Um dos programas de maior sucesso da TV brasileira está de volta. Passados mais de 15 anos desde a exibição do último episódio, o Linha Direta retorna à grade da Globo na noite desta quinta-feira (4) repaginado, com novo formato e um novo apresentador, Pedro Bial.
O programa de reconstituição de crimes estreou em 1990, com um curto período de exibição, e viveu seu auge na segunda fase, que foi ao ar entre os anos de 1999 e 2007. Tanto crimes já resolvidos, mas que marcaram o país, quanto casos em aberto eram abordados na atração.
O Linha Direta contava com uma central telefônica disponível 24 horas por dia para receber denúncias. A partir de 2000, o programa também passou a contar com uma página na Internet e um endereço de e-mail. Entre 1999 e 2007, a atração ajudou a polícia a capturar mais de 400 foragidos, conforme o Memória Globo.
O engajamento do público era tão grande que algumas denúncias resultavam em prisão antes mesmo de um episódio sobre o caso ir ao ar, pois fotos de procurados eram exibidas nas chamadas. A prisão mais rápida da história da atração aconteceu menos de uma hora depois de uma foto ser mostrada no programa.
A popularidade também chegou até as penitenciárias brasileiras. Segundo o Memória Globo, no presídio Aníbal Bruno, em Recife, três bandidos presos após denúncias do Linha Direta foram apelidados de “Linha Direta 1, 2 e 3". Havia também casos de foragidos que se entregavam ao saberem que seus crimes seriam abordados no sucesso da TV brasileira, no intuito de furar a exibição.
Abaixo, GZH relembra alguns dos casos mais marcantes do Linha Direta.
Edifício Joelma
O caso mais célebre foi o do Edifício Joelma, localizado na região da Praça da Bandeira, em São Paulo. O programa reconstituiu o incêndio ocorrido no prédio em 1974, quando 189 pessoas morreram e outras 345 ficaram feridas. O episódio foi exibido em 2005 e registrou a maior audiência da história do Linha Direta.
Além de recontar a tragédia que abalou o país, o programa recuperou outros eventos trágicos que também ocorreram no terreno do edifício. A narrativa denotava que o local poderia ser mal-assombrado.
Entre os casos anteriores recuperados pelo Linha Direta está o do professor Paulo Camargo, que em 1948 matou a mãe e as duas irmãs na casa que ocupava o terreno onde futuramente seria erguido o Joelma. Ele enterrou as três em um poço que havia construído no quintal e, depois, cometeu suicídio. Para completar, o bombeiro que encontrou os corpos morreu de infecção cadavérica.
Já na década de 1980, após do incêndio do Joelma, um filme foi produzido sobre a tragédia. Ao Linha Direta, elenco e equipe técnica relataram acontecimentos estranhos durante as gravações, como o som de gemidos de dor e gritos de desespero, aumentando ainda mais os rumores sobre alguma espécie de maldição persistir no local.
Máscaras de Chumbo
Outro episódio que deixou o público arrepiado foi o intitulado Máscaras de Chumbo, exibido em 1990. O programa reconstituiu um caso ocorrido em agosto de 1966, quando dois homens foram encontrados mortos no alto do Morro do Vintém, em Niterói, supostamente após manterem contato com extraterrestre.
Os corpos foram localizados sem marcas de tiros ou de facadas, mas com máscaras de chumbo. Junto a eles havia um bilhete que dizia: "16,30hs está no local determinado. 18,30hs ingerir cápsula, após efeito proteger metais aguardar sinal máscara".
O caso nunca foi resolvido, tampouco foi descoberta a causa da morte. Isso levou muitas pessoas a acreditarem que eles possam ter sido vítimas de extraterrestres, hipótese que ganhou mais força quando uma dona de casa disse ter passado de carro nas proximidades do Morro do Vintém e visto uma luz muito forte vinda do céu.
Em 2004, o caso foi abordado novamente pelo Linha Direta, que trouxe novidades. Na segunda exibição, autoridades revelaram que a causa da morte dos dois homens não foi descoberta por negligência, já que a necropsia não chegou a ser realizada. As vísceras de Miguel José Viana e Manuel Pereira da Cruz apodreceram no IML.
