Seja por preocupação com a saúde, seja pela valorização de aromas e sabores verdadeiros na culinária, o fato é que o consumo de alimentos orgânicos tem aumentado muito, tanto no Brasil, quanto no mundo. Enquanto a grande mídia dá visibilidade ao assunto e as grandes instituições lançam artigos e estudos sobre o tema, as pessoas estão cada vez mais buscando informações sobre os benefícios dos orgânicos e os malefícios que os agrotóxicos podem trazer não só à saúde, como ao meio ambiente.
Além de apurar as cores, os aromas e os sabores característicos de cada alimento - é possível notar a diferença até na hora de cozinhar -, a produção orgânica evita problemas de saúde para quem consome e para quem produz, protege a qualidade da água e do solo e o equilíbrio dos ecossistemas é mantido. Tudo em função do método sustentável de trabalho, sem agrotóxicos, adubos químicos ou substâncias sintéticas. Isso sem contar o incentivo aos pequenos produtores, essencialmente familiares.
Quanto maior o consumo, maior a produção. E o crescimento do mercado é alto. Segundo a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), os 90 mil produtores orgânicos existentes no Brasil (desses, apenas 14 mil são certificados) colocaram o país em uma posição de destaque no setor - está na décima terceira posição em produção e é o quinto em área do mundo.
- O cultivo orgânico é tido por alguns como retrocesso, mas o plantio com processos naturais implica em muito mais envolvimento científico do que o modo convencional - explica Carolina Rigo, uma das sócias do Teia Orgânica, buscador online que mapeia e reúne fornecedores e comerciantes de produtos orgânicos. - Estudar maneiras de evitar as pestes sem usar químicos gera uma relação muito próxima e de entendimento com a natureza.
Com a procura crescente, quem trabalha com esse mercado está se profissionalizando e aumentando a produção. Carolina conta que tem notado um investimento tanto por parte dos produtores, quanto por parte do varejo, com a preocupação em implementar melhorias em fertilização, colheita, lojas e sites. Quando se fala em investimento, porém, vem à tona a polêmica questão de que o preço dos orgânicos é muito superior aos produtos convencionais.
- Em primeiro lugar, o orgânico é igualmente barato em época de safra e, assim como os alimentos convencionais, tende a ser mais caro quando está fora de época, pois precisa ser trazido de outros lugares. Mas, claro, há alguns custos maiores na produção. Um exemplo disso é o trabalho de recuperação do solo que é preciso ser feito antes do plantio, por exemplo, e enquanto isso o produtor está sem trabalhar. E os orgânicos precisam ter uma certificação, que muitas vezes é paga e se torna onerosa. Assim, os custos passam a ser maiores em uma escala produtiva que é baixa - esclarece Carolina.
Para Brunno Ardissone, que, junto com seus pais Fábio e Fátima, comanda a Viver Bem Alimentos na Zona Sul de Porto Alegre, é tudo uma questão de ponto de vista.
- A realidade é que a imensa produção de alimentos convencionais é que diminui os preços. Em um hectare, em função dos agrotóxicos e feritilizantes químicos utilizados, é possível produzir muito do mais do que na mesma área de plantação orgânica. Produzindo muito mais em menos espaço e em menos tempo durante o ano inteiro, é óbvio que os preços são reduzidos _ explica Brunno. - O produto convencional rende mais e barateia o custo. Como os industrializados que adicionam outras substâncias ao produto para que aumente a quantidade.
A Viver Bem Alimentos funciona há cerca de 11 anos e foi para manter a loja que a família Ardissone resolveu estabelecer um sítio de 10 hectares em Viamão.
- Nossa ideia de criar o sítio foi principalmente para criar uma relação de idoneidade e transparência com o consumidor, para que ele soubesse o caminho do alimento até sua mesa, coisa que muitas vezes é difícil encontrar por aí. Lá os orgânicos são produzidos por estação, dependendo do clima, e é vendido na loja e nas feiras fresco. Ao contrário dos convencionais, que podem levar de quatro a cinco dias para chegar ao destino final, e precisam ser colhidos ainda verdes - defende Brunno.
