Ainda tenho na memória o cheiro que vinha da cozinha em uma manhã gelada em Bagé. Uma generosa travessa de arroz de leite quente, ou arroz doce como dizem alguns, era preparada para o almoço, e eu já não conseguia pensar em mais nada. O aroma da canela tomava conta da casa e do coração das pessoas.
Essa sobremesa tão comum virou a minha preferida. E arrisco dizer que ninguém faz ela igual a minha mãe. Talvez até façam, mas ninguém prepara tal prato apenas para mim, e isso não tem preço.
O carinho que se coloca em uma receita quando ela é preparada especialmente para um pessoa é algo que não pode ser descrito em um caderno de receita ou ensinado em um vídeo de YouTube. Mas esse toque certamente diferencia um prato simples de algo extraordinário.
Eu não sei me comportar na frente de um pote de arroz de leite. Admito. Enquanto ele está quente com aquela delicada canela em cima, sigo comendo até o corpo me convidar para um sesta na rede.
É engraçado que, por mais que eu experimente pratos diferentes todos os dias, raramente eu provo o arroz de leite em um restaurante. Afinal, na minha memória afetiva nenhum será tão doce como aquele que é embrulhado em um potinho para eu levar pra casa quando termina o almoço de família.
Você aí certamente tem um doce que também mexe assim com sua cabeça e seu coração. Pode ser um pudim, um pavê, um sagu ou uma torta. Tanto faz. É algo só seu. E é algo que deve ser levado para as próximas gerações. Portanto, tratemos de aprender a fazer estas receitas com as mães, avós, pais, tios e afins para que as futuras gerações ainda tenham essa riqueza emocional que nos foi brindada nesta vida. Até a próxima colherada.
* Conteúdo produzido por Diego Fabris