Explicamos cinco tendências que surgiram na produção do vinho brasileiro nos últimos tempos, como o uso de novas uvas, madeiras diferentes e outros tipos de cortes.
RETORNO DAS RIESLING
Na época da vindima, ao passear pelo Vale dos Vinhedos e seus arredores, percebi que pequenas e grandes vinícolas estavam trazendo a uva riesling em seus produtos varietais. Com origem no nordeste italiano, essa variedade sempre foi produzida na Serra, resultando em rótulos frutados e de consumo breve. Mas, até então, era utilizada em cortes de espumantes e de vinhos brancos.
A aposta tem a ver com o histórico da casta na região. Andrei Bellé, enólogo e diretor da Garbo Enologia Criativa, explica que a riesling já foi a uva de maior qualidade cultivada nos anos 1980.
— O retorno do mercado está sendo bem positivo, com boa aceitação do consumidor. Nosso vinho com riesling tem aromas de frutas tropicais, é floral, uma característica típica da variedade, além de cítrico. Essas potencialidades estão relacionadas com a maturação da uva, uma fruta bem madura para produzir o vinho — finaliza.
CARVALHO ALTERNATIVO
Quando se começou a falar sobre o uso de chips de madeira no processo de produção do vinho (adicionar pedaços de madeira na etapa de maturação, no lugar do uso da barrica), recebemos uma série de críticas. Mas, aos poucos, algumas dúvidas foram sendo esclarecidas. Hoje em dia, não existe tanta resistência.
— O uso de carvalho alternativo é uma forma interessante de dar complexidade, estrutura e longevidade ao produto. Não é o mesmo que usar barrica, mas, pensando no resultado final, funciona como um recurso — explica Andrei Bellé.
Lucas Foppa, enólogo e diretor da Tenuta Foppa & Ambrosi, ressalta que o carvalho alternativo é uma possibilidade de podermos dosar a quantidade de madeira utilizada.
— Os chips de carvalho permitem que controlemos o tamanho da madeira que se conecta com o vinho, assim como o tempo que se quer manter o contato, absorvendo seus benefícios sensoriais. Por exemplo, pedaços menores passarão mais nuances em menos tempo, e vice-versa. No começo da nossa caminhada, usávamos chips em função de termos vinhos jovens, poucos recursos e nenhuma barrica que não fosse nova — avalia.
VARIEDADES NOVAS E CORTES DE UVAS
A gente sabe que o consumo e a produção de vinho no Brasil estão aumentando. Não à toa, o mercado está em desenvolvimento e já percebeu que jovens consumidores gostam de novidades. Beber sempre o mesmo rótulo não é uma opção, o que importa agora é descobrir aromas e sabores.
É claro que clássicos cortes, como o bordalês, que leva cabernet sauvignon, merlot e cabernet franc, nunca vão deixar de existir, assim como os vinhos ícones e as tradicionais regiões produtoras do mundo. Mas a nova geração está dando espaço para a criação e o teste de novos produtos.
— É um caminho de muita recompensa para os novos produtores, por termos essa liberdade. Mas entendemos a propriedade de cada variedade, como foi o caso do Inquieto, um corte de merlot com sauvignon blanc.
O merlot entra com a estrutura, com tanino aveludado e elegante, enquanto o sauvignon blanc entra com o frescor. O uso de variedades novas também nos agrada. Hoje, trabalhamos com arneis, pouco conhecida, mas com boa aceitação entre os curiosos — conta Andrei Bellé.
Lucas Foppa conta que a aposta em novas variedades, como alvarinho e touriga nacional, deram muito certo no terroir gaúcho e também no mercado local.
— Nós vamos seguir apresentando novas variedades, como teroldego, syrah e outras que não são tão comuns na Serra. Mas sempre olhando para esses dois potenciais: terroir e mercado. Outra coisa que fizemos e deu muito certo foram os cortes de safras. Dessa forma, estamos conseguindo mais regularidade de estilo de vinhos e assinatura — conta.
Com o Lote Frighetto, vinho de minha autoria, não foi diferente, acompanhando a tendência de mercado e também estudando a sensação que os aromas proporcionam, surgiu o corte entre moscato bianco e cabernet franc — variedade aromática com uma tradicional. Foi a maneira que encontrei de levar mais aromas e muita cultura para a taça dos consumidores de vinho, principalmente dos jovens.
UM OLHAR ALÉM DO CARVALHO
Não é uma ação contra o carvalho francês ou americano, mas existe um movimento de buscar novos aromas, novas propriedades, além de novas experiências para os consumidores.
A cachaça foi a bebida pioneira em testar outras madeiras, como amburana, acácia e jequitibá. A partir daí o interesse para testes no vinho também surgiu.
Logo que os imigrantes italianos chegaram ao Brasil, não era possível importar carvalho para armazenar a bebida. Assim, o barril de grápia, que tinha características similares, tanto na porosidade quanto na maleabilidade da madeira, apareceu como opção. Hoje em dia, é pouco utilizado, mas ainda segue como uma alternativa para as vinícolas.
Novos enólogos apostam em madeiras diferentes, por isso, já é possível encontrar no mercado produtos que utilizam acácia e jequitibá nacionais trabalhadas em barricas de 225 litros, trazendo ainda mais aromas e complexidade às bebidas.
SELOS DE ORIGEM E DE PROCEDÊNCIA
Nosso país é continental, temos muitos locais para explorar. Buscar novas regiões, distinções de terroir, variedades típicas do solo e do clima são cada vez mais importantes. A prova disso é o aumento de selos de Indicação de Procedência e de Denominação de Origem — comprovação de que os rótulos levam consigo características dos locais onde foram produzidos.
Vale dos Vinhedos e Altos de Pinto Bandeira, no Rio Grande do Sul, já receberam a Denominação de Origem, cada uma com suas peculiaridades. A Campanha Gaúcha conta com o selo de Indicação de Procedência e, em breve, deve avançar o título. Assim como o Vale da Uva Goethe, em Santa Catarina, a cidade de Farroupilha, com a uva moscato, e o Vale de São Francisco, na Bahia, que estão se estruturando para receber a distinção.