Há muitos anos frequento o Centro de Porto Alegre em busca de comidas boas. Meu pai trabalhou na Av. Borges de Medeiros durante muito tempo. Semanalmente saíamos pelo Centro, desbravando bares, restaurantes e padarias para almoçar ou fazer um lanche.
Conheci algumas coisas inesquecíveis: boas maioneses, bufês com muitas opções, farroupilhas acompanhados de uma xícara de café com leite. Ou cafés em copos americanos que queimavam os dedos. Carrego comigo vários desses lugares — principalmente aqueles que me serviram com sorriso no rosto apesar da correria do dia a dia.
Sempre gostei muito do Mercado Público. A construção, inaugurada em 1869, carrega um peso imaterial para a cidade. Não falo só da ligação religiosa ou da memória afetiva de cada um. Mas também da importância para a gastronomia da Capital. Do restaurante centenário, do sushi clássico, dos açougues, das padarias — que visitava com meu pai —, das peixarias, das bancas.
No início dessa semana, visitamos o Rincón 74, a primeira parrilla do local. No segundo andar do mercado, todo renovado e movimentado, o restaurante parece ter sido feito para aquele espaço. Portas grandes, pé direito alto, janelas com vista para a prefeitura e para as ruas sempre em movimento. O ambiente vive entre a sofisticação e a descontração. Perfeito para um almoço no intervalo do trabalho ou um jantar mais requintado.
O fogo é dominado por um chef argentino e um chef uruguaio, que se revezam em turnos. Acredito muito que é uma medida tomada para que não discutam qual o melhor assador. E nem precisa, né? Sabemos que é do gaúcho.
Mas vamos ao que interessa: a comida. Logo de cara recebemos os pães da casa (R$ 9,50 a unidade), que acompanham manteiga e patê de fígado. Ainda como entradas, provamos o queijo parrillero (R$ 32) e o matambre enrolado (R$ 47). O queijo chegou borbulhando na mesa, e o matambre era muito bem recheado com cenoura, queijo e especiarias.
Logo fomos apresentados para uma das estrelas da casa. Engana-se quem pensa que foi um pedaço de carne — elas logos aparecerão aí na frente, pode ficar tranquilo —. O Arroz 74 (R$ 39) é quase uma releitura do nosso carreteiro: cubos de carne de porco, pimentões coloridos, tomate, salsinha e azeitonas pretas. Era picante e temperado na medida certa. A porção é grande, então pode acompanhar todos os preparos, do início ao fim.
Em seguida, pedimos as carnes e fomos também na indicação do garçom — que era muito atencioso, diga-se de passagem —. A linguiça do Alegrete (R$ 36), o entrecôte Black Angus (R$ 69), a Pamplona (R$ 49) e o carré de cordeiro (R$ 78) foram as nossas escolhas. Todas as carnes acompanham legumes assados ou batatas da casa.
A qualidade do entrecôte é indiscutível. A carne era macia e saborosa. A linguiça era bem forte, e vai muito bem com o chimichurri da casa, que é bem apimentado. Recheado com bacon, queijo e pimentões, a Pamplona tem um sabor acentuado de porco. Vale pra quem adora um assado que extrapole as carnes de gado.
Fechamos o banquete com três sobremesas clássicas. Uma fatia de Chajá, a torta mais popular do Uruguai, com pão de ló, chantilly, pêssegos em calda e, obviamente, doce de leite. Panquecas recheadas de doce de leite cremoso com uma bola de sorvete de creme e calda de caramelo por cima.
Por fim, a minha preferida: base de caramelo, abacaxi grelhado, doce de leite, sorvete de creme e paçoca por cima. Pelo pouco que pude entender do sotaque do chef argentino, a sobremesa era inspirada em uma preparada por sua mãe.
Não provamos as mollejas, uma iguaria típica Argentina, um desejo fervoroso do meu pai. Mas pudemos provar um pouco da cultura do assado dos nossos vizinhos, que também construiu parte da nossa cultura. É até difícil imaginar que o Mercado Público da Capital Mundial do Churrasco não tinha um fogo ardente para brasear uma carne. Que bom que o Rincón chegou!
RINCÓN 74
Endereço: no Mercado Público (Largo Jorn. Glênio Péres), no Centro Histórico
Horário de funcionamento: de terça a sexta, das 11h às 22h. Sábados, domingos e segundas, das 11h às 17h30.
Fone: (51) 98285-8051
@rincon74poa