Entre os muitos amigos que lamentam a perda de Jô Sores, morto nesta sexta-feira (5), aos 84 anos, está o gaúcho Lupicínio Rodrigues Filho, herdeiro do poeta, cantor e compositor Lupicínio Rodrigues. Lupinho, como é conhecido, conta que aproximou-se de Jô Soares durante um espetáculo que o multiartista veio apresentar em Porto Alegre há algumas décadas. A partir daí, construíram uma amizade duradoura.
— Eu conheci o Jô há bastante tempo. Não consigo precisar a data exata porque já estou adiante nos meus 60 anos, mas sempre tínhamos oportunidade de nos telefonar e nos encontrar quando ele vinha a Porto Alegre ou quando eu ia ao Rio ou a São Paulo. A gente sempre dava um jeito de se ver — lembra Lupinho.
Segundo ele, nos últimos anos o amigo havia perdido um pouco da energia contagiante pela qual tornou-se conhecido do público brasileiro. Vivia ainda o luto pela morte do filho Rafael, que faleceu em outubro de 2014, vítima de um câncer no cérebro. Mas apesar da dor, nunca deixou de ser amável.
— Ele estava muito deprimido com a perda do filho, não estava vivendo mais o seu conteúdo exponencial. O Jô sempre foi uma pessoa muito espontânea em tudo o que fazia, mas acho que a perda do filho trouxe um desenlaço muito grande para ele — conta o gaúcho.
Um dos momentos mais marcantes da amizade dos dois foi a participação de Lupinho no Programa do Jô, na ocasião do centenário de Lupicínio Rodrigues. O programa homenageou a obra do artista, autor, entre inúmeras canções, também do hino do Grêmio.
E foi justamente o cântico do time gaúcho o responsável por um dos pontos altos da participação de Lupinho na atração. Foi tudo coincidência, ele garante, mas no dia de sua entrevista, dezenas de gremistas estavam sentados na plateia, engrossando o coro do hino tricolor e causando espanto em Jô Soares, que também desconhecia a presença dos torcedores no estúdio.
— Não foi nada combinado. Nunca tivemos a pretensão de levar uma plateia gremista, até porque a entrevista seria sobre a vida e a obra do pai, não sobre o Grêmio. Mas, para a nossa surpresa, quando adentramos no programa, tinha lá mais da metade do teatro lotado de gremistas. Aí cantei o hino do Grêmio, uma criação do pai que segue sob a égide da família, e foi uma loucura, porque trouxe esse momento espontâneo da manifestação dos gremistas longe da nossa cidade e um abraço à obra do pai — relembra.
Lupinho conta que Jô Soares era um grande apreciador da obra de Lupicínio Rodrigues, tema frequente das conversas entre os dois. Era, aliás, admirador e exímio conhecedor da arte de modo geral — algo que, na visão o amigo, fazia dele um ser de intelecto incomparável.
Para ele, porém, ainda que a obra deixada por Jô Soares seja indiscutível, seu maior legado é traduzido pelos sorrisos que despertou e o afeto que transmitiu a quem teve a oportunidade de conhecê-lo de perto:
— Ele nos deixa uma lição de vida muito grande sobre o sorriso e alma alegre, deixa um texto grandioso, maior do que ele, a sua intelectualidade e a sua afetuosidade em receber um amigo e dar o beijo que era a sua marca. Ele está no lugar onde os imortais estão.