O mundo do vinho sempre foi predominantemente masculino. Durante a antiguidade, as mulheres eram proibidas de desfrutar o gosto de uma boa taça porque se acreditava que o vinho dificultaria a procriação e facilitaria o adultério, veja só.
Mesmo com famílias inteiras trabalhando no campo e nas cantinas, o papel feminino sempre ficou escondido. Mas, ao longo dos anos, tivemos grandes mulheres que enfrentaram o preconceito, foram corajosas e acreditaram nas suas escolhas para que hoje todas nós possamos beber uma boa taça - e eu consiga trabalhar no meio com muito orgulho.
Teve a grande dama Barbe-Nicole Clicquot, a viúva mais famosa do mundo do vinho, mundialmente conhecida pelas suas garrafas de champanhe de rótulo laranja. Antes de tudo, ela precisou “fugir” do convento de Reims, alvo de ataque durante a Revolução Francesa. Depois, em uma época que limitava as mulheres a uma vida exclusivamente reprodutiva, casou-se e logo ficou viúva, e assim virou a viúva Clicquot - ou, no francês, Veuve Clicquot.
Ela não só ignorou as convenções sociais, como elevou o champanhe a outro patamar no mundo todo. Enviou navios cheios do seu espumante para a Rússia, com risco de quebra e apreensão, em plena proibição dos czares aos vinhos franceses. E não só isso: criou um produto tão bom que o próprio czar Alexandre I declarou que não tomaria nenhum outro champanhe que não fosse Veuve Clicquot.
Já a portuguesa Filipa Pato colocou a sua região, a Bairrada, no mapa, e as variedades de uva Bical e baga na boca dos consumidores com seu espumante 3B. Ela valorizou seu terroir, as uvas autóctones de Portugal, com personalidade e maestria.
São apenas dois dos inúmeros exemplos históricos de força e coragem. Hoje, Regina Vanderline é a primeira brasileira presidente da Organização Internacional da Vinha e do Vinho. Antes de qualquer homem, é ela que está mostrando ao mundo tudo o que existe de bom no nosso país como produtor.
E a Vinícola gaúcha Campos de Cima? Criada e desenvolvida por três mulheres que comandam desde a produção até a comercialização dos vinhos, um projeto incrível e de muito bom gosto.
O que seria do setor se não existisse o “remouage”, a limpeza do espumante desenvolvido por Barbe-Nicole? E como toda a percepção que temos desse universo seria diferente sem a Jancis Robinson, a master of wine, crítica de vinhos, dona da adega da rainha Elizabeth II e autora do Atlas Mundial do Vinho?
Ainda bem que essas e outras mulheres tão inspiradoras existiram, existem e seguem batalhando pelo mundo do vinho.
Obrigada, Barbe! Obrigada, Filipa! Obrigada, Regina! Obrigada, Hortênsia e gurias! Obrigada e mais obrigada a todas!