*Texto por Luiz Américo Camargo, crítico gastronômico e autor do livro Pão Nosso
Tenho um ponto de vista peculiar sobre a comida caseira: prefiro comê-la, com o perdão do óbvio, na minha casa. Ou na da minha mãe, ou na de amigos. Quero dizer que, quando saio para almoçar ou jantar, como um cliente/comensal, busco refeições profissionais, sejam elas triviais ou refinadas. Afirmo isso porque vem se formando uma onda de casas que funcionam como restaurantes, e restaurantes que tentam simular casas.
Plataformas como o Gnammo, na Itália; Eatwith, nos EUA; e Dinneer, disponível por aqui, cada qual do seu jeito, vêm atraindo atenção crescente do público. Os motivos são variados. Em tempos de crise, surgem oportunidades para prestar serviços mais baratos, dentro da ideia da economia do compartilhamento. Amadores-quituteiros, assim sendo, abrem suas salas para outras pessoas, servem suas receitas e faturam um dinheirinho.
Isso tem acontecido também com alguns chefs de verdade, que preferem atender em sua própria moradia a ter de arcar com os aluguéis e impostos de um estabelecimento regularizado.
Há quem diga ainda que os restaurantes profissionais, além de caros, andam muito chatos, afetados. E que ir à residência de alguém desconhecido torna-se uma pequena aventura, além de uma chance de fazer novos amigos. Enfim, são questões que misturam o orçamento curto a um quê de tédio com o cenário atual.
Na era do Uber e do AirBnb, é natural que diversas atividades se articulem de novos jeitos. E acho que as comedorias domésticas entram nesse contexto – o mercado mostrará quem é competente ou não. Entretanto, observo com certa distância crítica esse endosso irrefletido da informalidade, em detrimento da cozinha profissional com funcionários e CNPJ. O que é apenas mais barato – às vezes, nem isso – pode não ser necessariamente bom. E, como eu sempre defendo neste espaço, a gente deve buscar o melhor.
No frigir dos ovos, seja numa sala com sofá/TV/cachorro ou num restaurante, cada um que se organize e se divirta como preferir. Se é modismo ou tendência consistente, o tempo vai esclarecer. Da minha parte, reafirmo. Comida caseira, eu como lá em casa.