A polícia segue investigando a morte do ator Jeff Machado, encontrado dentro de um baú concretado a dois metros de profundidade, no bairro Campo Grande, no Rio de Janeiro. O artista era conhecido por uma pequena participação na novela Reis, da Record.
Jeff estava desaparecido desde janeiro. Ao jornal O Globo, o advogado da família do ator, Jairo Magalhães, disse que a principal linha de investigação aponta para um homem que se apresentava como amigo de Machado e que teria alugado a casa onde o corpo foi encontrado.
O terreno pertence a uma mulher, que já foi ouvida na Delegacia de Descoberta de Paradeiros (DPPA), e contou que alugou o espaço para um homem. A polícia já tem a identificação do suspeito, conforme o jornal. A proprietária disse que não conhecida Machado. O ator morava em outro endereço, no bairro Guaratiba, também na Zona Oeste.
A causa, as circunstâncias e a motivação da morte ainda não foram esclarecidas pela investigação. O corpo foi encontrado em avançado estágio de decomposição e a identificação foi feita por meio das digitais.
O que se sabe sobre a morte de Jeff Machado
Pistas no corpo
A DDPA encontrou Machado morto na segunda-feira (22). Conforme o g1, a equipe que foi para o local fazer a remoção do corpo era composta por nove homens: dois operando uma britadeira, dois policiais civis se revezando com picaretas e pás e cinco homens da Defesa Civil.
Segundo o advogado da família, o corpo estava com um fio de metal em volta do pescoço e em posição fetal. Não havia nenhuma outra marca de violência no cadáver, em primeira análise, segundo ele.
— O corpo foi encontrado dentro do baú, com as mãos amarradas e com esse fio de metal, algo que lembra um cabo de aço, em volta do pescoço. Esse detalhe leva a crer que ele foi alvo de um estrangulamento, mas ainda aguardamos o laudo com a causa da morte — contou.
Ele afirmou ainda que uma espécie de líquido teria sido passado no corpo do ator, que os policiais acreditam que possa ser algo para tentar minimizar o cheiro de decomposição.
— Algum líquido foi passado no corpo do Jefferson. Isso visivelmente era percebido nas fotos tiradas do corpo — disse o advogado.
Os restos mortais do ator estavam dentro de um baú que pertencia a Machado e foi retirado de sua casa, o que levou a polícia a concluir que o ator não foi morto no local onde foi encontrado. O objeto aparece em fotos publicadas nas redes sociais do artista.
— Ele não foi morto onde foi encontrado. Isso a investigação da polícia já concluiu. Esse baú, inclusive, saiu da casa dele. Tudo indica, pelas investigações, que o Jefferson foi morto na residência dele — afirmou Jairo Magalhães ao portal Splash, do UOL.
Abandono dos cães alertou autoridades
Foi por meio de seus cães que Machado teve o desaparecimento notificado. Ele era dono de animais da raça setter, que eram chipados e foram encontrados em situação de abandono em diferentes bairros da zona oeste do Rio de Janeiro. Todos eles tinham nomes de ídolos da MPB.
Conforme o g1, o primeiro cachorro foi localizado em 30 de janeiro, abandonado pelas ruas de Santa Cruz. Uma moradora então entrou em contato com a ONG Indefesos.
Nos dias posteriores, mais quatro cães apareceram, o que despertou a desconfiança sobre o "despejo" de setters em Santa Cruz. Como a raça é mais restrita no Brasil, os criadores costumam usar chips de identificação em seus animais, o que permitiu identificar o dono.
Em um primeiro momento, ele passou a ser procurado pela ONG para pegar os bichos e ser responsabilizado pelo abandono. Nesse período, uma pessoa entrou em contato com a organização, passando-se pelo tutor, dizendo que estava viajando e que tinha deixado os cães com uma amiga, mas que eles fugiram.
Paralelamente, a ONG pesquisou as redes sociais do ator e constatou que ele tinha oito cães da raça. Começou então uma verdadeira operação de resgate para tentar localizar os animais restantes. No total, seis foram recuperados — uma, Rita Lee, foi encontrada morta por atropelamento, e outro, Gilberto Gil, nunca foi encontrado.
