Um ano e meio. Este foi o tempo que a equipe de Nos Tempos do Imperador aguardou para colocar a trama no ar. Isso sem contar a fase de pré-produção e as primeiras gravações antes da pandemia. A nova novela das seis estava prevista para estrear em março de 2020. O coronavírus mudou os planos, forçou a criação de novos protocolos e inventou novas formas de fazer televisão. Enfim, foi ao ar ontem o tão esperado primeiro capítulo da saga de D. Pedro II (Selton Mello). E valeu muito a pena esperar.
A direção artística de Vinicius Coimbra, com belas tomadas aéreas e cenas de tirar o fôlego — o que foi aquele incêndio no canavial, minha gente? Arrepiei! — a fotografia impecável que reconstruiu o século 19 com perfeição e, é claro, um elenco de primeira.
Uma curiosidade: as imagens aéreas foram feitas pelo ator e produtor Max Fercondini, piloto profissional há 14 anos.
Selton Mello na pele do último imperador do Brasil, falou pouco, mas resumiu com perfeição uma época que poderia ser aquela, em meados de 1850, ou a nossa, já no século 21. Palmas para o texto atemporal de Thereza Falcão e Alessandro Marson, que ganhou ainda mais peso na voz grave de Selton:
"O Brasil nunca se renderá a um ditador. Nunca. Os filhos desse país cuidarão dele, para sempre. Podem até tombar algumas vezes, mas vão se levantar, em nome do Brasil, em nome da liberdade. E eles são muitos. Nascem a cada dia, dispostos a lutar pelo Brasil. E eu, general, mesmo depois de morto, viverei em cada um deles".
Com pouco texto, mas um olhar arrebatador e muita presença cênica, Mariana Ximenes foi o nome do primeiro capítulo. Já pode-se prever que sua Condessa de Barral será uma personagem amada pelo público. Outra personagem feminina apaixonante é Pilar (Gabriela Medvedovski), uma jovem que sonha em ser a primeira médica mulher do país. A química com Michel Gomes (Jorge) já se mostrou arrebatadora.
Na contramão das mocinhas heroicas, o personagem de Alexandre Nero mostrou que veio para causar os piores sentimentos no telespectador. Tonico é odioso desde as primeiras falas e nada tira dele o posto de grande vilão da novela.
Saudosismo
Com o frescor da novidade, mas um pé no saudosismo, Nos Tempos do Imperador resgata a história de sucesso iniciada em Novo Mundo (2017). Foi lindo ver a cena do nascimento de Pedro II e matar a saudade de Leopoldina (Letícia Colin) e Pedro I (Caio Castro), que apesar de não terem participado da criação do filho, deixaram um legado de amor pelo país que ajudaram a construir.
A nova trama das 18h é o começo de uma retomada à teledramaturgia 100% inédita. Apesar de ser uma novela de época, Nos Tempos do Imperador não cheira a mofo ou a coisa antiga, pelo contrário. Tem o odor da esperança e da reconstrução da nossa teledramaturgia, ainda que com todos os cuidados e restrições