As dores e as delícias da adolescência são o fio condutor de A Vida pela Frente, série nacional que estreia cinco de seus 10 episódios nesta quinta-feira (22) no Globoplay — a outra metade será disponibilizada em 6 de julho. A produção é dirigida por Bruno Safadi e pela atriz Leandra Leal, que ainda interpreta uma das personagens e assina a criação ao lado de Rita Toledo e Carol Benjamin, suas amigas de infância e sócias na Daza Filmes, produtora da série.
A trama aborda o processo de entrada na vida adulta — com todos os dilemas comuns ao período — a partir das histórias vividas por um grupo de seis amigos durante o último ano escolar: Beta (Flora Camolese), Cadé (Jaffar Bambirra), Marina (Muse Maya), Vicente (Henrique Barreira), JP (Lourenço Dantas) e Liz (Nina Tomsic). Os enredos que marcam as trajetórias dos personagens são inspirados no que as próprias criadoras viveram, embora não seja uma obra biográfica, como explica Leandra:
— Não tem uma coisa de "fulana é a Liz, beltrana é a Beta". Não há um espelho nesse sentido, mas a história se passa, sim, na nossa adolescência, é inspirada em coisas que a gente viveu, que a gente viu e que a gente ouviu falar quando era adolescente. É uma série que fala com muita crueza dessa fase disruptiva, incrível e constituinte do ser humano, mas não é feita só para adolescentes.
As criadoras acreditam que o seriado, apesar de apresentar uma trama jovem, vai atrair espectadores de diferentes idades, sobretudo por conta dos temas abordados. Questões como saúde mental, responsabilidade afetiva, descoberta da sexualidade, abuso de drogas e desigualdade racial estão no centro da trama de A Vida pela Frente, assumidamente influenciada por produções como a norte-americana Minha Vida de Cão, que fez sucesso na década de 1990 justamente por abordar a adolescência de forma crua, sem tanto romantismo.
Nesse sentido, A Vida pela Frente deve seguir a fórmula. A série tem ainda o processo de luto como questão central, graças à morte trágica e precoce de uma das personagens principais. O evento afeta a vida de todos os adolescentes do grupo, que, apesar de traumatizados e imersos em um sentimento de culpa, precisam encontrar maneiras de seguir as próprias vidas — daí o título do seriado.
Com a trama alinhada às experiências das criadoras, a questão do luto traça um paralelo com a história de Leandra, que perdeu o pai, o advogado Júlio Brás, quando tinha apenas 11 anos.
— É muito difícil você aceitar isso na adolescência — comenta a artista. — É um período no qual você tem a crença de que tudo é eterno, pois a morte não passa pela sua cabeça. Quando ela chega, é uma espécie de entrada forçada na vida adulta. E todas nós (criadoras) vivemos essa experiência em diferentes níveis, então queríamos muito falar sobre isso.
— A própria adolescência é um momento de luto — completa Carol. — Há um luto por quem você era até então e pelo modo como você se entendia no mundo, em uma passagem para o que você vai se transformar.
Apesar da dureza dos temas, A Vida pela Frente promete entregar também momentos de alívio cômico e remexer na memória afetiva de quem já saiu da adolescência há alguns anos. A história é ambientada na virada de 1999 para 2000, período em que as criadoras estavam se despedindo desta fase da vida, e traz elementos cênicos da época, easter eggs da cultura pop e canções emblemáticas na trilha sonora.
Há clássicos como Sonífera Ilha, dos Titãs; Primavera, do grupo Los Hermanos; Beija-Flor, da Timbalada; Nobre Vagabundo, de Daniela Mercury; e Creep, do Radiohead. Também foram selecionados para a obra, entre outras músicas que marcaram época, hits de Rita Lee como Desculpe o Auê, na voz da roqueira, e Lança Perfume, cantada por Letrux, que integra o elenco da série como a mãe da personagem Marina (Muse Maya).
Quem também representa a maternidade na trama é Leandra Leal, que além de se dividir na direção e criação da série, interpreta Tereza, a mãe superprotetora de Liz (Nina Tomsic). Nos bastidores, a questão maternal ganhou nuances novas: Leandra realizou o sonho de dirigir a mãe, a também atriz Ângela Leal, que volta às telas como a avó do personagem de Jaffar Bambirra.
— Foi muito importante ter a minha mãe com a gente, porque, além de minha mãe, ela é a Tia Ângela para as meninas — pontua Leandra. — Eu realmente realizei o sonho de não só contracenar com a minha mãe, mas também dirigi-la. Dei check em muitos anos de análise com isso — diverte-se.
O sentimento de estar realizando um sonho com A Vida pela Frente é comum a todas as criadoras. Leandra, Rita e Carol planejavam tirar o projeto do papel há pelo menos uma década, em razão de uma paixão comum pelas questões que atravessam o período da vida retratado na produção.
— A gente compartilha histórias e o entendimento de que a adolescência é um momento essencial para a vida das pessoas — explica Rita. — Sempre fomos apaixonadas pelo tema e sempre planejamos produzir algo sobre isso.
Leandra completa:
— Como atriz, eu sempre vivi realizando os sonhos das outras pessoas, mas e os meus sonhos? Foi muito lindo agora poder ver uma equipe inteira realizando um sonho que é nosso. Essa série é muito especial para a gente, e eu espero que as pessoas gostem.