A ONG então contatou a família de Machado, que já estava suspeitando de que havia algo errado com o ator.
Farsante se passou pelo ator
Em entrevista ao ND+, a mãe do artista afirmou que, a partir de 29 de janeiro, ela passou a estranhar as mensagens trocadas com o filho pelo WhatsApp.
— Ele escreveu que passou em Aparecida, rezou e ficou no apartamento dessa amiga. Contou que foi trabalhar no outro dia e se apresentou. O pessoal gostou da sugestão que ele deu. Falou também que deixou o celular cair no vaso e, por isso, não estava conseguindo fazer chamada de vídeo. Tudo se justificando — detalhou a mãe de Machado, ressaltando que o filho e ela tinham o hábito de fazer chamadas por vídeo.
Além disso, em março deste ano, a família descobriu que a senha do serviço de nuvem (onde se armazena arquivos virtualmente) do celular do ator foi alterada e a localização por GPS foi desabilitada. As mudanças foram feitas em 7 de fevereiro, 11 dias após a família formalizar o registro de desaparecimento na Polícia Civil.
Parentes não acreditam que essas mudanças foram feitas pelo ator. Entre os familiares, na época, cresceu a desconfiança de que ele havia sido vítima de um golpe e que poderia estar em poder de uma ou mais pessoas conhecidas dele.
Suspeita de golpe
Para a amiga de infância de Machado, a esteticista Cintia Hilsendeger, o ator foi vítima de um golpe, já que pertences como celular e notebook não foram encontrados na residência dele. Ela ainda revelou que um homem que fez amizade com o ator e se apresentou como assistente de produção teria cobrado R$ 20 mil dele para conseguir um papel em uma novela. Conforme novas novelas eram lançadas e ele não era chamado, desconfiou da situação e chegou a confrontar o homem, que sempre inventava desculpas.
— O Jeff estava preocupado e chateado, achou que a pessoa era de confiança, mas disse que soube de pessoas que foram vítimas dessa mesma equipe. A gente acredita que a morte dele foi por conta disso, porque ele falou que ia colocar a boca no mundo. No fim, o Jeff pediu o dinheiro de volta e recebeu apenas R$ 2 mil. Ele não tinha noção de que eram estelionatos, porque ele achava que o cara estava apaixonadinho por ele — afirmou Cintia.
Uma reportagem do Fantástico revelou que o nome do principal suspeito é Bruno de Souza Rodrigues e que ele trabalhou na Globo até 2018, quando foi demitido. Segundo o advogado da família, Rodrigues estava com os cartões de Machado e foram realizadas movimentações bancárias mesmo após o desaparecimento dele, somando R$ 5 mil.
Além disso, o amigo foi quem registrou o desaparecimento do ator na delegacia. Ele estava com chaves da casa dele e alegou que Machado as havia deixado com ele pois tinha ido a São Paulo para um trabalho. Ela ainda havia sublocado a casa onde o corpo de Machado foi encontrado.
Segundo Magalhães, uma operação de busca e apreensão chegou a ser realizada na casa de um suspeito, mas nada foi encontrado. A polícia acredita que ao menos três pessoas participaram do crime.
Causa da morte
O laudo da necropsia de Machado foi inconclusivo. A causa da morte não pôde ser determinada por conta do avançado estado de decomposição do corpo. Segundo o documento, os restos mortais estavam em estado de mumificação.
Ainda de acordo com o laudo, havia marca de estrangulamento no corpo, com afundamento do pescoço. O fato de o ator ter sido encontrado com um pano na boca e um cordão de telefone em volta do pescoço corroboram para a hipótese de asfixia. Não foram encontrados outros sinais de violência no corpo.
Sem a determinação da causa da morte, o corpo de Machado precisou ser levado de carro, por segurança, até Araranguá (SC), cidade natal do ator, onde ele foi sepultado em 27 de maio. Amigos e familiares participaram da despedida e uma missa com corpo presente foi transmitida no perfil oficial do ator no Instagram.