Lembro sempre das manhãs de 25 de dezembro como o momento em que, ainda com a sala completamente bagunçada, eu revia os brinquedos que havia ganho e revisitava todos os itens da ceia de Natal, um a um. Não sei se porque, passada uma noite, os alimentos, agora dormidos, absorviam maior intensidade de gosto ou se, por já ter passado a ansiedade da véspera de Natal, eu conseguia aproveitar melhor a fina fatia da ave que havia sido servida e os pedaços de panetone partidos com a mão. O fato é que gosto de pensar na ceia fria da manhã do dia 25 como um importante ato (ato mesmo, no sentido teatral) do Natal.
Se quando criança eu gostava de divagar sobre o pós-ceia, hoje, adulta e responsável pelo preparo de parte dos pratos da grande noite, eu posso dizer que me programo para isso. Se na lista do supermercado consta um panetone, eu compro dois. Se fiquei de fazer uma sobremesa, penso logo em duas. Se me prontifiquei a preparar o lombo de porco, já penso em dois molhos para acompanhá-lo. Compro também frutas além da conta e pistaches suficientes para o dobro de pessoas. Tenho medo que um dos itens seja completamente devorado no jantar e nada sobre para a minha grande refeição natalina.
A ceia do dia seguinte não é o resto. Não é puramente o que sobrou do furacão que é a véspera de Natal. Se eu pudesse agora, ao escrever esta coluna, pensar por onde vou começar a manhã do dia 25, eu diria que iniciaria pela salada de frutas, que minha prima ficou de fazer. Depois, eu cortaria um pedaço do tender, especialidade do meu pai. Em seguida, pegaria um pedaço de panetone. Sobrou rabanada? Pode vir. Uns gomos de uva cairiam bem, antes de eu partir para a torta de banana com uma bola de sorvete de creme. Com sorte, ninguém mais teria acordado e eu poderia refazer esses passos no almoço, sem constrangimentos.
Bom Natal!
* Conteúdo produzido por Tatiana Tavares