croissant com chocolate em uma tarde gorda, as torradinhas com patê de fígado, aquele bagel com salmão defumado e cream cheese, o pão mergulhado no fondue de queijo. Enviar! Mais alguns minutos sem resposta, segui com a lista.
Aquele pão de batata bem fofinho na padaria da esquina, sanduíche de frango no pão sírio, choripan com linguiça no churras da galera do trabalho, pão ciabatta com café, pan au levain com manteiga derretida, pan au chocolat, um bom philly cheese steak, o pudim de pão... E se tudo isso ainda não te convenceu, vou apelar para as rabanadas do Natal. Terminei a mensagem em caixa alta com um pedido: POR FAVOR, NÃO ABANDONE O PÃO. Só consegui dormir naquele dia quando recebi a resposta dela: ok, me convenceu, a vida não teria graça mesmo sem as rabanadas da minha avó.
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* Conteúdo produzido por Diego Fabris