O final de Novo Mundo (2017), novela que foi reexibida em edição especial em 2020, mudou um pouco o destino de personagens históricos. A trama terminou com Leopoldina (Leticia Colin) feliz ao lado de seu amado Pedro I (Caio Castro).
A imperatriz, na verdade, teve um fim precoce e trágico, humilhada com as traições do marido. Mas, como na ficção tudo é possível, os autores Alessandro Marson e Thereza Falcão optaram por dar um final feliz ao casal real.
Dom Pedro I e Leopoldina não tiveram tempo de ver o que o Brasil se tornaria. Mas deixaram aqui a semente da esperança: um pequeno de sangue real. Pedro de Alcântara João Carlos Leopoldo Salvador Bibiano Francisco Xavier de Paula Leocádio Miguel Gabriel Rafael Gonzaga de Bragança e Bourbon ficou órfão de mãe com apenas um ano. Aos cinco, herdou um país com a abdicação de Dom Pedro I. Aos sete, sofreu ainda a perda do pai. Diante da insatisfação popular, Dom Pedro II assumiu como imperador do Brasil aos 14 anos. Mas tudo isso, você já sabe das aulas de História.
Agora, de volta à liberdade da ficção, a dupla de autores retoma o fio da meada de Novo Mundo para contar um pouco sobre a fase adulta de Dom Pedro II, a partir de 1856, com a estreia hoje de Nos Tempos do Imperador (RBS TV, 18h25min), a primeira novela 100% inédita desde o início da pandemia.
Selton: "Me identifico com esse cara"
Como intérprete deste controverso personagem, Selton Mello volta às novelas, depois de 22 anos, com a difícil missão de encarnar um dos grandes nomes da História do Brasil.
Foi o próprio ator quem pediu o papel, sem medo de comparações, já que embora seja tão célebre, Pedro II não foi retratado no audiovisual tantas vezes como seu pai.
– É um personagem que eu lia e ficava muito encafifado sobre o que ele estaria pensando ao dizer ou viver certas coisas. Li várias biografias, e é muito interessante que essas obras não têm respostas para muitas coisas. A Thereza e o Alessandro (autores) seguiram também essa pegada de levantar mais perguntas do que respostas, o que eu acho muito interessante, pois cumpre o papel da arte, que é levar entretenimento e reflexão, favorecendo a imaginação do expectador e a curiosidade histórica – comenta Selton, que destaca:
– Eu tô fazendo um Dom Pedro II possível, usando minha sensibilidade, meu não conhecimento. Tô muito emocionado, porque comecei criança e, em algum lugar, me identifico com esse cara.
A Imperatriz
Ao lado de um grande homem, reinava uma mulher de fibra. Leticia Sabatella dá vida à imperatriz Teresa Cristina, que entrou para a história injustamente como uma mulher apagada e sem voz. A atriz defende sua personagem:
– Teresa Cristina foi a última imperatriz, ela sofreu com o fim do Império, com esse confisco da imagem do Dom Pedro II e dela. Uma pessoa que estudava Arqueologia, que se responsabilizava pela escavação de sítios arqueológicos importantes e tinha uma coleção dentro do museu, lia, tentava se aproximar do povo, gostava de artes... Como ela pode ser tratada como alguém ignorante? A Teresa Cristina foi realmente apaixonada pelo Brasil.
A amante
Pedro II casou-se sem conhecer a futura esposa, como era costume na época. Portanto, não é surpresa que a união tenha passado longe de uma história de amor. Mas seu coração foi de uma mulher só, e esta não era Teresa Cristina.
Quem virou a cabeça do imperador foi Luísa, a Condessa de Barral, interpretada por Mariana Ximenes. Além de amante de Pedro II, a bela marcou sua época com ideias progressistas.
– A Condessa foi uma mulher muito forte. Tinha traços muito contemporâneos: delicadeza, gentileza, mas, sobretudo, firmeza. Ela foi uma abolicionista e tinha uma relação linda com os negros. No engenho dela, todos eram livres – conta Mariana.
Sonhos e paixão
O casal Pilar (Gabriela Medvedovski) e Jorge (Michel Gomes) tem uma história de muitas idas e vindas em Nos Tempos do Imperador. Na trama, os dois enfrentam o preconceito das pessoas, que não aceitam o envolvimento de uma jovem branca com um rapaz negro e ex-escravizado.
Tempos depois, em um dos términos, Pilar viaja para cursar Medicina e desiste de se casar. Ela quer ser médica, mas vive em uma sociedade que não aceita que mulheres estudem. Já Jorge, que precisa adotar a identidade de Samuel para se manter livre, sonha com um mundo mais igualitário.
– Acho que a Pilar, de alguma maneira, simboliza um pouco de cada mulher que lutou para ser escutada e que abriu os caminhos para estarmos aqui hoje – reflete a atriz gaúcha.
No caminho do par, além dos preconceitos sociais e raciais, está um vilão. Prometido em casamento a Pilar, Tonico (Alexandre Nero) fará de tudo para tirar Jorge/Samuel do caminho.
Refúgio de luta e liberdade
A nova trama das seis resgata ainda uma parte da história que muita gente não conhece. Um dos cenários mais importantes será a Pequena África, lar de negros libertos após a proibição do tráfico escravagista em 1831. A abolição ainda era um sonho, mas foi nessa comunidade, na zona portuária do Rio de Janeiro, que os ex-cativos começaram a viver com mais dignidade.
A atriz Dani Ornellas interpreta Cândida, rainha da Pequena África. Ela destaca a importância da representatividade para a comunidade afro-brasileira, além de ser fundamental ensinar um outro lado da história.
– Onde está essa história? Por que eu não cresci ouvindo e lendo isso? Para mim, a Cândida é a oportunidade de dar voz a histórias que são minhas e que não foram contadas para mim – ressalta.