Você sabia que Lupicínio Rodrigues era um meia bem "mais ou menos" que demonstrava suas raras habilidades nos campinhos que existiam entre as décadas de 1920 e 1940 na área da antiga Ilhota, onde hoje fica o Ginásio Tesourinha?
O compositor mais idolatrado dos gaúchos já usou seus calções curtos até acima do umbigo e uma chuteira com peso de chumbo vestindo a camiseta dos times do Lagarto e do Ferreira. Em algum dia deste período deve ter batido bola com Tesourinha no campo da Rua Arlindo, hoje parte da Avenida Erico Verissimo.
Essa versão esportiva do sambista você pode encontrar no Almanaque do Lupi: um livro com nervos de aço, sangue nas veias e no coração, que o jornalista e pesquisador Marcello Campos lança às 19h desta quinta-feira, dia 26, na biblioteca do Centro Municipal de Cultura Lupicínio Rodrigues.
O livro é a mais completa obra sobre a vida do compositor. Entre boemia, musas inspiradoras, paixões dilacerantes e um cancioneiro vasto, o almanaque fartamente ilustrado também avança sobre as razões de o craque da dor-de-cotovelo ter-se tornado gremista em meio a uma família de colorados.
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Campos recupera uma crônica publicada em 1963 no antigo jornal Última Hora, precursor de Zero Hora, em que o próprio Lupi fala de sua mágoa pelo fato de o Inter, um clube do povo, ter supostamente barrado a participação do time Rio-grandense na Liga de Futebol Porto Alegre, a primeira divisão da Capital na época. O pai de Lupi, Francisco Rodrigues, era o presidente do tal Rio-grandense, que havia disputado a Liga da Canela Preta.
Portanto, Lupi tinha todos os ingredientes quando lhe pediram para compor o hino do Grêmio em 1953. Ele encontrou o mote no dia em que o seu time enfrentou o Cruzeiro, pelo campeonato da cidade. Era jogo na Baixada, conta Campos: "... uma greve deflagrada dias antes pelos motoristas, motorneiros e cobradores de ônibus e bondes da Carris, Soul e Teresópolis ameaçava dificultar o acesso à Baixada, no bairro Moinhos de Vento, última sede antes do Olímpico". Lupi prometeu: "Criarei algo que há de levantar as multidões esportivas". E criou.
No dia 16 de agosto de 1953, os alto-falantes da Baixada pela primeira vez tocaram o hino gravado na Rádio Farroupilha: "Até a pé nós iremos, para o que der e vier...". Batizada de Marcha do Cinquentenário, logo tomou o lugar de um antigo hino, a Marcha de Guerra, de 10 anos antes, mas nem tão atraente.
Foi a forma de o autor de Se Acaso Você Chegasse e meia-direita de calção no umbigo imortalizar sua paixão pelo futebol.
O quê: lançamento do Almanaque do Lupi, de Marcello Campos, Editora da Cidade/SMC, 2015
Quando: dia 26 de março, às 19h
Local: biblioteca pública do Centro Municipal de Cultura Lupicínio Rodrigues, Avenida Erico Verissimo 307, perto da Ipiranga