A TEIA ORGÂNICA
O buscador online começou a tomar forma quando Guilherme Soster Santos decidiu, em 2010, que passaria a se alimentar com orgânicos. Na época, porém, a oferta de orgânicos ainda era muito menor. Foi buscando produtores afim de sair um pouco do foco das feiras e para conhecer a procedência dos alimentos que consumia que Guilherme decidiu mapear os produtores para facilitar o processo de compra e, consequentemente, a adoção de uma alimentação saudável. No final de 2013 a ideia foi colocada no papel e em 2014 ele e Carolina Rigo se tornaram sócios no negócio, dividindo o projeto.
- Nesse momento, intensificamos o estudo da cadeia de orgânicos, para dar visibilidade aos produtores e facilitar o processo de compra para o consumidor. A ideia é fortalecer a cadeia produtiva de orgânicos - conta Carolina.
Além da ferramenta de busca, Carolina e Guilherme alimentam um blog que tem como objetivo educar o público sobre o assunto.
A VIVER BEM ALIMENTOS
Comandada por Brunno Ardissone e seus pais, Fábio e Fátima, a Viver Bem Alimentos é destaque na Zona Sul de Porto Alegre há cerca de 10 anos. E para garantir a procedência da maioria dos produtos, logo depois a família instalou um sítio de 10 hectares em Viamão, que produz folhosas como alface, rúcula, brócolis, couve-flor e espinafre, legumes como batata doce e aipim, e frutas como acerola, abacaxi, framboesa e caqui.
- Como os orgânicos são produzidos de acordo com o microclima e a sazonalidade, nem tudo conseguimos produzir no sítio. O que vem de outras cidades do Estado ou do Brasil é comprado diretamente com o produtor, que conhecemos e confiamos - explica Brunno. - Nossos fornecedores são pequenos produtores que se preocupam com bem-estar e a saúde, e o orgânico é a filosofia de vida deles.
Além das frutas, legumes e verduras, o sítio também produz ovos, mel, geleia, pão, bolo, cuca - que fornecem como merenda escolar para aproximadamente 40 escolas de Porto Alegre -, compotas, pastas e molhos, como o de cachorro-quente. Tudo orgânico.
FIQUE ATENTO: A loja realiza feiras duas vezes por semana. Todas as quartas a partir das 15h30 e todos os sábados a partir das 10h.
OS ALIMENTOS MAIS CONTAMINADOS
Em artigo publicado em 2010, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) divulgou os alimentos com o maior número de amostras contaminadas por agrotóxico. Confira abaixo:
Pimentão (91%)
Morango (63,4%)
Pepino (57,4%)
Alface (54,2%)
Cenoura (49,6%)
Abacaxi (32,8%)
Beterraba (32,6%)
Couve (31,9%)
Mamão (30,4%)
Tomate (16,3%)
Laranja (12,2%)
Maçã (8,9%)
Arroz (7,4%)
Feijão (6,5%)
Repolho (6,3%)
Manga (4%)
Cebola (3,1%)
Batata (0%)
ÉPOCA IDEAL
Em época de safra, os alimentos orgânicos estão disponíveis em maior abundância e são mais baratos. Confira abaixo a estação ideal para consumir cada um - os dados são da CEAGESP.
VERÃO
Frutas: Abacate, abacaxi, banana, coco verde, figo, goiaba, limão, maçã nacional, maracujá, melão amarelo, melancia e uva.
Legumes: Batata, cebola, tomate, quiabo.
Verduras: Alface, repolho roxo.
OUTONO
Frutas: Abacate, banana, caqui, maçã nacional.
Legumes: Batata doce, berinjela, chuchu.
Verduras: Agrião, espinafre, rúcula.
INVERNO
Frutas: Caqui, laranja, maçã estrangeira, morango, bergamota.
Legumes: Batata doce, pimentão, inhame, aipim.
Verduras: Agrião, brócolis, couve-flor, couve.
PRIMAVERA
Frutas: Banana, coco verde, laranja, maçã estrangeira, mamão, manga, melão amarelo, melancia, pêssego.
Legumes: Abobrinha, beterraba, cebola, cenoura, tomate.
Verduras: Brócolis, espinafre, rúcula.
ONDE ENCONTRAR
Com a maior demanda por produtos orgânicos, serviços de delivery começaram a aparecer na internet. Confira abaixo algumas opções em Porto Alegre:
Quitanda Virtual
(51) 9988-0294
Empório do Bem
(51) 9900-2333
CestaFeira
(51) 9505-2807
* Conteúdo produzido por Juliana Palma