Assumir a própria sexualidade não é fácil, mesmo em meados do século 21. Ainda hoje, pessoas LGBTQIA+ enfrentam preconceito, olhares de julgamento e, em alguns casos, até mesmo a violência, pelo simples direito de viver e amar como quiserem.
Se em 2022 é assim, imagine como era nos anos 1940? Naquela época, homossexualidade era considerada uma doença, que só em 1990 foi retirada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) da Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde (CID). No Brasil, até 1999, o Conselho Federal de Psicologia ainda considerava a homossexualidade um distúrbio mental.
Por tudo isso, o personagem Leopoldo, de Além da Ilusão, enfrenta barreiras ainda mais desafiadoras do que se vivesse nos dias atuais.
Em sua estreia na TV, o gaúcho Michel Blois, 38 anos, natural de Rio Grande, conta sobre a importância do papel, não só em sua carreira, mas como um alerta para o público em geral. Confira o bate-papo!
Como surgiu o convite para entrar na trama das 18h?
Há tempos, estava batendo na trave para fazer novela. Em algumas produções, eu caí. Em outras, a novela caiu inteira, como O Selvagem da Ópera e Malhação – Transformação (ambas canceladas pela Globo). Quando o produtor de elenco Fabio Zambroni me ligou fazendo o convite, resolvi guardar em segredo até que eu começasse a gravar. Tinha medo de me frustrar com mais uma queda. Mas, desta vez, aconteceu! É um prazer enorme estrear na TV com um personagem tão rico, como o Leopoldo, escrito lindamente por Alessandra Poggi.
Você já sabia desde o início sobre a polêmica da sexualidade de Leopoldo?
Sim. Isso teria que ser a base da construção dele. Um ressentido, um ranzinza com o mundo, porque não consegue ser quem realmente é. Quando o convite foi feito, já recebi os capítulos com todas as cenas dele. Eu já tenho uma história com início, meio e fim.
Como foi a sua pesquisa sobre homossexualidade na década de 1940? O que mais o impressionou ao ir atrás desse assunto?
Embora ser gay não seja um crime desde o Império, pesquisei sobre amparos legais que uma pessoa gay nos anos 1940 teria e não achei nada. E ainda era visto como transtorno mental. Ou seja, a sociedade, além de marginalizar, torturava a comunidade gay.
O que você tem em comum com o Leopoldo no que diz respeito aos medos e receios?
Cresci achando que era errado ser gay, me culpava por sentir isso desde pequeno. Era como se eu não tivesse direito de existência. A cada passo que dava, tinha um olhar crítico para conferir se eu estava permanecendo na heteronormatividade ou se tinha dado alguma pinta. Uma sociedade controlando meu corpo, meus desejos, minha liberdade, minhas vontades. Só consegui romper com isso na vida adulta, quando me permiti amar livremente.
O que o público pode esperar dos próximos capítulos, com a chegada de um par romântico para Leopoldo?
Leopoldo já deu um passo importante, que é confiar seu segredo aos amigos Arminda (Caroline Dallarosa) e Inácio (Ricky Tavares). Mas a chegada de Plínio (Nikolas Antunes) não o liberta para o amor tão facilmente. Há muito sofrimento. Romper a barreira da autoaceitação demanda muita coragem, coisa que Leopoldo não tem ainda porque, para isso acontecer, terá que brigar com seu bem mais valioso, a família.