O final do "atraco" começou. A Netflix lança, nesta sexta-feira (3), a primeira leva de episódios da quinta e última parte de La Casa de Papel, série espanhola que se tornou um fenômeno cultural mundo afora — popularizando a máscara de Salvador Dalí, o macacão vermelho, as incontáveis frases de efeito proferidas pelos personagens e a clássica música italiana antifascista Bella Ciao — e que até ajudou com geografia, dando nomes de cidades aos personagens.
Boa parte do mérito deste sucesso, obviamente, é de Álex Pina, a mente por trás da produção e que conseguiu inserir elementos na série que acabaram tornando-a memorável, independentemente da sua qualidade narrativa. Porém, a sua popularização mundial se deve, principalmente, à força do streaming de levar para todos os cantos do planeta um programa que dificilmente deixaria a sua terra natal por meios convencionais.
Produzida originalmente para o canal espanhol Antena 3 como uma minissérie de 15 episódios, a atração teve os seus direitos adquiridos pela Netflix, que editou os capítulos e transformou-os em 22. O sucesso foi instantâneo. A partir disso, a empresa passou a produzir as demais fases do seriado, aumentando significativamente o seu orçamento e transformando-o em um produto altamente rentável fora das telas, com os mais diversos licenciamentos, de camisetas a material escolar.
Para render novas histórias, o assalto à Casa da Moeda da Espanha, que deixou os seus participantes milionários, teve seguimento com outro: ao Banco Central da Espanha. Aumentou, assim, a escala e, com isso, os planos do Professor precisaram ficar ainda mais mirabolantes. Consequentemente, os dramas e conflitos dos personagens envolvidos também se intensificaram, principalmente após o final da quarta parte, quando tudo parecia perdido. Os novos episódios partem daí.
Ação grandiosa...
O encerramento da Parte 4 de La Casa de Papel, em abril do ano passado, mostrou que o assalto ao Banco Central não estava nada bem, uma vez que os planos do Professor estavam enfrentando dificuldades. Para completar, bem no finalzinho, o mentor ainda é capturado pela implacável inspetora Alicia Sierra (Najwa Nimri), que, afastada da polícia, quer limpar o seu nome.
Atenção: o texto abaixo contém spoilers!
GZH teve acesso a dois dos cinco episódios que compõem o Volume 1 — serão dois volumes — da Parte 5 de La Casa de Papel. Neles, é possível ver que, ao contrário de como o Professor lidou com Raquel Murillo (Itziar Ituño), puxando-a para o lado dos "atracadores" e transformando-a em Lisboa, Sierra não pretende — pelo menos, não por enquanto — facilitar as coisas para os assaltantes.
A partir disso, a série entrega, provavelmente, o seu momento mais delicado em relação aos protagonistas, mostrando que a arquitetura de todo o plano está desabando e que ninguém está a salvo. Quando a inteligência acaba, resta apelar para a bala. Com isso, as cenas de ação ganham destaque nos primeiros capítulos. Fica nítido aí o investimento pesado para gerar momentos de altíssima qualidade na série, trazendo tensão e um ritmo frenético para o programa.
As sequências de tiroteio não devem nada para blockbusters de Hollywood. Mas a série não para por aí, entregando ainda explosões bem realizadas e colocando em cena armas curiosas, como um lança-chamas e até mesmo uma empilhadeira equipada com escudos e uma metralhadora. Nos poucos conflitos físicos nos dois primeiros episódios, a coreografia dos atores e dublês também está bem satisfatória e ajuda na imersão. Tudo bem filmado e visualmente impecável.
... E dramas ainda maiores
Porém, mesmo investindo pesado nos momentos de ação, a trama de La Casa de Papel gira em torno dos dramas dos personagens. Desde sua primeira temporada, a série se utiliza dos rocambolescos planos do Professor como pano de fundo para colocar em evidência os sentimentos e relações entre cada uma das pessoas envolvidas nos assaltos.
Assim, no meio dos maiores roubos da história, Tóquio (Úrsula Corberó) e seus colegas deixam o profissionalismo de lado constantemente para discutir, ter crises de ciúmes, trair, brigar por motivos supérfluos e, até mesmo, namorar. E não apenas entre eles, mas também com os reféns. Não importa se o relógio está contra eles, sempre sobra tempo para um bom e velho conflito (ou amasso) que poderia ser facilmente resolvido depois do trabalho ser concluído. Apesar de exigir muita suspensão da descrença, esse é o charme da série. É uma novela que se passa no meio de um assalto elaboradíssimo.
Obviamente, estes elementos estão de volta na quinta parte do programa. E, como se não bastassem todos os conflitos entre os ladrões que estão no Banco Central e também entre os personagens que estão do lado de fora, a série ainda inclui novos rostos que, apesar de ainda não terem tido muito espaço, no decorrer dos episódios, também devem ter o propósito de aumentar o drama: um antigo namorado de Tóquio vivido por Miguel Ángel Silvestre e o filho de Berlim (Pedro Alonso), que os produtores nitidamente se arrependeram de matar e, por isso, insistem em trazê-lo sempre em flashbacks, dando a ele mais tempo de tela do que para diversos dos vivos — e é compreensível, o personagem é ótimo.
La Casa de Papel, então, volta para o seu ano derradeiro intensificando os elementos que fizeram com que ela fosse um sucesso, apostando em ação de qualidade, mas sem deixar de lado o drama de novela mexicana de que os fãs tanto gostam — e tem também Arturito (Enrique Arce), de quem certamente ninguém gosta, mas segue lá testando a paciência dos personagens e da audiência.
O último volume da atração, também com cinco episódios, estreia em 3 de dezembro.