Até hoje há perguntas sem respostas: o que os homens, que eram de Campos, foram fazer no Morro do Vintém, em Niterói? Que tipo de cápsula ingeriram? O que era a luz vista pela dona de casa? O que causou a morte deles?
Sequestro de Wellington Camargo
Um dos episódios de maior repercussão foi o que abordou o sequestro de Wellington Camargo, irmão da então dupla Zezé di Camargo e Luciano. O crime teve início em 16 de dezembro de 1998, em Goiânia, quando o rapaz foi capturado por homens armados.
Os criminosos pediram a quantia de cinco milhões de dólares para o resgate e chegaram a cortar parte da orelha esquerda da vítima, a fim de pressionar a família. O órgão foi enviado a uma sucursal do SBT em Goiânia, junto a um bilhete exigindo agilidade no pagamento do resgate. Wellington foi liberado em 21 de março de 1999, após o pagamento de 300 mil dólares aos sequestradores.
O Linha Direta entrevistou a vítima com exclusividade, além de familiares e alguns dos sequestradores. Eles contaram por que Wellington foi escolhido, como o torturaram e revelaram detalhes das negociações com Zezé. Confessaram também o porquê de terem cortado a orelha da vítima.
Algumas autoridades policiais responsáveis pelo caso também foram entrevistadas no programa. Os telespectadores puderam, ainda, ouvir as conversas entre os criminosos e a família de Wellington, em gravações disponibilizadas pela polícia.
No total, 23 pessoas ligadas ao sequestro foram presas. Dois criminosos ainda estavam foragidos, e o Linha Direta exibiu suas fotografias para que o público pudesse ligar e oferecer pistas.
Vampiro
Exibido em 2000, o caso do criminoso conhecido como "Vampiro" se tornou célebre na história do Linha Direta. O programa abordou os crimes cometidos por Marcelo Costa de Andrade na década de 1960, período em que matou 14 meninos, todos com idade entre 5 e 13 anos.
Depois de assassiná-los, o criminoso mantinha relações sexuais com os cadáveres dos garotos. Ele também lambia o sangue que escorria das vítimas, o que fez com que recebesse a alcunha de “Vampiro”.
O Linha Direta mostrou que Andrade fazia parte de uma seita e acreditava que, ao se relacionar com os cadáveres e lamber o sangue deles, absorveria a juventude dos meninos que matava. Já a opção por assassinar crianças era fruto da crença de que elas estariam livres de pecados.
O criminoso foi preso em 1969 e encaminhado para um manicômio judiciário, diagnosticado com encefalopatia, uma complicação de doenças hepáticas que pode desencadear perturbação da função cerebral. Ele fugiu da instituição em 1991. O Linha Direta abriu canal para envio de informações sobre o paradeiro dele e recebeu cerca de 500 denúncias — o maior número registrado na história do programa para um mesmo caso.
Os Crimes da Rua do Arvoredo
Um clássico de terror gaúcho também teve vez no Linha Direta. Em 2006, o programa remontou os chamados “crimes da Rua do Arvoredo”. Diz a história que, em 1864, a polícia de Porto Alegre foi ao porão da casa de José Ramos e Catharina Palse, na Rua do Arvoredo (atual Fernando Machado, no centro da Capital), e encontrou restos de um corpo humano em avançado estado de decomposição. O cadáver havia tido cabeça e membros separados do tronco. Este, por sua vez, teria sido repartido em vários pedaços.
A vítima seria o alemão Carlos Claussner, dono de um açougue nas proximidades. Claussner seria sócio do casal em um esquema de produção de linguiças feitas de carne humana, com as vítimas dos assassinatos cometidos por Ramos e Catharina.
Ao examinar um poço desativado nos fundos da casa dos dois, a polícia encontrou ainda partes dos corpos do taverneiro Januário Martins Ramos da Silva e do seu caixeiro, José Ignacio de Souza Ávila, de 14 anos, além dos restos mortais de um cachorrinho.
Não se sabe se o agravante da produção de linguiça com carne humana é verdadeiro, mas o caso figura como a mais célebre lenda urbana da capital gaúcha. No Linha Direta, a história foi contada com a ajuda de depoimentos dos escritores gaúchos Moacyr Scliar (1937-2011), David Coimbra (1962-2022) e João Gilberto Noll (1946-2017).